O Quarto 411

  • Temas: amor, fantasia, fetiche, bdsm, bondage, venda
  • Publicado em: 21/11/25
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  • Autoria: vicente_braga
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Sara abriu o blog tentando fingir que era só curiosidade. Não era. Nem lembrava como tinha conhecido aquele lugar. Só sabia que voltava. E voltava.

O computador ofegava debaixo da mesa, prestes a pedir socorro. O modem chiou. Conectou. Domingo depois do meio-dia era assim. Pulso único, internet barata o dia todo. Bons tempos.

No quintal, a gordura estalava na grelha. Risadas altas, latas abrindo, e o padrasto pedindo cerveja como se fosse dono do mundo. Ótimo, estavam todos ocupados.

Enquanto o site carregava, abriu a janela do quarto. O suor descia pelo pescoço, a saia curta colava nas coxas. Quente demais.

— Eba. Conto novo.

Cada frase parecia calibrada. Cada pausa também.

Com a ponta dos dedos, puxou o tecido para o lado. Os dedos escorregaram.

— Ahnn… — acharam o ponto certo.

Olhou para o guarda-roupa com um riso malicioso. Um amigo bem conhecido estava ali, quieto.

— Não. Ainda é muito cedo pra você.

Lá fora, gritos, gargalhadas, latas abrindo. Perfeito.

O texto virava sussurro. Fechou os olhos. O chicote cortou o ar.

— Tire a calcinha…

O tecido correu pelas coxas úmidas e a mão voltou ao lugar.

Ele estava ali. Atrás dela. Observando enquanto seu corpo arqueava, oferecido. Punhos presos. Olhos vendados. As tiras de couro só roçaram a pele e o corpo dela reagiu.

— O relatório deveria estar na minha mesa até às onze.

— Me desculpa, meu senhor… eu não…

A porta abriu. Sem aviso.

Ela fechou as pernas tão rápido que a cadeira rangeu. A mão voou para o teclado. O monitor ainda com a página.

— Tia Sara! Olha o que eu ganhei!

A sobrinha entrou com a boneca.

— Que boneca linda, guria… — a voz falhou. — Quem te deu?

Puxou a saia devagar. A menina não percebeu nada, estava feliz demais.

Quando saiu, Sara fechou a porta e respirou fundo. O blog continuava lá. Aberto. Acusando.


Sempre dizia a si mesma que não era o tipo de garota que fazia aquilo. Mas ali estava. A casa inteira dormia, e ela diante do espelho. A luz fraca do abajur subia pelo corpo: renda preta, meias até a metade da coxa, cinta-liga. Era assim que apareciam nos contos.

Observou o reflexo. Respiração curta. Cabelo preso. Rubor que não era culpa. Nem coragem.

Pegou a câmera. Respirou. Mirou o espelho. Disparou.

O flash escondeu o rosto. Uma versão dela que não conhecia. Gostou.

Sentou diante do computador. Beliscou o lábio. Criou um e-mail. Nome falso, idade falsa. A coragem, essa sim, verdadeira.

Escreveu: “Às vezes parece que escreve para mim…”

Anexou a foto. Enviou.


No dia seguinte, no escritório, abriu o e-mail com expressão de quem estava atolada de trabalho. Nada.

A ansiedade apertava por dentro. Pensou no último conto e, num estalo, a mão dele estava ali, na coxa, deslizando pelo jeans.

— Que calcinha está usando?

— A vermelha. Como pediu…

— Boa menina.

Roçou uma perna na outra. A voz do chefe ao telefone a despertou.

Depois do almoço, voltou à mesa. Uma colega se aproximou.

— Está tudo bem, Sara?

— Tudo, ué. Por quê?

— Não almoçou com a gente. No sábado sumiu do aniversário da Tati.

— Cansada. Só isso.

Quando ela se afastou, Sara conferiu o e-mail de novo. Nada.

O estômago afundou. Talvez tivesse sido idiota. Talvez ele nem tivesse gostado.

No fim da tarde, o coração saltou. Nova mensagem. Era ele. Levou o mouse até o e-mail. A mão tremia.

“Você não imagina o efeito que essa foto teve em mim.

Se quiser continuar… estou aqui.”

Mordeu o lábio. Um sorriso escapou. Respondeu, rápida:

“E se eu só estiver brincando com você?”

A resposta veio quase na hora:

“Então brinque. Se precisar, eu sei te corrigir.”

— Tchau, Sarinha — disse o estagiário.

Ela mal ouviu. O monitor refletia o rosto quente. Estava digitando quando outra mensagem surgiu:

“Me ligue.”

Abaixo, o número.

Ligou do telefone da mesa. Ele atendeu na terceira.

— Alô — a voz era exatamente como imaginou. Quente. Baixa. A dos contos.

— É… eu. A da foto.

Ele riu, suave.

— Como está vestida agora?

Olhou para si mesma.

— Nada interessante. Jeans, blusinha simples.

— Abra a calça.

O estômago despencou. Olhou pros lados.

— E se eu não fizer? — provocou.

A voz dele desceu um tom.

— Esse teu jeito teimoso. Gosto disso. Ótimo pra disciplinar.

Abriu o botão. O zíper desceu.

— Porra, Sarinha, esqueci a mochila — o estagiário voltou.

Ela apertou o telefone, encolheu o corpo, acenou como se estivesse concentrada quando ele saia.

— Toque-se. Devagar. Imagine minha boca nela.

Ela sorriu, nervosa.

— Vocês homens… falam, falam, mas nunca gostam de chupar.

— Comigo você aprenderia o valor de cada respiração.

Ela engoliu seco.

— Você está vendada. Punhos amarrados na cabeceira…

A mente dela entrou sozinha no quarto que ele descrevia. Quase escuro. Sem relógio, sem porta. Apenas uma janela, iluminando a cama.

— Ahnn… cacete… eu vou gozar…

O calor subiu pelas costas. Mordeu o lábio. Estava perto demais.

Gozou. Um susto atravessou tudo. Desligou. Seco.

Ficou olhando o telefone, respirando fundo.

— Sarinha! De castigo hoje? — brincou o segurança, quase apagando a luz. — Tão quietinha que quase te deixo no escuro aí.

Ela ajeitou o monitor, tentando parecer natural. A calça ainda aberta.

— Sim… acho que fui uma menina má.

— Eu já te falei… para de discutir com o homem — disse ele, inocente, indo embora.

Sara fechou a calça devagar. O coração ainda batia no ritmo da voz que acabara de ouvir.


O relógio marcava uma da manhã. A casa estava silenciosa. Apenas uma sirene de bombeiros soava distante. Na cama, pegou o celular e abriu o jogo da cobrinha. Sim, aquele mesmo, raiz, de quando celular parecia um tijolo.

Nada satisfazia. Não parava de pensar nele.

Acessou os contatos. Meu Dono. Tinha salvo o número assim. Sorriu, mordendo o lábio. O corpo já dizia o que queria.

Ligou.

— Estava te esperando.

— Como sabia que eu ia ligar?

— Porque te fiz gozar. E agora você quer mais.

Convencido. E certo.

— Qual o seu nome?

— Sara. E o seu?

— Pode me chamar de meu dono. Ou senhor.

Ela estremeceu.

— Como está vestida?

— Não estou.

Silêncio dele. Sorriso dela.

E tudo recomeçou. Estava outra vez naquele quarto. Junto da janela. Lá em baixo, duas longas avenidas cruzavam o prédio, vazias. Nenhum carro, nenhum sinal de vida.

Ele atrás dela.

— Ahn… — ele entrou.

A respiração dela acelerava contra o telefone. O vibrador acompanhava o ritmo.

— Você está proibida de gozar.

— Não… por favor… eu não aguento.

E não aguentou. A voz falhou. Ela riu, perdida no próprio descontrole.

— Desculpa… eu gozei.

Ele ficou em silêncio.

— De que cidade você é?

— Campo Bom. Rio Grande do Sul.

— São Paulo.

Pausa.

— Estamos longe.

Ela ainda ajustava o fôlego.

— Você toparia?

Ela entendeu na hora.

— Sim. Mas eu nem sei seu nome. Preciso de algo.

— Alex.

O peito dela aqueceu.

— A gente se fala amanhã… Alex?

— Quer continuar brincando?

— Quero. Mas agora quero mais do que isso. Quero ser sua.


Se falavam todos os dias.

Às vezes ela chegava cansada e só contava como tinha sido o trabalho. Ele ouvia. Atento. Quando a conversa virava fantasia, era ele quem assumia. Sempre.

Um fim de tarde, chegando em casa, encontrou um homem parado na porta. Rosas. Chocolate. O nome dela no cartão. O coração disparou. Atravessou a sala tentando manter o rosto neutro enquanto a família soltava aqueles “hummm…” entre risos.

No meio do buquê, um envelope. Abriu no quarto.

A letra dele.

“Penso muito em você.”

Simples. Direto.

Debaixo do cartão, duas passagens de ônibus. Ida e volta para Balneário Camboriú.


À noite, se falaram.

— Você vai chegar primeiro — ele disse, firme. — Quero você de vestido. Justo. Curto. Salto alto. Meias rendadas.

Ela imaginou a cena. O corpo respondeu.

Ele continuou:

— Fique de costas para a porta. Eu vou te vendar.

— Mas eu quero te ver.

— Vou pensar no seu caso.

— Isso não vale.

Ele riu, baixo.

— Precisamos de uma palavra.

— Sou péssima com nomes.

— Tamarindo.

— Tamarindo? Por quê? — ela sorriu, mordendo o lábio enquanto o brinquedo deslizava dentro dela.

— Tem que ser algo que não combine com o momento.

Uma pausa.

— Ah. E pode levar aquele seu amigo.

— Sério? Mas… por quê?

— Só leve.


Como combinado, ela chegou primeiro. O quarto já estava reservado.

Entrou e respirou fundo. Estava nervosa. Rezava para não ter sido idiota, para que ele não fosse um psicopata.

Tomou um banho rápido. Vestiu-se devagar. O perfume no pescoço, no colo.

Sentou-se na cama com os dedos inquietos.

Pegou o celular.

— Onde você está?

— 402… 403…

— Aiii! Espera!

Correu até a porta, destrancou, voltou e enfiou os saltos com pressa.

Foi para a janela. Duas avenidas cruzavam abaixo. O dia nublado deixou a cidade parada, estranha. Uma buzina. Outra. Silêncio.

A porta se abriu. Ela travou.

— Aí está você… exatamente como pedi.

A porta fechou. A chave girou.

Ela fechou os olhos.

O som dos sapatos sendo tirados. Os passos dele.

Um dedo roçou seu braço. Ela arrepiou, se encolheu.

O tecido macio veio sobre os olhos. Firme.

— Qual é o seu propósito aqui? — ele sussurrou.

— Te satisfazer, meu senhor.

A mão dele desceu entre suas pernas, por cima da renda.

Ela abriu mais as coxas sem pensar.

— E por que chegou atrasada ontem?

— Me perdoe… o despertador não tocou.

A respiração dela já tinha mudado quando ele ajoelhou atrás.

Ele a provou ali mesmo. Fez o tecido descer pelas pernas, abriu-a com calma e chupou com vontade. A língua lenta. Depois firme. Os lábios pressionando onde ela era mais sensível.

Logo estava com os pulsos presos acima da cabeça, na cabeceira. Quase nua.

Ele passou as mãos pelas meias rendadas antes de tirá-las devagar, como se lesse a pele. Mesmo sem ver nada, o olhar dele parecia pesar nela inteira.

Amarrou seus tornozelos dela, mantendo-a aberta.

— Você tem sido uma garota muito displicente.

Ela gemeu baixo quando o metal frio apertou seus mamilos.

— Mas eu sei como corrigir isso.

— Não… ahnn… — algo entrou nela. O gel gelou primeiro, depois começou a esquentar. Ela reconheceu. O velho amigo dela. Ele tinha tirado da mochila. — Ahn…

— Preciso que esteja cem por cento comprometida, Sara.

— Eu prometo…

Ele ligou o brinquedo.

Slaap.

— Ahhh! Não… não… Eu prometo, eu prometo! — ela mordeu o lábio para abafar. O couro bateu na coxa. Depois na outra. Depois mais.

O brinquedo escorregou, úmido demais, saiu; ele empurrou de volta sem pausa. Ela se contorceu.


O tempo virou borrão. Duas horas. Três. Talvez o dia inteiro.

Não fazia diferença.

Estava de joelhos no chão. Pulsos presos atrás do corpo.

Uma música suave vinha de algum quarto. Nunca encontrou aquela música depois. Parecia feita para aquilo.

Vendada, chupava o pau dele com fome.

— Assim… isso… — ele encostou o chicote nos ombros dela. — Está se comportando bem.

Ele circulou em volta dela. Soltou os punhos devagar, segurando-a pelos braços quando ela desequilibrou.

A conduziu até a poltrona. Sentou. Puxou-a pelo quadril.

Ela subiu no colo dele. A venda ainda firme no rosto.

Cavalgava forte. Segurava nos ombros dele. Sentiu o corpo dele endurecer quando apertou mais. As mãos dele agarraram suas coxas.

Ele gozou.

Ela sorriu escondida no pescoço dele.

Levantou as mãos, querendo tirar a venda.

— Não. — ele segurou seus punhos.

— Mas eu quero te ver.

— Não verá.

Ela ficou muda. Uma pontada no peito, misturada com o fogo subindo pelas pernas. Estranho. Forte. Encostou os lábios nos dele. Beijaram-se devagar.

Foram para a cama. Muita pele. Muitas carícias. Mas ela tinha um plano. Esperaria ele dormir para ver seu rosto.

Só que adormeceu primeiro.


Quando acordou, a luz do sol já invadia o quarto. A venda havia sido retirada. Ele não estava ali.

Olhou o chão. Nada da mochila dele.

Olhou a poltrona. A mesa. O banheiro. Nada.

Sentou devagar. Respirou.

Deitou de novo.

Ficou ali. Sozinha.


Nota do autor: Dedico essa história a um velho amor. Salve a liberdade poética, essa história de fato aconteceu. Sinto saudade das conversas que seguiam até altas horas e dos teus gemidos abafados no meio da noite. Bons tempos. Espero que esteja bem.

*Publicado por vicente_braga no site promgastech.ru em 21/11/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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