Capítulo Final

  • Temas: lésbicas
  • Publicado em: 04/07/25
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  • Autoria: LustSlut
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Não estava planejando ficar sumida por tanto tempo. Voltar a escrever e publicar minhas histórias era algo que eu queria fazer semanalmente, mas sentia que, naquele momento, não havia mais espaço para isso. Sempre que sentava na frente do notebook, as palavras não saiam, as ideias ficavam bagunçadas. Sempre deixava de lado.

Muitas coisas mudaram na minha vida. Decidi mudar, mudar para melhor, pedir demissão e viver de forma mais leve. Alguns amigos mais próximos sabem que meu sonho sempre foi me mudar para uma pequena vila na Finlândia, viver uma vida pacata, rodeada de pessoas simples, sem luxos exagerados, sem cobranças, com mais saúde, respirar o ar puro, ter mais tempo para dormir e ficar longe da pressão esmagadora do trabalho.

Por mais que eu fosse grata pelo trabalho e por tudo que conquistei, sentia que aquilo me matava aos poucos, como um parasita sugando toda a energia do hospedeiro, deixando apenas uma carcaça vazia. E essa carcaça vazia seria eu hoje, caso não tivesse tomado tal atitude considerada por mim (e por muitos) radical.

No final de maio de 2024, decidi iniciar o encerramento desse ciclo. Eu já estudava finlandês desde os tempos em que meu sonho era apenas um espectro, sem nada no papel. Dei também uma pincelada no sueco, uma língua comum por lá. Foi um grande desafio, mas, com a ajuda de um bom professor, as coisas fluíram sem maiores problemas.

Planejei essa transição. Sentia que era o momento certo. Mesmo convicta, surgia aquele frio na barriga da insegurança e ansiedade.

Em agosto, comecei a conversar com velhos conhecidos na Finlândia, que me ajudaram a organizar previamente moradia e documentos para poder morar legalmente no país. Essa parte é bem trabalhosa para quem não é de origem europeia, e até hoje ainda tenho dores de cabeça com isso.

Por fim, precisei cortar laços com algumas pessoas que faziam parte do meu dia a dia.

Natasha foi a mais compreensiva, ela foi a primeira pessoa que percebeu que eu não estava bem com a vida que levava. Ela me desejou boa sorte na nova rota e disse que sentiria saudades.

Lisa tentou me convencer de muitas formas a ficar, a desistir de todo o meu planejamento. Mas a tranquilizei, dizendo que ela podia me visitar quando quisesse, pois, mesmo longe, ainda estaríamos próximas. Isso a deixou mais tranquila.

Anya me ameaçou, dizendo que contaria tudo que havia entre nós para todos. Já esperava. Desarmei-a com os mesmos argumentos de sempre. Disse que não me importava mais se ela realmente contasse, na verdade, seria um alívio ter minha verdadeira “identidade” revelada. Logo tomei as rédeas da situação, lembrando-a do porquê ela não podia me ameaçar. Mais uma vez, ela voltou a ser uma boa cadelinha na coleira.

O que mais me doeu, e ainda dói, foi Alekssandra. Meu plano inicial era arrastá-la comigo para o fim do mundo, viver uma vida tranquila juntas. Mas não contava que talvez ela não quisesse isso. Foi difícil ouvir que ela queria continuar perto dos pais, em sua terra natal, crescer profissionalmente. Tentei convencê-la a desistir de seu sonho e vir comigo. Ela, por sua vez, tentou me convencer a ficar. Foram vários desentendimentos, brigas e lágrimas, até que decidimos que não havia mais espaço para nós duas no mesmo caminho.

Pensando agora, é mais triste ainda. Uma tentando convencer a outra a desistir de seus sonhos. Um tanto trágico, eu diria. Foi difícil. Ainda é algo que dói no coração, mas tomamos nossas decisões como duas adultas.

Quando fecho os olhos, ainda posso ver o sorriso dela. Mas a vida é feita de escolhas. Eu fiz a minha, ela fez a dela. Se foi certo ou não, não sei dizer. Poderia ter sido diferente? Talvez. Mas decidi que não quero ficar remoendo o passado nem me torturar pensando no que poderia ter sido diferente. Quero apenas seguir em frente.

Minha transição para outro país foi um pouco turbulenta. Alguns me julgaram por largar o cargo de diretora executiva tão cedo, chamando-me de fraca. Meu chefe também tentou me convencer a ficar, o que já era esperado. Mas chegamos a um acordo que beneficiava ambos.

Quando cheguei à Finlândia, desmoronei em lágrimas. Foi um misto de tristeza, desespero, raiva, alívio e felicidade. Coisas que por tanto tempo reprimi. Um turbilhão de sentimentos que jamais havia sentido na vida.

Demorou um tempo até a ficha cair. Foram várias noites sem sono e sem me alimentar direito; perdi alguns quilos, fiquei mais pálida do que já estava em todos esses anos vivendo em meio a neve. Quem me visse andando pelas ruas escuras da cidade poderia jurar que eu era um fantasma ou uma entidade sobrenatural.

Aos poucos fui me acostumando à rotina pacata que sempre sonhei, finalmente me familiarizando com o amargo sabor do tédio, que gradualmente se tornava agradável. A pequena vila que escolhi para morar era, na verdade, bem movimentada. Tinha bons restaurantes, uma paisagem indescritível e a cidade grande ficava a poucos minutos de carro.

Comecei aos poucos, explorando os arredores, vencendo a minha nova fobia social. Cada palavra trocada com meus novos vizinhos era acompanhada de um frio na barriga. Pensamentos como “será que estou falando a língua direito?”, “será que estão me entendendo?”, “será que estou sendo inconveniente?” dominavam minha mente, me fazendo querer me isolar. Mas, gradativamente, fui vencendo esse medo.

Explorei também os restaurantes locais e foi em um deles que conheci alguém que mudaria minha vida. O restaurante em questão era um pouco afastado de onde eu morava. A arquitetura era simples, o atendimento, bom. E a comida... Esse tópico tem seu reinado absoluto, sem margens para comentários. Na primeira vez em que fui, fiquei encantada com os sabores, o que me fez escolher o mesmo lugar para almoçar novamente.

Foi nessa segunda visita que encontrei ela: Olívia.

Eu estava sentada sozinha, num canto discreto do restaurante, apreciando o prato que havia escolhido. O cheiro era bom, o sabor também. Eu comia devagar, sem pressa, saboreando cada tempero, desligada do mundo ao redor.

O ambiente estava tranquilo, até que uma voz animada me interrompeu bruscamente.

????

— E aí, tudo certo com a comida? — Uma moça parou ao meu lado, um pano de prato jogado despreocupadamente sobre o ombro e um sorriso no rosto. — Se estiver ruim, pode me dizer. Mas se tiver bom, também pode falar. Gosto de ouvir elogios!

Fizemos um rápido contato visual. Eu estava um pouco hesitante, havia perdido o costume de conversas espontâneas, principalmente com desconhecidos.

— Está boa — respondi, ainda sem jeito.

Ela sorriu ainda mais.

— Ah, que bom! Você não é daqui, né? Está a viagem? Aposto que se mudou faz pouco tempo. A gente conhece a clientela da cidade, e um rostinho novo sempre chama atenção — disse ela, puxando a cadeira e se sentando na minha frente.

— Cheguei há pouco tempo — continuei a comer, ainda sem jeito pela espontaneidade dela.

— Hum... Sabe que isso me faz pensar? — Ela estreitou os olhos de brincadeira, inclinando-se ligeiramente sobre a mesa. — Você fugiu de algum lugar? Faz parte de um cartel? Testemunha protegida? Vai ver tá se escondendo de alguma coisa! Tráfico de drogas? De pessoas? É da máfia?

Ela falava rápido demais para eu acompanhar. Fiquei surpresa com a velocidade com que a conversa escalava e o rumo que tomava. Ainda tentei formular uma resposta enquanto terminava de mastigar, mas tarde demais, ela continuou tagarelando.

— Teve uma vez que um rapaz se mudou para cá também. Era novo, bonito... Em pouco tempo, ele já conhecia todos da cidade e era bem querido, sabe? Alguns meses depois veio a bomba: ele era procurado por tráfico de drogas! — Ela se inclinou um pouco mais, baixando o tom de voz. — Me conta seu segredo, tá fugida do quê?

Olhei para ela, atônita, tanto pela invasão de espaço quanto pela velocidade na fala.

— Brincadeira, brincadeira! Eu falo demais, não é? Sempre dizem isso. Acho que eu me daria super bem num programa de rádio, porque eu nunca paro de falar. Ah, perdão, te deixei meio sem jeito, não é? — Ela riu, se afastando, e voltou ao tom normal.

— Você fala bastante mesmo — comentei, sem saber exatamente o que dizer.

— E rápido! Um dom! Já você é do time das poucas palavras. Isso deve equilibrar o mundo, acho eu — disse ela, piscando para mim. Antes que o silêncio pudesse tomar conta, completou: — Sabe de uma coisa? Gostei de você. Espera aí.

Antes que eu pudesse reagir, ela se levantou e se afastou, voltando pouco depois com uma taça de vinho tinto. Colocou-a sobre a mesa com um gesto teatral.

— Cortesia da casa. Pelo papo bom... Ou pelo desafio de fazer você falar mais. Quem sabe na próxima visita, hein? — Ela se virou em direção à cozinha, mas se voltou para mim novamente. — Aliás, me chamo Olívia. Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar.

— Prazer, Olívia. Me chamo Yana.

— Cinco palavras na mesma frase, é um avanço, hein? — Ela riu novamente.

Olhei para a taça, depois para Olívia, que sorria divertida.

— Obrigada pelo vinho.

Ela riu, satisfeita.

— Bem-vinda à cidade, moça misteriosa. Nos vemos na próxima!

Ela então finalmente se virou e voltou ao trabalho, me deixando ali, pensativa, ainda processando cada palavra que ela havia falado. Dei um sorriso de canto pensando no que o destino estava me preparando dessa vez.

Na mesma semana, na missão de explorar a cidade, achei um mercado que vendia coisas incomuns do que era o habitual dos mercados, adentrei e me deparei com um vasto estoque de bebidas de vários tipos. As prateleiras estavam alinhadas com garrafas de diferentes formas, cores e rótulos, a excessiva maioria desconhecidos. Alguns eu reconhecia pelos nomes, mas diante daquela seleção local, eu me sentia perdida. Peguei uma garrafa ao acaso, virando-a entre os dedos, tentando decifrar o rótulo com o pouco de conhecimento que possuía sobre a região.

— Não sei se essa vai te surpreender ou te decepcionar — imediatamente reconheci aquela voz animada de Olívia. Dei um leve sorriso, me virando lentamente para o lado. — Mas, se quer minha opinião, posso te apontar algo muito melhor.

— Não me diga que, além de cozinhar tão bem, ainda entende de bebidas?

— Não como uma especialista, mas o paladar de um cozinheiro precisa ser apurado para tudo. E, olha, eu experimentei muitas dessas aqui — disse ela, pegando outra garrafa e analisando-a com um olhar crítico. — Essa, por exemplo, tem um final seco, um toque de frutas vermelhas, mas com um amargor que pode não ser do gosto de todo mundo. É o tipo de bebida que você gosta?

— Depende muito do momento, da harmonização — respondi, sentindo meu lado técnico se manifestar. — Essa, se for com um prato mais gorduroso, talvez funcione bem. Mas, se precisar de algo mais equilibrado, pode ser um erro.

Os olhos dela brilharam. Ela se virou totalmente para mim.

— Você falou mais do que cinco palavras numa mesma frase? Acordou de bom humor hoje? — Ela riu.

— Não abusa! — Respondi, devolvendo a garrafa que havia em mãos para a prateleira. — Me sugira algo que me surpreenda.

— Uh, agora parece uma garota exigente! Gosto disso! — Olívia largou a garrafa que segurava e começou a andar pela seção, gesticulando enquanto falava. — Sabe, tem um produtor local que faz um vinho que acho que você deveria experimentar. Não é dos mais sofisticados, mas tem uma personalidade forte.

Ela caminhou alguns passos de lado, me fazendo segui-la entre as prateleiras, até parar diante de uma fileira de garrafas rústicas, de rótulo simples.

— Esse aqui — apontou para uma delas, pegando a garrafa com cuidado. — Feito por um velho que mora não muito longe daqui. Ele faz o cultivo das uvas, tudo artesanalmente. O resultado é algo bem singular.

Peguei a garrafa, analisando a coloração do líquido.

— Parece interessante. E como é o sabor?

— Ah, querida Yana! Não quero estragar a surpresa.

— Me convenceu — sorri. — Se eu não gostar, vou atrás de você.

— Agora, só falta uma coisa...

Ela fez uma pausa dramática, inclinando-se ligeiramente para mim, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo.

— O quê? — perguntei, já desconfiada.

— Você precisa provar esse vinho acompanhado de uma boa refeição. Coincidentemente, eu sou uma excelente cozinheira. Então, que tal um jantar na minha casa nesse fim de semana?

Pisquei algumas vezes, surpresa com o convite.

— Você está me convidando para jantar?

— Sim! Mas, olha, não é só pela sua companhia — disse ela, divertida. — Quero ver se você consegue descrever a harmonização melhor do que eu. Podemos fazer um pequeno teste: você escolhe outra bebida que ache interessante e eu preparo um prato surpresa. O que acha?

A ideia me pegou desprevenida, mas não pude negar que a proposta era tentadora.

— Parece um desafio justo — assenti.

— Ótimo! Então está combinado. Sábado à noite, na minha casa. Vai ser divertido, prometo.

Ela sorriu largamente, satisfeita consigo mesma. Eu ainda sentia o leve estranhamento de estar me envolvendo socialmente tão rápido, mas a verdade é que havia algo em Olívia que me fazia querer aceitar a ideia de bom grado.

— Certo, estou dentro.

— Isso que eu gosto de ouvir! — Ela deu um tapinha no meu ombro e começou a se afastar. — Te vejo no sábado, Yana. Não me decepcione na escolha da bebida!

Acompanhei com os olhos enquanto ela sumia entre as prateleiras, e um pequeno sorriso surgiu no canto dos meus lábios. Pelo visto, as coisas estavam prestes a se tornar muito mais interessantes.

O sábado chegou mais rápido do que eu imaginava. O frio da noite trazia um ar fresco e reconfortante, e eu estava um pouco nervosa. Desde o encontro, estava tendo dificuldade de achar algo que eu realmente conhecia e aprovava para levar ao jantar, mas então me lembrei que, antes de sair da Rússia, trouxe uma garrafa da edição limitada da Macallan em parceria com a Lalique, um dos seis pilares, que há anos havia ganhado de presente de alguém especial. Sempre guardei esperando o momento certo, e sentia que esse era o momento.

Quando chegou a hora, me dirigi à casa dela. Bati na porta e ela abriu quase de imediato, vestindo um avental e com o cabelo preso em um coque que denunciava que já estava na cozinha havia um tempo.

— Bem na hora! — Ela sorriu. — Entre, a comida está quase pronta.

O aroma tomava conta da casa. A cozinha era espaçosa e bem iluminada, com uma mesa já posta para duas pessoas. Sentei-me enquanto ela terminava de preparar os últimos detalhes.

— Espero que tenha trazido algo bom — brincou, pegando a garrafa das minhas mãos. — Vamos ver se você realmente entende desse assunto.

— Acho que você vai gostar — retruquei, cruzando os braços.

Ela segurou a garrafa com cuidado, quase reverente, e leu o rótulo. Seus olhos se arregalaram, um sorriso se formou nos lábios, logo arqueou as sobrancelhas em espanto.

— Isso não é o que eu estou pensando, é? — Olívia virou a garrafa lentamente, como se estivesse segurando uma joia rara.

— É sim. Edição limitada. Te surpreendi?

— Isso aqui não se encontra em qualquer esquina. Eu estava brincando quando falei que você era da máfia, não precisa levar essa brincadeira tão a sério, ok?

— Eu trabalhava numa fábrica de bebidas, conhecia muita gente influente e vez ou outra ganhava alguns presentinhos. Acho que esse foi o mais caro que já ganhei em toda a vida. Digamos que esse eu estava guardando para um momento especial.

— E por que hoje seria especial? — Ela me olhou, curiosa, com uma intensidade que me fez desviar os olhos por um instante.

Ela me pegou desprevenida. Tive que pensar. A pergunta parecia simples, mas carregava um peso que eu não estava totalmente preparada para segurar. Talvez porque, depois de tanto tempo isolada, aquela noite representasse o passo mais importante para fora da minha bolha. Talvez porque, de alguma forma, Olívia tinha conseguido atravessar uma muralha que eu nem sabia que ainda mantinha erguida.

— Porque... Acho que mereço começar algo novo — respondi, finalmente. — E você, senhorita Olívia, você parece saber como tornar as coisas especiais.

— Nossa, isso foi profundo. Depois quero saber da sua história, você parece ser muito boa no que fazia no seu antigo emprego — disse ela, sorrindo. Dessa vez foi um sorriso suave, quase terno. — Ah, antes de qualquer coisa, vamos tomar um pouco disso.

Ela imediatamente pegou dois copos de whisky no armário e serviu para nós duas. Apreciamos o sabor em silêncio, apenas fechando os olhos e sentindo o aroma. Enquanto degustava, eu a olhava. Seus olhos pareciam mais brilhantes, os lábios mais carnudos e apetitosos. Tive que desviar, olhar para outro canto.

— Certo, agora podemos começar a noite! — disse ela, quebrando o silêncio com uma rápida palma e repousando o copo na mesa.

Olívia terminou de arrumar a mesa e trouxe o prato principal: um peixe fresco, acompanhado de legumes assados e um molho claro e perfumado. Era simples e sofisticado ao mesmo tempo.

— Espero que esteja com fome, não quero que sobre nada disso hoje — ela colocou o prato na minha frente e serviu uma pequena dose do whisky no copo.

Brindamos, sem dizer uma palavra. Foi um brinde silencioso, mas cheio de significado. A primeira garfada me fez fechar os olhos. O sabor era delicado, fresco, com toques cítricos que equilibravam perfeitamente o peso do peixe. Quando abri os olhos, Olívia me observava, esperando minha reação.

— Está incrível — consegui dizer, ainda saboreando. — Acho que nunca provei algo tão... Vivo.

— Vivo... Gostei que você disse isso. Eu sempre penso na comida como uma forma de dar vida. E não me leve a mal, mas você parecia alguém que estava precisando disso — ela riu, satisfeita, e também começou a comer.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas aproveitando a refeição. Era uma calma confortável, diferente do silêncio pesado que me acompanhava nos últimos meses.

— Você me faz falar demais — comentei, tentando quebrar o momento introspectivo.

— E você me faz escutar mais do que eu imaginava que fosse capaz — suspirou, recostando-se na cadeira. — Na verdade, acho que nunca encontrei alguém que pudesse me ouvir por mais de cinco minutos. Sentia falta de uma conversa. Damos um bom equilíbrio.

Terminamos a refeição entre risadas e comentários sobre a vida. Contei resumidamente algumas partes importantes da minha história, devido à insistência dela, e ela também compartilhou histórias do restaurante e sobre sua própria história. Quando o jantar terminou, Olívia recolheu os pratos e começou a lavar a louça. Eu me levantei para ajudar, mas ela abanou a mão.

— Não, não, convidado não lava prato na minha casa. Senta aí e termina seu drink — disse ela, autoritária.

Sentei-me novamente, observando-a em silêncio. Pela primeira vez em muito tempo, não sentia vontade de fugir ou me esconder. O peso no peito parecia mais leve, a ansiedade já não pulsava tão alto nas minhas veias. Quando terminou, voltou para a mesa e se sentou à minha frente, apoiando o queixo nas mãos.

— Você pensa em ficar por aqui para sempre? — perguntou, curiosa.

Fiquei em silêncio, rodando o copo entre os dedos. A pergunta ecoou fundo. Eu tinha fugido para cá buscando paz, buscando me reencontrar, mas ainda não tinha resposta para aquilo.

— Eu não sei — confessei. — Acho que, pela primeira vez, não quero planejar nada. Só esperar, existir, aproveitar um pouco o tédio.

— Isso já é um bom começo. Pelo menos vou ter companhia no dia a dia. E, se precisar se ocupar com alguma coisa, tem bastante trabalho administrativo no restaurante.

Nossos olhos se encontraram, e naquela troca silenciosa percebi que talvez ali estivesse o começo de algo que eu nem sabia que precisava. Naquele instante, naquela cozinha simples, entendi que minha nova vida não era apenas sobre mudar de país, abandonar um cargo ou recomeçar do zero. Era sobre abrir espaço para encontros inesperados, conexões sinceras e, talvez, novos amores. Sorri, finalmente sentindo o calor se espalhar no peito, não apenas do whisky, mas da possibilidade de um futuro diferente.

— Obrigada, Olívia — sussurrei, quase sem voz.

— Chega desse melodrama, Yana. E chega de beber esse whisky, é bom, mas vai acabar matando a gente se exagerarmos.

— Pode ficar com ele. Um presente para você.

— Mentira! Sério mesmo? — Ela quase pulou de alegria. — Não, só vou tomar ele com você!

— Tudo bem — ri. — Ele agora é seu, pode fazer o que quiser.

Olívia pegou um vinho em seu armário justamente a duas taças, me convidando a ir para a sala de estar para nos aquecermos. Ela alimentou o fogo da lareira e serviu vinho nas taças. Me aconcheguei num canto do sofá, e ela no outro lado oposto ao meu. Brindamos mais uma vez e a conversa continuou a fluir durante horas. Foram três garrafas de vinho nesse meio tempo, quase finalizando a quarta.

— Nossa, garota! — exclamou Olívia, dando um último gole em sua taça. — Onde você aprendeu a beber assim?

— Meu trabalho me obrigava — respondi, rindo e também secando meu copo.

— Seu trabalho incluía olhar para a bunda de outras mulheres também? — perguntou, rindo, olhando no fundo dos meus olhos. — E não se faça de desentendida, eu vejo onde seus olhos estão quando eu estou distraída!

— Deve ser impressão sua! — desviei o olhar, corando um pouco, mas ela provavelmente estava certa. Era algo que sempre fazia instintivamente.

— Precisa aprender a disfarçar melhor — disse ela, rindo.

Ela se levantou e pegou minha taça, indo em direção à lareira. Serviu mais um pouco para nós duas, finalizando assim a quarta garrafa.

— Viu? Você está fazendo de novo! — disse Olívia, quebrando o silêncio, apenas olhando por cima do ombro e voltando logo a atenção para as taças.

— Hum? O que eu fiz? — desviei o olhar da madeira queimando e direcionei a ela.

— Está olhando minha bunda de novo. É sério, você precisa aprender a disfarçar — ela riu, colocando a garrafa de vinho sobre a lareira e pegando as duas taças, caminhando até mim.

— Eu estava olhando o fogo, na verdade...

— Você é uma péssima mentirosa, sabia? — Ela se agachou na minha frente, entregando a taça para mim.

— Ah, esquece. Você é muito teimosa, não dá para argumentar com você — disse, sorrindo ao pegar a taça.

— Vamos fazer um brinde.

— O que vamos brindar? — perguntei, apenas molhando a boca com o vinho e logo abaixando a taça.

— A nós, não... — ela parou por um momento e então sorriu novamente. — Um brinde a você, Yana, que finalmente pode ser quem é de verdade, sem esconder nada de ninguém.

Retribui com um sorriso tímido. Batemos as taças e viramos o líquido avermelhado de uma vez. Colocamos as taças de lado. Ela continuou agachada na minha frente, me ajeitei e inclinei um pouco, fazendo seu rosto ficar perigosamente próximo do meu. Seus olhos eram brilhantes, tanto quanto a brasa cintilante da lareira, os lábios, convidativos. Acariciei suas bochechas por um breve momento, um pouco receosa pela possível reação negativa dela. E se eu tivesse interpretado mal? Qualquer gesto poderia ser o fim da nossa amizade recém-construída.

— Você é muito lerda, não vai me beijar logo? — disse Olívia, mais uma vez quebrando o silêncio, mas, acima de tudo, me desarmando de qualquer dúvida.

Me inclinei mais um pouco, tocando nossos lábios, senti o fogo dos tempos antigos se reacendendo, o fogo do desejo que aumentava a cada instante, a cada toque. Em poucos segundos, nossas línguas estavam entrelaçadas, a respiração ofegante, fazendo a antiga Yana tomar as rédeas da situação. Uma das minhas mãos a agarrou pela nuca, logo me levantando do sofá somente para deitá-la novamente, deixando a minha mercê. O beijo era selvagem, molhado, como se ambas estivessem na abstinência de sexo há décadas. Empurrei minha coxa entre suas pernas, pressionando sua buceta, gentilmente deslizando a mão para seus seios, apertando-os. Os senti firmes, os bicos duros me fazendo salivar enquanto o beijo ainda era intenso.

Deslizei um pouco mais a mão, invadindo o interior da sua calça de moletom, leve e folgada, me dando o prazer de sentir a calcinha molhada, o fino tecido era o que separava meus dedos e sua buceta. Abaixei com certa brutalidade a calça, o máximo que consegui sem me desconectar dos seus lábios macios, puxei a calcinha de lado e logo massageei seu clitóris, fazendo-a gemer tão alto que nosso beijo foi interrompido. A masturbei durante longos minutos até que ela me presentou com seu orgasmo, era lindo de se ouvir, de se ver, seu corpo se contorcia enquanto a mente se sobrecarregava de prazer, logo dando espaço para o cansaço, restando os músculos fracos e respiração ofegante. Dei um tempo para ela descansar, mas não saímos da posição.  

— Você é boa nisso — disse Olívia, abrindo um pouco os olhos e sorrindo.

— Preparada para mais?

— Tem mais? Estou bêbada — ela fechou os olhos novamente. — Estou pronta...

Voltei a beijá-la. Ela ainda estava um pouco ofegante, o hálito quente cheirava a vinho. Desci lentamente até seu pescoço enquanto retirava delicadamente sua roupa. Deslizei a língua até seus seios, os bicos duros e empinados, eram um charme, um convite. Abocanhei um, chupando com desejo, depois larguei e fui para o outro, deixando um rastro úmido de saliva.

Desci novamente, beijando seu abdômen até chegar ao centro de sua feminilidade. O cheiro quase me fez delirar exalava pelo cômodo inteiro. Dei um beijo suave por cima dos pelos, depois parti para suas coxas, nem tão grossas nem tão finas, mordiscando de leve. Ouvi-la gemer era gratificante, como música para os ouvidos.

Não quebramos o contato visual, pelo menos não até eu abocanhar sua buceta de uma vez, sugando todo o seu mel. Ela jogou a cabeça para trás e não economizou nos gemidos. Já fazia tanto tempo que eu não chupava uma mulher. A sensação da buceta pulsando na minha língua, de separar os lábios e subir até o clitóris, senti-lo quente, inchando, depois descer para o pequeno anel rosado, tudo aquilo me deixava louca. Quem estava prestes a gozar era eu, de tanto tesão que aquele momento me provocava.

Não demorou muito para ela gozar, pressionando minha cabeça contra o meio de suas pernas até desfalecer no sofá, sem forças para reagir.

Pelo excesso de bebidas, achei que ela tinha desmaiado ali mesmo, mas, depois de alguns minutos, me convidou para deitar na cama. Não para continuar o momento de luxúria, mas sim para dormir. Já era tarde, ela quase não tinha forças para andar, e o sono já batia à porta.

Dormi sem gozar, o que foi compensado na manhã seguinte: acordei com a boca de Olívia nas minhas coxas, procurando desesperadamente meu antro de prazer. Não consigo descrever o momento em detalhes, ainda estava sonolenta, sua boca parecia ter saído de um livro de fantasia, de tão mágica que era, o que contribuiu para a minha amnésia daquele momento.

Vamos cortar para alguns meses depois. Acho que agora estamos oficialmente em um relacionamento. As pessoas ao redor sabem que estamos juntas. Uma ou outra nos julga com olhares tortos, mas a maioria nem liga. Agora me sinto mais livre para ser quem sou de verdade. E, sinceramente, Olívia e eu parecemos duas coelhas no cio. Não sei há quantos meses estamos juntas e, mesmo assim, não conseguimos nos olhar sem sermos tomadas por uma vontade louca de transar em qualquer lugar, na minha casa, no banheiro, cozinha, sala, quarto, no restaurante dela, na cozinha, no depósito... Já perdi a conta de quantos lugares diferentes.

Ela me fez enxergar uma nova perspectiva da minha vida em muitos aspectos. Conhece meus defeitos, minha história, assim como eu conheço a dela, profundamente. É como se fôssemos almas gêmeas, nos damos tão bem que chega a ser estranho, como dois cérebros conectados, compartilhando pensamentos.

Talvez tenha sido o destino que nos uniu. Não acredito muito nessas coisas, sou cética quanto a esses assuntos, mas não consigo encontrar outra razão para isso ter acontecido. Todas as escolhas que fiz até agora me trouxeram até aqui, ao lado de alguém que entende meu olhar, que sabe o que estou pensando, que me faz rir mesmo nos dias mais sombrios.

É como se, apesar de todas as incertezas que carregava (e ainda carrego), houvesse uma conexão inexplicável entre nós. A teoria do fio invisível que une as almas gêmeas nunca fez tanto sentido para mim. Cada conversa, cada silêncio compartilhado, revela um pedaço de nós que parecia perdido, esperando para ser encontrado.

Mesmo que eu ainda questione o destino, não consigo negar que, ao lado dela, tudo parece fazer sentido.

Importante ressaltar: ela tem os mesmos gostos musicais que eu. Acho que isso foi um fator crucial para nos aproximarmos, pois não é fácil encontrar alguém que ame deathcore. Inclusive, já fomos num show da Crypta e planejamos ir juntas a um show do Jinjer, que é meu novo vício musical.

Após muito tempo, encontrei a verdadeira felicidade, extremamente diferente daquela felicidade vazia que senti por tanto tempo.

Então é isso, caros leitores, esse é mais um ciclo que se encerra. Não pretendo mais publicar minhas histórias por aqui, mesmo tendo muita coisa para contar. Sinto que devo deixar isso no passado.

Para as pessoas com quem construí amizade, muito obrigada. Me desculpem por deixá-los sem resposta por tanto tempo, mas espero que entendam meus motivos.

Ainda estarei respondendo alguns e-mails de vez em quando, sem respostas imediatas. Se ainda quiserem manter contato, estarei por lá. Inclusive estou com um probleminha de acesso ao e-mail, então pode demorar para responder.

Esse é o meu epílogo, o capítulo final que fecha minha história no clímax.

Pensei em simplesmente excluir o perfil, mas não seria justo comigo mesma. Levei tanto tempo escrevendo e revisando essas histórias. Então, vou deixar tudo aqui: um grande amontoado de palavras que contam capítulos da minha vida.

Bom... Não sou boa com despedidas, então... Adeus.

*Publicado por LustSlut no site promgastech.ru em 04/07/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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