Gabi, a do Financeiro

  • Temas: travesti, trans, pernas, vestido, salto alto
  • Publicado em: 24/11/25
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  • Autoria: vicente_braga
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Sabe aquele jeitinho de chegar sem pedir atenção e mesmo assim chamar?

Então… essa era a Gabi, do Financeiro.

A rapaziada vivia comentando as roupas. Diziam que eram provocantes demais.

Mas não era culpa dela. Naquele corpo, o básico não tinha como parecer básico.

A porta do elevador já ia fechar quando uma mão segurou o sensor. Era ela. Entrou rápido, deu um daqueles sorrisos de quem pede licença sem falar nada. O vestido leve balançava na altura das coxas.

Carlos tentou recuar, mas estava lotado.

Devia estar atrasada, porque se enfiou justo ali, entre ele e a porta.

O quadril encostou nele e o corpo reagiu na hora. Inevitável.

A porta fechou, ficou colado nela, sem espaço para recuar.

No segundo andar o elevador deu um tranco. No susto, a mão escorregou na cintura dela.

— Desculpa… qualquer agente vai ficar preso aqui.

— Vai mesmo — ela sorriu. — Mas a gente também abusa dele.

Ajeitou o cabelo. Deixou o pescoço exposto. O perfume era doce, leve. Talvez fosse só o balanço, mas ela chegou mais perto.

— Você é nova aqui, né?

— Tenho quase dois meses. Tô no Financeiro.

— Ah! Então é você que tá bloqueando os orçamentos do CPD.

Quando as portas abriram, ele precisou sair junto. Ficou de lado, braço esticado no sensor.

— Qual o teu nome?

— Carlos.

— Gabi. Olha… eu preciso ir. Mas passa lá depois. Me paga um café. Quem sabe eu penso com carinho no teu orçamento.

Ela mordeu o lábio de leve, segurando o riso. Carlos ficou preso naquele detalhe.

O perfume ficou no elevador.


Chegou no departamento ainda atordoado.

Mathias estava na sala de café, cochichando com mais dois. Quando viu Carlos, gelou.

— A vida de vocês tá fácil, hein? — Carlos resmungou. — Tão falando da esposa do Mauricio de novo?

— Não, chefe. Paramos — disse um.

Mathias entrou na conversa:

— Agora é a menina nova do Financeiro. Gata, né?

— Nunca viram mulher bonita?

— Mulher não. É travesti, chefe.

Iam começar a rir, mas a cara de Carlos matou a graça na hora.

— Eu sei. Ela é uma mulher trans. E daí? — indagou, seco.

— Mulher de pau não dá né chefe. É cilada.

— Ah, mas com aqueles vestidinhos… qualquer um cai — completou Mathias.

Agora riram.

Carlos passou a mão no rosto, respirou pesado.

— Vocês são idiotas. Vão trabalhar. Vai.

Sentou. Tentou focar, mas Gabi voltava pra cabeça dele o dia inteiro.


Na manhã seguinte, a folha do orçamento tremia na mão dele.

“Não olha pras pernas dela, não olha… você não é viado”.

Falava consigo mesmo enquanto entrava no Financeiro. Podia ter mandado um e-mail? Claro. Mas ali estava ele.

O setor estava quase vazio, mas Gabi já estava lá. Conversava com um colega, mordiscando um copo plástico. Feição delicada. Blusinha de alcinha, sandália alta e uma saia preta justa que… puta que pariu. Como ela conseguia esconder?

Era impossível não ver uma mulher.

Os olhares se encontraram. Gabi tocou o braço do colega, se despediu e veio até ele.

— Veio me pagar um café?

— Exatamente.

A aproximação terminou num beijo rápido no rosto. Carlos travou. O sorriso dela mostrou que tinha percebido. O rosto dele esquentou.

— Preciso muito da tua ajuda — disse ele, levantando a folha.

Foram até a mesa dela. Gabi cruzou as pernas e analisou linha por linha. Às vezes encostava os dedos no braço dele tempo demais. E aquelas pernas… sacanagem.

Tomaram o café da máquina, o famoso petrolão. Conversaram, riram. Fez ele prometer um café no Tião, um dia desses.

E claro, o orçamento não passou. Mandou cortar a lista pela metade.


Por um milagre, a empresa marcou um happy hour. Parece que alguém da diretoria andou transando. Levaram todo mundo pra uma chácara.

Carlos já tinha tomado uma, duas… três, e nada da Gabi. Estranho.

Até que um carro entrou buzinando. Risadas de mulher. Ele olhou e lá estava ela, com mais duas que não reconheceu. Deviam ser amigas pessoais. Agora imagina, as três de tigresa. Vestidinho estampado, salto, orelhinha. Chegaram rindo, fazendo gestos de garra com a mão e chiadinho de felina.

O pessoal virou o pescoço na hora. Eram bonitas, mas Gabi puxava o olhar de todo mundo.

Pelos cantos, começou o sussurro sujo.

“Ah, foda-se, eu como esse viado fácil.”

Risos tortos, olhar maldoso.

Carlos fingiu não ouvir. Ficou na dele, a festa seguiu.

Preparava uma caipirinha quando viu um dos caras do CPD, o mesmo do “mulher de pau não dá”, colado nela, falando no ouvido.

Gabi sorria, tocava o braço dele.

Caralho…

O sujeito esperou só um vacilo, uma brecha, e se inclinou pra beijar. Os lábios chegaram a roçar. Ela deu um sorriso curto, parecia que ia deixar, mas empurrou o peito dele.

O espertão saiu rindo, cheio de deboche.

Gabi olhou para Carlos por um segundo. Ele não falou nada, mas só soltou o ar quando a viu se afastar.


Horas depois, Comercial, RH e Financeiro já estavam bêbados, lavando roupa suja.

“Vocês mandaram isso.”

“Vocês seguraram aquilo.”

E Gabi ali no meio, pernas cruzadas, segurando olhares.

Do nada o assunto virou a tal assassina. Quarta vítima na semana.

— Por isso parei de ir no puteiro — soltou Jorge do RH, quase caindo no balcão.

Risos.

A roda dispersou. Carlos foi ao banheiro. Ao sair, ela estava encostada na parede, na frente do feminino.

Se olharam. Ela sorriu.

— Não falou comigo direito. É por causa do orçamento?

Ele deu de ombros, sorriu também, se aproximou.

— Volta lá. Acho que agora consi…

Não a deixou terminar. Puxou a cintura e a beijou.

Gabi subiu na ponta dos pés, unhas na nuca dele.

Alguém saiu do banheiro, mas nenhum dos dois parou.

Quando percebeu, a mão já estava entre as pernas dela. Os dedos encontraram a renda, subiram devagar, puxaram o tecido e o danado deitou na mão.

— Carlos… aqui é complicado — sussurrou no ouvido. — Não quero te prejudicar.

Mas ele já subia e descia os dedos ali. Frenético.

Ela arfou.

O rosto dele encostou no pescoço.

— Caralho Gabi…. Não paro de pensar em você — murmurou, a boca roçando a pele.

— Eu também não — respondeu, apertando o braço.

Aquilo tomou os dois de vez.

Ele fez ela gozar ali mesmo.

Ajeitaram a roupa e voltaram como se nada tivesse acontecido.

Mas Carlos viu os olhares. Risos sarcásticos, presos na garganta.

Bando de filha da puta.


Na segunda-feira, ele não a procurou. Nem na terça. Nem na quarta.

Mas não parava de pensar nela. A cabeça estava uma bagunça.

Até que um e-mail piscou na caixa de entrada:

“Um cafezinho no Tião?”

Olhou pros lados, coçou o queixo e respondeu:

“Descendo…”

A cafeteria estava vazia. Depois de atender os dois, Tião sumiu lá pra trás, mexendo em alguma coisa e deixando a mesa isolada.

— Tá quieto hoje.

Carlos levantou o olhar, meio envergonhado.

— Me desculpa, Gabi… tô bem confuso.

— O que te incomoda?

— Como assim o quê? — a voz subiu e ele baixou na hora. — Eu gosto é de mulher. Não sou viado.

Ela sorriu tranquila, cruzou as pernas; a saia subiu um pouco e o olhar dele caiu ali sem querer.

— Você não faz ideia do quanto eu amo ouvir isso — disse, passando a mão no braço dele e mordiscando os lábios. — E outra… viado não me atrai.

A boca dela derrubou o resto do controle que ele tinha.

— Porra. Você é a mulher mais gostosa que já vi na vida.

Saiu como um desabafo. Ela sorriu.

— Obrigada. Você também é um homem muito gostoso.

Um silêncio curto caiu entre os dois, pesado de coisa não dita.

— E como é que… faz? — ele arriscou.

A sobrancelha dela subiu.

— Faz o quê?

Carlos tentou explicar com a mão, mas o gesto saiu torto, piorando tudo.

Ela quase engasgou com o café.

— Meu Deus, Carlos… você tá me perguntando como faz amor comigo?

A risada dele veio sem graça. Ela se inclinou, baixando o tom:

— Calma. Não vou colocar nada em lugar nenhum se você não quiser.

Os olhos dele arregalaram. O pensamento bateu rápido, direto:

“Puta que pariu… falei isso pra Ritinha mês passado.”

A vergonha veio quente.

— Ei… — ela chamou de leve — vocês são muito condicionados a penetração. Sexo não é só isso. Nunca foi. Eu gosto de toque. De pele. De vontade.

A mão dela veio até a dele, encaixando os dedos devagar.

— Ou seja… a gente já fez amor, querido. E eu amei.

Ela recostou na poltrona.

Carlos contornou a mesa, sentou ao lado, segurou o queixo dela e roubou um beijo de tirar o ar.

Ela sorriu com o rosto encostado no dele, os dedos brincando na barba por fazer.

— Nossa…

A mão dele desceu pela coxa dela. Um olhar ao redor confirmou, continuavam a sós.

— Tô apaixonado Gabi — murmurou, o olhar descendo pelo decote. — É estranho… mas você… desse jeito que é… — a mão subiu pela lateral da coxa — me dá um tesão da porra.

O sorriso dela veio suave.

— Não pensa demais. Sente. Deixa rolar.


As horas arrastaram até finalmente estarem lá. Os dois num motel na rua de trás do prédio. Indicação do Tião, claro. De manhã, o coitado pegou Carlos masturbando a moça em plena cafeteria. E a cara dele ao descobrir o tamanho do segredo dela… melhor nem imaginar.

Carlos segurava a cintura de Gabi e a penetrava por trás.

Os dois se olhavam pelos espelhos do quarto.

Ela arqueava, buscando a boca dele.

Beijos curtos, quentes.

Entrava nela com força, a mão subindo e descendo no pau dela, firme.

Quando gozaram, ficaram largados na cama, falando besteira, trocando carinho, respirando devagar.

Em algum momento, Gabi levantou, abriu a bolsa, tirou um RG e deixou no colchão antes de voltar pro lado dele.

— Nunca mostrei pra ninguém.

Carlos pegou o documento.

— Nossa… corte de cabelo militar.

— Meu pai me obrigava.

— Gabriel Araujo Martins.

— Sou eu… — disse ela, com um sorriso tímido.

Ele sorriu também.

— Muito prazer, Gabriel. Mas me desculpa… pra mim você é a Gabi. A minha Gabi.

Ela o abraçou, se encaixando nele com calma.

E ficaram ali. Se descobrindo. Se conhecendo.

Se amando.


Nota do Autor: Lendo alguns contos trans pra ampliar meu universo de personagens, encontrei a Gabbi Tigresa e outros textos que, de um jeito ou de outro, acabaram me inspirando. Mas senti falta de histórias que não tratassem a mulher trans como algo vulgar, como se fosse só um objeto.

Escrever este conto foi um desafio. Nunca tinha me aventurado nesse tema. Mas gostei do resultado. Espero que possa agradar algumas pessoas.

*Publicado por vicente_braga no site promgastech.ru em 24/11/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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