Ele gostava de ver minha amiga pelada - Samara, a fantasminha tarada [Cap.7]

  • Temas: EscritorAnônimo, sobrenatural, fantasmas, voyeur, masturbação, vampira, tomando banho,
  • Publicado em: 06/07/25
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  • Autoria: EscritorAnônimo
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NOTA DO AUTOR: Este capítulo é especial porque está sendo publicado após meu aniversário de oito anos de Clímax que foi agora no último dia 26.

Comecei a publicar minhas histórias em 2017 e, acredito eu, sou um dos poucos autores daquela época ainda na ativa por aqui. O site surgiu em fevereiro de 2015 e não são muitos que continuaram postando seus textos com alguma frequência desde lá. Posso citar Didakus, FantasyHistory, ibida ( ! ), GrisalhoTarado, priapus, odeflor e tem outros que estão aqui desde os primórdios.

Em breve, completo os dez anos e provavelmente seguirei escrevendo por muito mais tempo. Não sei ao certo. Apenas o futuro dirá.

Quero aproveitar para pedir que entre no meu perfil e procure minhas outras histórias que publiquei nesses anos. Vale lembrar que todas elas estão conectadas e ocorrem no mesmo universo. Em algumas delas você até encontra menções a personagens de outras histórias.

Então é isso. Feliz aniversário muito atrasado para mim e boa leitura.











[ CAPÍTULO SETE ]

É DIFÍCIL ACEITAR CERTAS COISAS




No fim das contas, fiquei o resto da madrugada vigiando o Ricardo depois de me masturbar no sofá da sala. Já que ele estava dormindo, não tinha problema continuar ali junto dele, bem quietinha. Abri um pouco a cortina anil da janela de basculante para deixar a pouca iluminação vinda da rua entrar e fiquei em pé ao lado da cama observando ele dormir. Depois de tanto tempo sem vê-lo era bom ficar pertinho do meu amor.

Ainda podia ver o rosto dele iluminado suavemente pela luz de fora. Ele não moveu um único músculo durante toda a madrugada, mas estava aparentemente bem, pois continuava a respirar normalmente.

Quando os primeiros raios de sol da manhã apareceram na janela do quarto iluminando um pouco mais o ambiente, sentei na cama ao lado do Ricardo, que continuava dormindo feito pedra, e peguei sua mão. A pele dele estava fria, não tanto quanto a minha, mas aquilo era comum para um fantasma. Fiquei olhando o rosto dele por alguns minutos e, em certo momento, notei sua boca mexendo. Ele sussurrava alguma coisa bem baixinho e eu nem conseguia ouvir. Ainda me aproximei para ouvi-lo, mas ele parou de falar.

Provavelmente estava sonhando com algo. Talvez eu pudesse ver o que era. Toquei sua testa e concentrei-me em ver o que se passava em sua mente, mas vi apenas escuridão. O sonho acabara, talvez.

Depois de mais um tempo observando o Ricardo, eu simplesmente cansei de ficar ali. Não havia nem sinal de que ele acordaria tão cedo. Fechei as cortinas da janela para os raios do Sol não o incomodarem e saí de lá.

Quando cheguei à cozinha, Jéssica já estava lá com a vasilha de café no fogo. Olhei no relógio de parede e era seis e quarenta.

— Você acordou mais cedo? — perguntei.

— É..., faz uns dez minutos. Eu não ia conseguir voltar a dormir, então eu vim arrumar umas coisas — Ela tirou o café do fogo e começou a coá-lo na garrafa térmica sobre a pia. — E o Ricardo, como ele tá?

— Continua dormindo. Ficou lá a noite toda... Nem se mexeu.

— Fantasma que dorme pra mim é novidade — disse ela.

— Eu não consigo, mas tem outros que dormem normal. Mas tomara que ele acorde. Só falta ele ficar em coma lá pra sempre.

Jéssica terminou de coar o café e deixou a garrafa térmica sobre a mesa.

— De jeito nenhum. De fantasma nessa casa só basta você. É o que falta eu ficar hospedando espírito aqui. Quando ele acordar, vai ficar só um dia ou dois aqui. Não quero vocês assombrando a minha casa não.

Minha amiga tinha razão. Não podia ficar hospedada com o Ricardo naquela casa para sempre. Eu tinha minha esquina, mas e o Ricardo, onde ele ficaria? Será que ele aceitaria ficar comigo na esquina dia e noite? Claro que não. Ele poderia ser um espírito errante vagando pela cidade e bisbilhotando as casas.

— Nem sei se ele vai querer ficar aqui — Puxei uma cadeira e sentei à mesa. — Sei lá. Quando ele acordar eu não sei o que ele vai fazer... Eu nem sei o que eu vou fazer.

— O que eu não entendi é onde ele foi parar esse tempo todo depois que morreu. Você disse que foi procurar ele lá na casa e não encontrou.

— Acho que ele ficou invisível. Ele tava na casa, mas não dava para ver.

— Mas por que ele ficou invisível?

— Sei lá. Isso é uma coisa de fantasma. É meio difícil de entender. Nem eu sei explicar direito.

Jéssica pegou uma caneca e sentou na cadeira ao meu lado. A vampira bebeu seu café com alguns biscoitos e fiquei conversando com ela. Em seguida, ela lavou a louça e, após terminar, foi para o banheiro tomar banho. Eu ainda aproveitei para dar uma olhada através da porta na minha amiga debaixo do chuveiro, depilando a xana.

Quando deixei Jéssica e voltei para o quarto, para minha surpresa, ao atravessar a porta, vi Ricardo sentado na cama curvado com as mãos na cabeça.

Aproximei-me e perguntei:

— Ricardo, você tá melhor?

Ele manteve-se na posição e apenas falou:

— Tô... Eu acho que tô, mas... eu tô me sentindo estranho.

Fiquei incrivelmente aliviada e feliz por ele estar acordado e aparentemente bem. Abri um pouco a cortina da janela para iluminar o quarto e ele levantou o rosto e olhou na minha direção, apertando os olhos como se estivesse com dificuldade de enxergar.

— Quem... é você?

Quando ele perguntou aquilo, senti um aperto no meu coração gelado. Como assim? Ele não lembrava de mim?

— Sou eu, a Samara — Me aproximei dele. — Você não lembra?

— Eu... não sei... Minha cabeça tá estranha — Ele voltou a curvar-se e pôr as mãos em volta da cabeça.

Ricardo parecia estar numa espécie de ressaca das bravas. Talvez fosse efeito do ritual. Não tinha como saber. O estranho é que notei as roupas dele com outra tonalidade. A camisa cinza clara e a calça cinza escura pareciam estar um pouquinho mais claras. Talvez fosse apenas impressão causada pela iluminação.

— Tá sentindo dor de cabeça?

— Não... É... Sei lá.

Depois de dizer isso, ele tentou levantar-se soltando um gemido como se sentisse dor. Ricardo estava com as pernas fracas e cambaleou ao ficar de pé.

— Deixa eu te ajudar.

Fui ajudá-lo, mas quando tentei pegar seu braço, minha mão apenas o atravessou.

— Que porra foi isso? — disse ele, assustado, olhando para mim com os olhos arregalados.

Eu recuei olhando para minha mão. Tentei tocar o peito dele, mas meus dedos entraram em seu tórax.

— Caralho! — disse ele, espantado dando um passo cambaleante para trás. — Que é isso? O que é que tá acontecendo?

— Eu não consigo te tocar.

Eu estava confusa. Na noite anterior, eu pude encostar nele normalmente. Por que não conseguia tocá-lo agora?

— Por que que a tua mão tá entrando dentro de mim? — Ele parecia estar prestes a entrar em pânico. — Que porra é essa?

— Eu não sei... Eu te toquei ontem.

Ele foi com alguma dificuldade até a porta e tentou abri-la, mas sua mão simplesmente atravessou a maçaneta.

— Que merda é isso? — Ele estava realmente apavorado. — O que é que tá acontecendo?

— Calma, eu vou te explicar.

— Não, sai de perto de mim! Fica longe!

— Ricardo, você não lembra de nada?

— Lembrar do quê? Como assim?

Foi aí que a porta foi aberta pela Jéssica, que estava enrolada numa toalha e com o cabelo molhado.

— O que é que tá acontecendo? — perguntou ela.

— É que o Ricardo acordou — falei. — Ele não lembra de nada.

O coitado tentou falar com a Jéssica, mas ela não podia enxergá-lo e muito menos ouvi-lo.

— Desculpa, será que você pode me ajudar, por favor.

— E onde é que ele tá? — perguntou Jéssica, olhando para o nada.

— Tá aí — apontei para o Ricardo ao lado dela.

Minha amiga olhou para seu lado esquerdo tentando ver ele, mas claro que não viu nada. Então ela perguntou:

— Mas ele tá bem?

— Mais ou menos. Ele não lembra de mim.

— Quê que tá acontecendo...? — Ricardo estava prestes a chorar de desespero. — Onde é que eu tô? Essa daqui não é minha casa.

— Por favor, Ricardo, deixa eu te explicar, essa é a minha amiga Jéssica, a gente tá na casa dela. Fica tranquilo, tá tudo bem. Eu vou te explicar tudo. Não precisa ficar com medo.

— Tudo bem? Não tem nada bem! — Ele recuou. — Por que eu não consigo tocar nas coisas?

Ricardo não conseguira perceber que estava morto. A ficha não tinha caído e eu precisei mandar a real na lata mesmo.

— É que você... morreu.

Quando disse isso, ele arregalou ainda mais os olhos em total assombro.

— Como é?



• • •



Foi complicado explicar para o Ricardo fantasma que ele estava morto. Ele ficou tão desesperado que as pernas fraquejaram de vez e ele caiu no chão quase em estado de choque. E o pobrezinho ainda tentou fugir de mim engatinhando e chorando.

Apesar da resistência dele, consegui acalmá-lo um pouco e convencê-lo a me ouvir para que pudesse entender tudo que estava acontecendo. Sentamos na cama e comecei a explicar o que podia.

Ele não aceitou no início, mas consegui fazê-lo acreditar em mim aos poucos. Claro que ele chorou muito, mas com o passar do tempo e as novas informações, acabou tolerando sua situação com bastante dificuldade.

A nossa aceitação da morte foi bem parecida. Eu também chorei, mas chorei muito. Por vários dias sem parar. Pena que na época eu não tinha um fantasma amigo para me confortar e explicar tudo.

Para meu alívio, a memória do Ricardo foi voltando aos pouquinhos e ele foi ficando mais calmo conforme recordava das coisas. Ele lembrou de mim, dos encontros que tivemos, das nossas transas. Mas ele ficava meio perdido com as informações que lhe passava. Elas pareciam flutuar dentro de sua cabeça.

No fim das contas, precisei fazer um grande resumo de tudo para ele. Expliquei que morri no cruzamento da rua 23 de Março há quase vinte anos, que passei anos sozinha presa na esquina, que, com o tempo, aprendi a sugar energia sexual das pessoas para poder me materializar, acabei ficando conhecida na cidade por assombrar a esquina, conheci a Jéssica, relembrei a noite que vi ele pela primeira vez no início do ano, minha ida à sua casa, nossa transa gostosa, depois os meses que fiquei sem vê-lo até reencontrá-lo, mas não mencionei a ruiva nojenta. Já que, felizmente, ele não lembrava dela, melhor manter as coisas como estavam. Ele era um fantasma, não precisava mais dela e eu podia muito bem suprir a necessidade que ele teria de uma figura feminina lhe fazendo companhia.

Ele lembrou da irmã, dos pais falecidos, da escola. Estava aparentemente tudo bem com ele, mas me preocupava suas pernas, que Ricardo não parava de reclamar de uma intensa fadiga. Ele mal conseguia andar sem cambalear.

Quando Jéssica voltou do trabalho para almoçar, ele pediu para ligar para a irmã. Queria dizer a ela que estava bem, mas isso infelizmente não era possível. Imagina só o seu irmão caçula morto ligar para você e dizer que está vivendo como espírito. Não dava. E, além do mais, ele esquecera o número dela. O máximo que fiz foi pedir para Jéssica entrar no Facebook e Instagram da irmã dele para ver as publicações. No perfil dela, uma imagem em preto e branco do Ricardo, uma fita preta e o "LUTO" ao lado. Ela postou uma foto com o irmão e escreveu um longo texto relatando o que tinha acontecido com ele e a tristeza pela qual estava passando. Claro que o Ricardo não conteve as lágrimas.

O tempo passou e lá pelas três e meia da tarde ele ficou com muito sono. Estava extremamente exausto. Não parava de bocejar e foi direto para a cama com minha ajuda. Dormiu como uma pedra fantasmagórica mais uma vez.

Jéssica e eu ficamos um pouco preocupadas. Eu mais que ela, claro. Qual seria o motivo dele sentir aquelas dores nas pernas e não conseguir andar direito? Seria uma espécie de paralisia fantasmagórica? Não sabíamos.

Perguntamos ao livro mágico, só que ele não nos mostrou nada. As páginas envelhecidas não mexeram e nem Jéssica ou eu vimos nada nelas.

Até dei a ideia de ir até a bruxa outra vez e a vampira concordou em fazer uma visita à loja dela no dia seguinte.

Enquanto Ricardo dormia, novamente fiquei ao lado da cama por toda a noite olhando ele. O coitado não moveu-se uma única vez. Estava num sono pesado.

No outro dia, sexta-feira, a manhã estava sombria e gelada. Abri um pouco a cortina da janela do quarto e olhei o céu nebuloso. O tempo fechado parecia anunciar a proximidade de uma chuvarada.

De repente, Jéssica abriu a porta, pôs a cabeça para dentro do quarto e acendeu a luz.

— E aí, ele tá bem? — ela perguntou.

— Psiu — Pus o dedo sobre os lábios pedindo silêncio. — Ele ainda tá dormindo. — Apaguei a luz. — Melhor deixar ele aí.

Fechei a porta e fui com minha amiga para a cozinha. Ela estava só com uma calcinha preta e uma blusa branca.

— Você não tá com frio? — perguntei, puxando uma cadeira da mesa para sentar.

— Um pouco... Nem tá tão frio assim — Minha amiga pegou um pacote de café no armário.

Na realidade, vampiros sentem menos frio que os seres humanos, pois têm um metabolismo bem mais acelerado.

Jéssica olhou o relógio e falou:

— Quase sete horas... Acabei acordando mais cedo de novo.

A vampira pegou uma caixa embrulhada com papel de presente vermelho com desenhos de arvorezinhas de Natal que estava sobre a geladeira e deixou na mesa.

— Vou usar a cafeteira que a Mírian me deu lá no amigo secreto da loja.

Mírian era a chefe da Jéssica na loja de roupas.

Minha amiga abriu a caixa e tirou a cafeteira elétrica.

— É bem bonita — disse ela. — Só não sei como usar.

A vampira tirou o manual de dentro da caixa e olhou rapidamente. Ela ainda pegou no armário uma caixa de Chocottone e eu fiquei triste demais. Eu adorava comer panetone quando estava viva e era uma tragédia não poder comer aquela delícia só porque estava morta. Bem, na verdade eu podia comer, mas o problema é que eu não tinha paladar. A comida não tinha gosto na minha boca. Mais uma coisa ruim de ser uma fantasma. E, além do mais, eu precisaria me materializar para comer e quando me desmaterializasse, a comida dentro do meu estômago caía no chão.

Jéssica tirou com uma faca um pedação do Chocottone e abocanhou na minha frente para me fazer inveja.

— Hmmm — gemeu ela, mastigando o bolo. — Que delícia... Bom demais.

Senti minha boca ficar cheia d'água.

— Que merda! — falei. — Queria poder comer um pedaço também.

A vampira deu outra bela mordida no Chocottone e ainda lambeu os beiços. Filha da puta! Ela estava fazendo aquilo de propósito.

— Tá muito bom — disse ela.

Eu, não querendo ver aquela cena torturante para ficar na vontade, decidi voltar para o quarto e ver como o Ricardo estava.

— Já volto — falei.

Quando cheguei ao quarto e atravessei a porta, ele estava de pé ao lado da cama se espreguiçando.

— Ah, ainda bem que você acordou — disse eu. — Como você tá se sentindo?

Eu acendi a luz e ele esticou o máximo que pôde as pernas e os braços.

— Tô bem... Muito melhor que ontem.

— Não tá sentindo mais nada?

— Não. Tô legal — Ele esfregou os olhos enquanto bocejava. — Mas quanto tempo eu dormi?

— Ah..., acho que mais de umas doze horas. Você deitou ontem de tarde lá pelas três e meia e agora é quase sete. Então foi... umas quinze horas.

— Nossa — Ele coçou a cabeça.

Ricardo mexeu as pernas enquanto balançava os pés de um lado para o outro. Ele também mexeu os dedos dos pés. Estava visivelmente melhor do que no dia anterior.

— Eu tô me sentindo bem hoje. Minhas perna não tão doendo nada — Ele pôs os pés firmemente no chão.

— Que bom. Mas não tá sentindo mais nada mesmo, nem dor de cabeça?

Ele ficou à minha frente e respondeu:

— Zero. Tô ótimo — Então ele foi até a janela, abriu um pouco a cortina e o basculante e olhou para o céu. — Eu quero ir na casa da minha irmã... Eu preciso falar com ela.

Quando ele disse isso eu fiquei assustada. Ricardo esquecera o que eu falara de sua irmã no dia anterior. Será que a perda de memória dele era permanente? Fiquei receosa daquilo ser amnésia ou algo do tipo.

— Você não lembra do que eu te falei ontem? Eu fui lá na sua casa depois que você morreu e ela se mudou. Sua irmã foi embora pra outro lugar.

— Se mudou? — Ele olhou para mim parecendo confuso, como se tentasse lembrar com alguma dificuldade do que eu dissera. — Pra onde... ela foi?

— Eu não sei... Você lembra o nome dela...? Ou o número dela? Depois a gente pode... ligar pra ela, sei lá.

Ele ficou quieto por um instante olhando pela janela como se estivesse tentando processar aquela informação. Notei sua expressão ficar triste.

— Eu preciso ir lá — disse ele.

— Não, você não pode sair assim desse jeito. É melhor você ficar aqui mais um pouco e descansar.

— Não! — Ele olhou para mim enxugando os olhos marejados. — Eu vou lá! Eu preciso ir!

Fui até ele e tentei persuadi-lo.

— Ricardo, por favor... Você tá meio mal ainda. Tem que descansar mais. Pelo menos espera até mais tarde que eu vou com você até a casa. Eu prometo, tá?

— Esperar? Por que esperar?

— É que eu não consigo sair de dia, lembra? O sol queima minha pele.

— Queima...? Então eu vou sozinho mesmo.

— Ricardo, calma — Tentei tocá-lo, mas minhas mãos apenas o atravessaram. — Você tá com a memória fraca ainda. É melhor... ficar aqui mais um pouco... Sua cabeça não tá totalmente bem. Por favor. Eu prometo que vou com você lá depois.

Ele retorceu a boca e baixou o rosto em visível decepção e desgosto.

— Por que isso tá acontecendo comigo?

Aquela era uma pergunta para a qual eu não podia dar uma resposta satisfatória.

— Não sei... Mas fica tranquilo. Você vai melhorar. E eu vou com você quando o Sol se pôr, tá bom?

Ricardo olhou para fora pela janela outra vez e ficou calado por mais alguns segundos.

— E por que você não pode sair... no Sol?

Ele esquecera das explicações que eu dera no dia anterior.

— É que a luz do sol queima minha pele. Não posso sair de dia se não eu fico toda vermelha e pipocada. Cria umas feridas horríveis na minha pele.

— Queima...? Mas por quê?

— Ah..., eu não sei explicar. Só acontece.

— Você tá falando sério mesmo...? Mas isso não é coisa de vampiro? Queimar no Sol?

Consenti com a cabeça.

— É, mas acontece comigo também... Não sei por?que.

Ricardo continuou olhando para o céu e tentei tocá-lo novamente, mas minha mão apenas atravessou seu ombro. Que merda! Não podia encostar nele, mas por quê?

— E agora? — perguntou Ricardo. — O que a gente... o... O que eu vou fazer?

— É só esperar até de tarde. Mas vamo pra cozinha. A Jéssica tá lá comendo — Fui em direção a porta, mas Ricardo continuou olhando pela janela. — Bora lá.

Ele ficou mais alguns segundos quieto até acatar meu pedido.

— Tá.

Atravessei a porta do quarto e fiquei na frente dela esperando por ele já sabendo o que aconteceria.

Vi a mão do Ricardo passar pela maçaneta. Ele tentou abri-la.

— É só atravessar a porta — falei. — Passa por ela.

Ele fez o que mandei e transpassou a porta meio receoso.

— Não precisa se preocupar — disse eu. —, quando tiver uma porta ou uma parede é só passar por ela. Normalmente fantasma não consegue pegar maçaneta.

Chegamos na cozinha e Jéssica estava sentada à mesa com uma caneca de café na mão e um pacotão de biscoitos e a caixa do Chocottone.

— O Ricardo acordou — disse a ela. — Ele já tá melhor. Nem tá mais sentindo dor.

— Uhum. Mas ele ainda tá deitado?

— Não, tá aqui — Indiquei ele, que estava à minha esquerda, com o queixo, mas logo lembrei que Jéssica não podia vê-lo.

— Ah, tá — disse minha amiga.

Ricardo ainda deu um passo à frente e falou com a vampira em vão:

— Oi... Tudo bom? Bom dia.

Claro que ela não ouviu e apenas bebeu um gole de café despreocupadamente.

— Ela não te vê e nem te escuta — expliquei. — Nem adianta falar com ela. Se quiser falar alguma coisa vai ter que dizer pra mim pra eu passar pra ela.

— Ah, sim.

O coitado ainda tentou puxar uma cadeira para sentar e eu tive que fazer isso para ele.

Sentamos à mesa. Jéssica estava na ponta, Ricardo ficou à direita dela e eu à esquerda. Ele olhou para mim contraindo as sobrancelhas e perguntou:

— Como você puxou a cadeira? Por que você consegue mexer as coisas e eu não?

Perguntas que respondi no dia anterior, mas ele esquecera.

— É que eu levei anos praticando... Talvez se você treinar bastante dê pra conseguir também.

Ricardo baixou o olhar evidentemente frustrado com sua situação de alma penada e Jéssica bebeu mais um gole de café antes de perguntar:

— O que foi?

— Ele perguntou por que eu consigo mexer nas coisas e ele não.

Minha amiga voltou a comer seus biscoitos e Ricardo cruzou os braços.

— Você tá morta há quanto tempo? — perguntou ele.

— Faz quase vinte anos. Eu morri em 1999... Eu já tenho quase trinta e três anos.

Ricardo arregalou os olhos.

— Trinta e três com cara de quinze?

— É. Eu fiquei com a aparência que eu tinha quando morri.

Jéssica pegou mais um pedaço de Chocottone e falou:

— Pergunta pra ele onde é que ele tava quando morreu.

— É mesmo — disse eu. — Depois que você morreu, onde você foi parar? Eu procurei por você, fui na sua casa e não te encontrei. A gente precisou fazer o ritual do livro pra você aparecer.

Ricardo franziu a testa e ficou alguns segundos em silêncio tentando lembrar de seu pós-morte.

— Sei lá... Pra mim eu só tava... dormindo — Ele pôs a mão na testa. — Não lembro nada... Acho que... Eu só acordei aqui.

Ele ainda estava confuso demais para meu gosto e relembrar a própria morte não é algo lá muito legal. Portanto, resolvi mudar de assunto.

— É, mas não se preocupa com isso. Você tá bem agora e... vai ficar tudo certo. Você vai melhorar com certeza. Além do mais, ser espírito nem é tão ruim assim. Você pode não gostar no começo, mas depois de um tempo você se acostuma. E você tá seguro aqui na casa da Jéssica. Ela é minha amiga há um tempão. Ah, e... ela é uma vampira, lembra?

Ricardo olhou de lado para minha amiga meio desconfiado. Também esquecera do que falei sobre ela no dia anterior.

— Vampira?

— É. Ela é viciada em sangue de gente, mas ela não é perigosa. Pode ficar tranquilo. E ela não é que nem uma vampira de filme. É bem diferente. Ela não pega fogo no sol ou fica invisível na frente de espelho.

Ele pareceu não acreditar.

— É sério mesmo isso? — Ele coçou o queixo. — Vai dizer que existe lobisomem também?

— É, na verdade existe sim, mas... também não é como nos filmes... A Jéssica tem vários amigos vampiros que conseguem sangue em hospitais pra ela beber. Inclusive, tem umas garrafas aí na geladeira. Ela é como uma pessoa normal. Só precisa do sangue e ficar escondida da sociedade pra... não criar nenhum problema.

Ricardo continuou olhando criticamente para minha amiga como se estivesse com medo de uma mordida dela.

— E cadê os dentes dela?

— Vampiro de verdade não tem os caninos grandes. Os dentes são como de uma pessoa normal... As únicas diferenças dela pra uma humana normal é que ela bebe sangue, é mais agitada e tem o metabolismo mais acelerado, precisa comer mais. Ah, e pessoas com vampirismo não têm alergia a alho também.

Jéssica bebeu mais um gole de café e disse:

— E a gente não foge de crucifixo nem queima com água benta. E o que ele falou? Onde ele tava quando morreu?

— Ele não sabe. Pra ele, tava só dormindo.

Ricardo ainda parecia não acreditar naquela história de vampiro, mas por fim ele concordou com a cabeça.

— Tá bom então... Quanto tempo eu vou ter que ficar aqui?

— Ah, sei lá. Você que sabe. De tarde, a gente vai lá na casa que você morava e depois volta pra aqui. A Jéssica vai deixar a gente ficar por aqui um tempinho — Olhei para minha amiga.

Jéssica deu uma última golada na caneca de café e deu uma batidinha na mesa com ela.

— Pra mim, tudo bem vocês ficarem por aqui por uns dias. É só não ficar enchendo meu saco e tudo bem. O bom é que sempre vai ter alguém vigiando a casa quando eu sair. Mas não vou hospedar fantasma pra sempre, tá?

Minha amiga levantou para deixar a caneca na pia e vi que Ricardo olhou para a bunda dela. A safada estava só de blusa e calcinha, era óbvio que aquilo aconteceria.

— Tá tudo bem pra você? — perguntei a ele.

Ricardo nem ouviu. Estava ocupado demais secando o bumbum empinado da vampirona.

— Oi? — Ele voltou a atenção para mim.

— Pra você tá tudo bem ficar aqui por uns dias?

— Tá. Pode ser — E ele ainda voltou a olhar para minha amiga. — Mas como ela consegue te ver? E por que eu ela não consegue?

— Não sei. Desde que a gente se conheceu ela consegue me ver mesmo eu não estando materializada.

— Materializada?

— É, quando eu me materializo, eu fico sólida e todo mundo pode me ver. Com o tempo, eu aprendi a fazer isso. Eu uso a energia que eu pego das pessoas pra poder ficar sólida.

Ricardo pareceu mais confuso.

— Energia?

— É, existe a energia vital em todos os seres vivos, tem até nas plantas, mas essa é diferente. Eu consigo sugar essa energia das pessoas e isso me dá vitalidade e força. É assim que eu consigo mexer nas coisas e ficar sólida. Canalizando essa energia no meu corpo e me materializando... Se eu passar muito tempo sem a energia de alguém eu enfraqueço e meu corpo fica mais fraco e transparente. É como se eu tivesse com fome.

— Entendi — disse Ricardo, mas eu não tinha certeza se ele entendera mesmo.

— Mas é a energia sexual que me dá mais força. Essa energia sai do corpo quando as pessoas tão excitadas, se masturbando ou fazendo sexo e libera com mais força quando gozam. Essa é a energia que eu prefiro pra me alimentar. Ela dá mais força.

Ricardo voltou a olhar a bunda da Jéssica quando ela passou por nós e saiu da cozinha. Admito que fiquei com um ciuminho dele comendo minha amiga com os olhos daquele jeito. Seria melhor ele olhar para mim com aquela gula e não para ela.

Me inclinei um pouco sobre a mesa e perguntei:

— Você acha ela bonita?

— Ahn?

— Você acha a Jéssica bonita?

— É... Ela é.

Era melhor tirar a vampira da cabeça dele então mudei de assunto.

— Você lembra das coisas que eu expliquei pra você ontem?

— Que coisas?

Apertei os lábios frustrada. Ele esquecera de tudo?



• • •



Passei um bom tempo explicando para o Ricardo tudo de novo e respondendo suas perguntas repetidas. O coitado estava realmente desmemoriado e tive que voltar a falar tudo que já tinha explicado no dia anterior. Ele também continuava um pouco perdido com o fato de ser um espírito. Precisava de aulas de "fantasmagoria" da professora Samara.

Quem dera eu ter tido alguém para me mentorear quando morri. Eu não teria sofrido tanto.

Perto da hora do almoço, Ricardo começou a bocejar sem parar e reclamar de estar com muito sono. Ele voltou para o quarto e dormiu instantaneamente quando deitou na cama.

Enquanto ele dormia eu o vigiei por um tempo, depois fui para a sala, mas Jéssica retornara do trabalho e pôs na televisão um de seus filmes de terror favoritos e eu fui para a cozinha e fiquei dentro da geladeira por um tempão. Só saí de lá ao entardecer.

Quando fui em direção ao quarto para ver como o Ricardo estava, encontrei ele no corredor com a cara atravessada na porta do banheiro. O safado estava olhando Jéssica tomar banho.

— Ricardo, tá fazendo o quê?

Ele tirou o rosto de dentro do banheiro e olhou para mim um pouco constrangido.

— Nada..., tava só olhando...

— Olhando a Jéssica tomar banho, né? — Sorri para ele. — Tá aprendendo direitinho a ser fantasma.

Então notei que ele estava de pinto duro. Havia um belo volume na calça do sacana. Quando ele viu que reparei sua ereção, Ricardo ficou ainda mais constrangido e cobriu as partes com as mãos.

A porta do banheiro abriu e minha amiga saiu enrolada na toalha segurando uma calcinha e um pente numa mão e um pacote de absorventes na outra.

— O que foi que houve? — perguntou ela.

— Nada, é que o Ricardo tava te olhando aí no banheiro.

A Jéssica nem deu bola e passou por nós indo em direção a seu quarto.

— Ela nem fica com raiva? — indagou Ricardo.

— Não, ela nem liga. Pode olhar à vontade. Ela acha é bom ficarem olhando o corpo dela.

Ele ainda virou em direção à porta do quarto da vampira como se ainda quisesse vê-la pelada mais um pouco. Eu não vou mentir, fiquei com uma raivinha daquilo. Ele queria ver minha amiga nua, e eu? Será que ele não queria me ver livre daquele vestido também?

— E aí, vamo pra minha casa agora? — questionou ele.

— Hum? Ah, claro. Não tem mais Sol. Já dá pra eu sair. Vamo lá.




Continua no próximo capítulo...

*Publicado por EscritorAnônimo no site promgastech.ru em 06/07/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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