Vestígios do Pecado
- Temas: traição, amizade, detetive, crime, paixão
- Publicado em: 14/03/25
- Leituras: 199
- Autoria: vicente_braga
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Quando atendi ao telefone e ouvi a voz de Helena, soube na hora que algo estava errado.
O tremor sutil nas palavras. O medo mal disfarçado.
— Preciso te ver. É urgente.
Segurei o aparelho com mais força.
Era para ser apenas mais um final de expediente sem grandes emoções. O pagamento pela resolução de mais um caso de infelicidade conjugal estava no bolso, e tudo o que me restava era ficar de cueca em frente à TV, assistindo a novela Tocaia Grande.
Mas não.
Sem pensar duas vezes, larguei tudo, peguei o carro e atravessei a cidade sob uma tempestade implacável.
A água escorria em rios pelo asfalto, as gotas tamborilavam furiosas no para-brisa. Os faróis mal cortavam a cortina de chuva.
Acelerando pela Avenida 23 de Maio, fazia o motor rugir.
E eu sabia que não era só pelo Rodrigo.
Cheguei à Rua Cândido Vale em meia hora.
O prédio de três andares era modesto, sem qualquer segurança aparente. As janelas estavam escuras, a rua deserta. Desliguei os faróis antes de estacionar e subi as escadas com pressa, o coração batendo forte.
Helena e Rodrigo moravam ali. O novo lar do casal.
Fazia tempo que eu não os via. Precisava me afastar. Foi necessário.
Mas por que ela me chamaria?
O pressentimento ruim crescia. E, apesar da preocupação, havia algo mais.
Uma necessidade silenciosa e quase vergonhosa de vê-la novamente.
A porta se abriu.
Helena apareceu. Encharcada.
O tecido leve do vestido colava-se ao corpo, desenhando cada curva com uma precisão quase cruel. Os cabelos presos de qualquer jeito, fios soltos grudando no rosto. Gotas escorriam pelo pescoço, deslizando até sumirem no decote ousado.
Ela me olhou por um instante antes de falar.
— Perdão por te receber assim, Dante. O telefone de casa está mudo, e o único orelhão que encontrei foi na Celso Garcia, perto do hospital.
Abriu os braços num meio sorriso.
— E adivinha? A chuva não teve compaixão.
Olhei por tempo demais.
Forcei uma tosse, tentando disfarçar.
— Sim… está chovendo muito.
Demorei um segundo para responder. Meus olhos continuavam presos nela.
— Mas o que aconteceu? Você parecia aflita.
O sorriso sumiu. Helena respirou fundo e deu um passo para trás.
— É o Rodrigo. Ele não dormiu em casa. Liguei para o escritório, e me disseram que ele não apareceu.
— Ele nunca falta ao trabalho.
Eu a observei com atenção.
— Simplesmente desapareceu ? Nenhum recado?
Helena cruzou os braços ao redor do próprio corpo, como se buscasse proteção contra um frio interno.
— Tenho quase certeza de que ele voltou ao Cabaret Rouge.
Minha expressão se fechou.
— E como tem tanta certeza? Anda investigando seu marido?
Soltei uma risada seca, mas ela não sorriu.
— Pôquer. Um vício que nos pegou. Eu mesma estive com ele lá, algumas noites.
Deu um passo à frente, os olhos presos nos meus.
— A jogatina rendeu um bom dinheiro. Éramos bons naquilo. Mas então vieram as ameaças veladas, e nós paramos. Ao menos, ele me prometeu que não voltaria lá.
Ela respirou fundo, a voz falhando levemente.
— Mas eu sei, ele não parou.
Fiquei em silêncio.
Meu olhar desceu, sem controle.
O tecido molhado do vestido ameaçava revelar o que havia por baixo. Os mamilos intumescidos pressionavam contra o pano fino, e por um segundo, foi impossível não imaginar o que viria depois daquele tecido ceder.
Helena percebeu meu olhar.
Não desviou.
As mãos deslizavam pelos braços, como se tentasse se acalmar. Mas não conseguiu.
E assim, os olhos se encheram d’água, e o choro veio, silencioso, inevitável.
Instintivamente, a puxei para um abraço.
Seu corpo quente se apertou contra o meu, apesar da roupa encharcada.
Senti sua respiração acelerar contra meu pescoço.
Seus dedos deslizaram pelo meu peito.
Leves. Quase inocentes.
Talvez nem tanto.
— Calma. Vamos achá-lo.
Ficamos assim por um segundo a mais do que deveríamos.
— Fui ao 13º Distrito do Tatuapé, mas disseram que precisavam esperar 48 horas para começar a investigar.
A voz dela veio embargada.
— Trataram como se fosse uma coisa banal. Fizeram piadinhas.
— Idiotas.
Ela se afastou devagar.
Mas seus olhos continuavam presos aos meus.
— Você o conhece melhor do que eu… algo aconteceu, Dante. Ele não sairia de casa assim.
Assenti lentamente.
— Vocês estavam bem?
Helena hesitou. Um segundo apenas.
— Sim.
Abaixou o olhar.
— Brigas entre casais sempre acontecem. Odeio quando ele toma decisões sem me consultar.
Ficamos em silêncio.
O som da chuva do lado de fora preenchia o espaço entre nós.
Observei seu rosto, o brilho da pele molhada, a curva da clavícula sob a seda fina do vestido.
E então, segurei seu rosto, os polegares roçando sua pele fria.
— Tire essa roupa.
Minha voz saiu mais rouca do que eu gostaria.
— Tome um banho quente.
Ela umedeceu os lábios, lenta, quase distraída.
— Vou tentar achar alguma pista por aqui.
Por um instante, achei que fosse dizer algo.
Mas apenas assentiu e se afastou.
Os pés, pequenos e delicados sobre o carpete.
Eu a segui com o olhar até vê-la desaparecer pelo corredor.
Só então percebi que estava prendendo a respiração.
Aquilo não terminaria bem.
Na cozinha, uma garrafa de Château Musar repousava sobre a bancada. Ao lado, uma taça com um resto de vinho no fundo.
Helena bebeu sozinha essa noite?
Balancei a cabeça, soltando um riso seco.
— Parece que a jogatina tem trazido bons resultados.
Segui em direção ao quarto do casal.
A maçaneta estava fria contra meus dedos.
Empurrei a porta.
E o cheiro dela me atingiu como um golpe surdo.
Nos lençóis. No travesseiro. No ar.
Junto com ele, as lembranças que eu tentava enterrar.
Dei dois passos. Depois mais um.
O abajur do criado-mudo aceso, projetava sombras longas pelas paredes.
A cama estava feita. Mas isso não significava nada.
Respirei fundo.
E o quarto me puxou para trás.
Para outra noite.
Outro momento.
Outro erro.
Garoa. Garrafas vazias. Boas risadas.
Naquela época, eu ainda era investigador na Polícia Civil.
Bebi além da conta naquela noite e, Rodrigo e Helena insistiram para que eu ficasse.
Eu não tinha condições de dirigir.
E aceitei.
Me ajeitei no pequeno quarto de visitas, mas o sono não veio.
O cheiro dela ainda estava lá.
Ou talvez fosse apenas coisa da minha cabeça.
Mas era inegável.
Meu corpo reagia ao aroma, evocando imagens promíscuas.
Desejos sujos.
Na madrugada, com a boca seca e a mente inquieta, levantei-me para buscar água.
A casa estava mergulhada no silêncio.
E então, ao cruzar a passagem entre a sala e a cozinha, esbarrei em alguém.
Os corpos se chocaram.
E minhas mãos tocaram pele nua.
Nua.
O choque percorreu meu corpo como um raio seco na espinha.
O calor dela. A proximidade sufocante.
— Dante! — A voz dela tremeu. — Me perdoe, eu não esperava que…
Antes que ela terminasse a frase, segurei sua nuca.
Meus dedos afundaram nos cabelos dela.
E a beijei.
Helena não recuou.
Pelo contrário.
Retribuiu. Com força.
Talvez um desejo reprimido.
Talvez um erro inevitável.
Minhas mãos deslizaram por sua pele quente.
O beijo aprofundou-se, feroz. O gosto dela se misturava ao pecado, à traição, à loucura.
Então, de súbito, ela me empurrou.
Sem uma palavra, afastou-se apressada, os passos ecoando pelo corredor até desaparecer na escuridão.
Me deixando ali.
Sozinho.
A lembrança se dissipou como fumaça.
Engoli em seco, passando a mão pelo rosto.
O silêncio pesava.
Mas um chiado baixo preencheu o ambiente.
A TV do quarto estava ligada.
A imagem tremulava com a abertura do telejornal.
O jornalista, com aquela voz monótona de sempre, dizia:
— Após um pouco mais de um ano, o Plano Real começa a mostrar sinais de estabilidade econômica e…
— Estou aqui, viu. — Quebrei o silêncio.
Do outro lado, a resposta veio rápida, carregada de uma tranquilidade calculada:
— Fique tranquilo, Dante. Sem surpresas hoje.
Sorri de canto.
Comecei vasculhando o guarda-roupa, os dedos correndo por entre casacos e camisas.
Até que algo amassado roçou na ponta dos meus dedos.
Um pequeno folder.
Desdobrei.
Na capa, uma dançarina mascarada deslizava sensualmente pela barra de pole dance.
Os dizeres em vermelho saltaram aos meus olhos:
“Venha me ver essa noite. Vou dançar só pra você.”
O nome do lugar vinha impresso em letras douradas e provocantes:
Cabaret Rouge.
O clique da maçaneta me tirou dos pensamentos.
A porta do banheiro se abriu, e Helena surgiu.
Os pés descalços afundavam levemente no tapete.
O vestido curtíssimo roçava contra a pele a cada movimento, revelando lampejos tentadores de uma delicada calcinha.
Vermelha.
De renda.
Uma distração perigosa.
— O Rodrigo ainda está naquele escritório na Senador Feijó?
— Sim, continua.
Ela caminhou até a escrivaninha, abriu uma gaveta e retirou um chaveiro prateado.
— Aqui está a chave da sala dele. Acredito que vá querer dar uma olhada.
Peguei sem desviar o olhar dela, erguendo o folder encontrado.
— Vou começar pelo Rouge. Tudo indica que esteve recentemente por lá.
Helena me observou por um instante antes de responder, os olhos fixos nos meus, como se estivesse medindo minha reação.
— Tome cuidado.
— Não quero induzir sua investigação, mas… — ela titubeou, a voz ficando mais baixa. — Fique atento a Rafael Garcia.
Franzi a testa.
— Mas esse não é um dos sócios do Rodrigo?
— Sim. Mas nada confiável.
Ela apertou a toalha entre os dedos, como se precisasse de algo para ocupar as mãos.
Respirou fundo.
— Não foram poucas as vezes que ele tentou algo…
O olhar dela fugiu do meu por um segundo.
Mas logo voltou.
Esperei.
O silêncio dela pesava mais do que qualquer resposta.
Cruzei os braços.
— Nunca gostei daquele cara.
Meus olhos se estreitaram.
— Ele também ia ao Rouge?
Helena umedeceu os lábios, um gesto pequeno, mas revelador.
— Algumas vezes.
A forma como disse… parecia menos casual do que queria demonstrar.
Fiquei em silêncio, avaliando-a.
— Bom, melhor eu ir e começar a investigação.
Guardei a chave no bolso e dei um passo em direção à porta.
— Se acontecer ou notar qualquer coisa estranha, não deixe de me procurar.
Helena largou a toalha sobre a cama.
E veio até mim.
Próxima demais.
Os olhos presos aos meus.
Os lábios entreabertos.
Um convite silencioso.
— Obrigada por isso…
Sua voz saiu baixa.
Quase um sussurro.
Meu corpo respondeu antes que eu pudesse pensar.
O desejo subiu rápido, como um fogo que se espalha sem controle.
Os dedos dela traçaram um caminho pelo meu braço.
Um toque leve.
Sutil.
Calculado.
Mas o suficiente para reacender algo que eu preferia manter adormecido.
Antes que percebêssemos, já estávamos próximos demais.
Quentes demais.
Minhas mãos deslizaram por suas costas, explorando o calor úmido da pele, sentindo a leveza do tecido fino grudado ao corpo.
Então, o beijo veio.
Inevitável. Intenso. Faminto.
Não pensei. Apenas agi.
O vestido subiu entre meus dedos, as coxas macias pressionadas contra as minhas.
E então, num impulso cego, rasguei a pequena calcinha.
Helena arfou contra minha boca, um gemido abafado entre nossos lábios, o corpo inteiro tremendo sob minhas mãos.
Um som baixo. Um convite.
Um desafio.
Ergui-a contra a parede. O baque surdo ecoou no quarto.
Helena gemeu, as pernas se travando ao redor da minha cintura, os calcanhares cravando-se em minhas costas, puxando-me para mais perto.
Minhas mãos percorreram suas coxas, os dedos apertando com força, afundando na carne macia. Minha boca desceu por seu pescoço, quente, ávida, arrastando-se contra a pele macia.
Quando minha barba roçou em sua pele, Helena estremeceu e soltou um gemido baixo, a respiração entrecortada.
Desfiz minha calça num golpe rápido.
O desejo não pedia permissão.
Tomava.
E eu a tomei.
Firme. Violento. Sem hesitação.
Os corpos se chocaram.
A primeira estocada arrancou um gemido alto de sua garganta, os olhos fechando com força.
Cada investida era bruta, crua, a fricção ardendo, os sons do sexo ecoando entre nós.
Helena cravou os dentes no meu pescoço, mordendo, arranhando, como se quisesse me marcar, me possuir.
— Isso… — A voz dela falhou, quebrada pelo ritmo selvagem que eu impunha.
Os dedos abriram minha camisa, os botões estalando um a um.
Então, suas unhas deslizaram vorazes pelo meu peito, deixando riscos rubros na pele.
Cada estocada reverberava entre nós, um choque bruto de corpos úmidos e desesperados.
Helena arqueou o corpo, as costas batendo contra a parede a cada novo avanço, os braços envolvendo meu pescoço, puxando-me para um beijo molhado, feroz.
— Mais… — Ela gemeu contra minha boca, mordendo meu lábio, a respiração entrecortada.
Atendi ao pedido, estocando com mais força, arrancando outro gemido rouco de sua garganta.
Nada mais existia.
Só nós dois.
O choque dos corpos.
O pecado consumado.
A tensão cresceu como um nó cego, apertando-se, queimando, até se romper de uma vez, violento, avassalador, inevitável.
Helena ofegou contra meu pescoço, as unhas rasgando minhas costas, o corpo inteiro se contraindo ao meu redor.
As pernas travaram.
— Dante… — A voz dela se quebrou em puro êxtase quando gozou. Os músculos se contraíram ao meu redor, me prendendo dentro dela como se nunca fosse soltar.
E então, me perdi junto com ela.
Afundei o rosto contra seu pescoço, a respiração curta, entrecortada, o gozo jorrando fundo dentro dela em tremores incontroláveis, arrancando-me qualquer vestígio de controle.
Minha respiração pesava.
O corpo inteiro pulsava.
Aos poucos, a soltei, deixando-a escorregar de volta ao chão.
As pernas ainda tremiam, o corpo deslizou pela parede até encontrar apoio.
Helena passou a língua pelos lábios, ainda ofegante, como se provasse meu gosto ali.
— Isso não devia ter acontecido… — murmurou.
Mas sua voz não carregava culpa.
Havia algo mais.
Ergueu os olhos para mim.
Sorriu de canto.
— Mas eu confesso… eu também queria. Desde aquele…
Ela interrompeu a própria frase, desviando o olhar.
Mordeu o lábio, pensativa.
— Por favor, Dante… ele não pode saber. — A voz saiu baixa, quase um pedido.
— Odiaria magoá-lo.
Se afastou devagar.
— Rodrigo é um bom homem.
Seus dedos tocaram a moldura da porta.
Uma pequena distração.
— Eu que, talvez, não seja a esposa que ele mereça.
Respirei fundo.
Soltei um longo suspiro.
— Você vai ficar bem?
Ela assentiu, sem emoção.
— Sim…
— Mas é melhor você ir embora.
Deu um passo para trás, como se rompesse o último fio invisível que ainda nos unia.
— Dante, traga ele de volta pra mim, por favor.
Não respondi.
Apenas virei as costas e saí.
Já dentro do carro, apertando o volante com força, fechei os olhos.
O gosto dela ainda estava na minha boca.
Minha pele latejava com o calor do toque recente.
Engatei a primeira marcha.
Os pneus deslizaram ruidosamente sobre o asfalto encharcado.
— Merda… onde diabos você se meteu, Rodrigo?!
A tempestade ainda castigava a cidade.
Acelerei.
Como se a velocidade pudesse apagar o que acabara de acontecer.
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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, locais ou eventos reais é mera coincidência. Este conto foi escrito por Vicente Braga. Todos os direitos são reservados. O plágio é crime e desrespeita o trabalho do autor. Se deseja compartilhar, sempre credite corretamente.
*Publicado por vicente_braga no site promgastech.ru em 14/03/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.
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