O Vestido de Isabel

  • Temas: traição, vestido, pés
  • Publicado em: 05/03/25
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  • Autoria: vicente_braga
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O vestido era o mesmo de sempre.

Florido, gasto de tanto lavar. Talvez curto demais. O tecido leve balançava com qualquer brisa, roçando minhas coxas, trazendo uma sensação de frescor.

Nunca quis me exibir. Era apenas uma roupa confortável para um dia quente.

Mas agora, penso em quantas vezes entrei naquele mercadinho vestida com ele. Sem culpa. Sem medo. Sem imaginar que um dia esse pedaço de tecido se tornaria um problema.

Naquele dia, o sol castigava as ardósias do piso sobre a garagem. Subi para pendurar as roupas no varal, como sempre fazia. Dali de cima, a rua parecia distante, e o vento ajudava a secar os lençóis mais rápido.

Foi quando olhei para a rua.

Do outro lado da calçada, encostado no batente do mercadinho, Jorge me observava.

O cigarro pendia no canto da boca. O olhar atrevido, cheio de malícia.

Subindo. Devagar.

Me despindo.

Fiquei imóvel por um instante, o lençol molhado ainda na mão. O calor subia pelo meu corpo, mas eu não sabia dizer se era raiva, vergonha ou…

Antes que eu pudesse reagir, a voz de Marcelo cortou o ar.

— Tá olhando o quê, seu filho da puta?!

O choque me fez soltar o lençol. Meu coração disparou.

Marcelo cruzou a rua com passos pesados, os punhos cerrados.

— Não é a primeira vez que te pego secando minha mulher! Tá querendo que eu enfie tua cara no chão?!

Jorge nem se moveu.

Só soltou a fumaça do cigarro, sem pressa.

— Olha esse vestidinho… — Ele fez um gesto vago com a mão, apontando para mim. O sorriso torto no canto da boca, os olhos ainda cravados em minhas pernas.

Então, sem desviar o olhar, ele soltou:

— Você queria o quê? Com um rabo desses? Não tem homem que não olhe.

O soco veio rápido.

Marcelo avançou primeiro, o punho fechado quase atingindo o queixo de Jorge.

Mas Jorge foi mais rápido, se esquivando e revidando logo em seguida.

O golpe seco acertou em cheio o rosto de Marcelo.

O impacto ressoou pela rua.

Marcelo tropeçou para trás, o sangue escorrendo pelo canto dos lábios. Cuspiu no chão, limpou a boca com as costas da mão.

Jorge ria, ajeitando a camisa.

— Melhor cuidar da sua mulher, Marcelo… — Passou a língua pelos dentes, os olhos em mim de novo, sujos. — Não falo por mim se eu ver aquele vestidinho na minha frente.

Senti meu estômago afundar.

Marcelo travou o maxilar, os punhos se fechando novamente. Mas não disse nada.

Virou as costas e atravessou a rua de volta para casa.

Meu coração batia descompassado. Minhas pernas presas ao chão.

Queria correr até ele. Dizer algo.

Mas o jeito como ele passou por mim sem sequer me olhar…

Segui para dentro logo depois.

Marcelo estava na sala, em pé, respirando pesado. A mão suja de sangue apoiada no encosto do sofá.

— Você tá bem? — minha voz saiu baixa, cautelosa.

Ele ergueu a cabeça, os olhos cravados em mim. Duros.

Antes que eu pudesse reagir, o tapa veio.

Seco.

Minha cabeça virou, a bochecha ardendo.

O nó na garganta subiu.

Olhei para ele. O olhar fulminante ainda estava lá.

Mas Marcelo não disse nada.

Se afastou e entrou no banheiro, batendo a porta.

Fiquei parada no meio da sala, a pele queimando, o silêncio pesando.

Então, sem pensar, subi para o quarto.

Meus dedos tremiam ao desfazer o nó do vestido atrás do pescoço. O tecido deslizou pelo meu corpo e caiu no chão.

Peguei e joguei no cesto de roupas sujas.

Nunca mais.

Nunca mais daria motivo.

Nunca mais passaria por isso.

Me joguei na cama, as lágrimas quentes escorrendo pelo travesseiro.



As folhas secas se acumulavam num canto, arrastadas pelo som ritmado da vassoura raspando o concreto.

A rua estava vazia.

Então, ele surgiu.

Jorge atravessava a rua com seu passo preguiçoso, a camisa justa colada ao peito largo, o cigarro pendurado no canto da boca. Os olhos escuros estavam presos em mim antes mesmo de pisar na calçada.

Malícia suja.

Do tipo que não se esconde.

Não se contém.

Senti o estômago afundar.

— Eu avisei pro seu marido. Desse jeito vou te comer, não tem jeito.

O cabo da vassoura travou entre meus dedos. Minha respiração falhou por um instante.

Quando pisquei, ele já estava diante de mim.

Não houve mais nenhuma palavra.

Apenas o calor das mãos dele segurando minha nuca.

O aperto firme na minha cintura.

Me puxando para perto.

Corpo quente. Rígido.

O cheiro de cigarro e álcool grudado na pele.

E então, sua boca encontrou a minha sem aviso.

Faminta. Exigente.

A barba áspera roçou minha pele a cada movimento, deixando um rastro de calor e choque que percorreu meu corpo, me prendendo ali, sem escapatória.

Minha mente tentava protestar, mas meu corpo já respondia antes que qualquer resistência pudesse existir.

As mãos subiram pelo meu corpo, puxando o tecido leve do vestido, subindo devagar. O ar quente deslizou pelas minhas pernas nuas, me fazendo prender a respiração.

O rasgo da calcinha veio num estalo seco, rápido, o som se misturando ao suspiro que escapou dos meus lábios quando senti a pele exposta ao toque quente e invasivo.

Fui erguida com facilidade. Minhas coxas se abriram ao redor da cintura dele, instintivamente.

Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, minhas costas já estavam pressionadas contra o capô quente do carro de Marcelo.

Jorge se encaixou entre minhas pernas.

As mãos ásperas deslizaram pela minha cintura, subiram até os seios, apertando sem delicadeza, deixando marcas na pele já sensível.

Sem nenhuma cerimônia, ele me segurou firme pelo quadril e me puxou para si.

A ponta do pau duro roçou minha entrada, deslizando contra a pele quente e já molhada. Afundando com fervor.

Não houve resistência.

Meus olhos se arregalaram. O corpo arqueou contra o capô, os dedos se fecharam ao redor do metal enquanto ele enterrava mais fundo.

Os quadris dele começaram a se mover. As estocadas firmes e diretas, empurrando meu corpo contra o carro. O som abafado do impacto ecoava pelo quintal, misturado à respiração ofegante e ao calor que nos envolvia.

A cada investida, eu sentia tudo ficar mais intenso, mais sujo, mais irresistível.

O prazer crescia rápido, sufocante, embriagante.

As mãos dele subiram até meu cabelo e puxaram com força, forçando-me a olhar para a casa.

A cortina da sala estava levemente afastada.

Uma sombra parada ali.

Marcelo.

O choque atravessou minha espinha. Mas o prazer não diminuiu.

Uma onda devastadora tomou meu corpo, arrebatando tudo em seu caminho.

— Me fode… — Minhas coxas se apertaram ao redor dele, os gemidos entrecortados, os olhos vidrados na sombra imóvel atrás do vidro.

E então, gozei.

Forte.

Rápido.

Desesperada.

O ventilador girava lentamente, espalhando o calor abafado da manhã.

Meu peito subia e descia, o corpo ainda quente, pulsante, preso entre o prazer e o choque.

Entre minhas pernas, sentia a umidade quente escorrendo, a pele hipersensível, cada centímetro ainda reagindo ao que havia acontecido.

Ou ao que não havia acontecido.

Virei-me na cama, pressionando as coxas uma contra a outra, tentando conter o tremor que percorria meus músculos.

Mais um sonho daqueles. Só que este pareceu tão real que as mãos brutas de Jorge ainda estavam no meu corpo.

O quarto estava silencioso.

Marcelo já havia saído para trabalhar.

Eu estava sozinha na cama.

O que estava acontecendo comigo?



Vesti a camisola vermelha sabendo que ele gostava dela.

Curta, de alças finas, deslizando pela pele como um toque suave. Durante os primeiros anos de casamento, foi com ela que tivemos algumas das nossas melhores noites. Marcelo sempre dizia que aquela cor me deixava irresistível, que o vermelho fazia ele me querer mais.

Passei o dia distraída, tentando ocupar a mente com qualquer coisa que me afastasse da sensação de estar cometendo um erro, de ter traído Marcelo.

Tudo por causa daquele maldito sonho.

Desde aquele dia, eles vinham povoando minha mente, invadindo minhas noites e me deixando inquieta ao amanhecer.

Por isso, a camisola.

Talvez fosse uma forma de tentar resgatar meu casamento.

De me lembrar do que já fomos.

Deitei na cama, ajeitei os cabelos e esperei.

Ouvi a porta da sala abrir. Os passos pelo corredor, o ranger da madeira quando ele girou a maçaneta.

Quando Marcelo entrou no quarto e me viu, parou na porta por um instante.

O olhar percorreu meu corpo devagar, prendendo-se às pernas expostas, à curva dos seios sob o tecido fino, à forma como a luz amarelada do abajur refletia no cetim vermelho.

Ele abriu um sorriso satisfeito, diferente do que eu estava acostumada nos últimos tempos.

— Olha só você.

A voz saiu rouca, carregada de desejo.

— Tava me esperando, amor?

Me remexi na cama, cruzando as pernas devagar, deixando que o vestido subisse um pouco mais.

— Talvez.

Ele sorriu de novo, dessa vez mais íntimo.

— Faz tempo que não te via assim.

A esperança acendeu dentro de mim, quente e inesperada.

Por que parei de usá-la? Talvez pelo receio de que ele não me olhasse mais da mesma forma.

Mas agora, vendo aquele olhar...

O efeito ainda era o mesmo.

E eu gostei daquilo.

Marcelo começou a tirar a roupa sem pressa, ainda me olhando, me devorando com os olhos, como fazia quando recém-casados.

A camisa foi jogada no canto do quarto.

A calça desabotoada, puxada para baixo com um movimento lento.

Quando ele tirou a cueca, meus olhos desceram, observando o pau já endurecido.

O calor percorreu meu ventre.

Dessa vez seria diferente.

Ele se aproximou, sentou-se na beirada da cama, pegou meu pé entre as mãos e começou a massageá-lo, os polegares pressionando devagar.

— Te devo desculpas.

Levantei os olhos para ele.

— Pela minha reação naquele dia. Eu não deveria…

Minha respiração vacilou.

Ele continuou, sem desviar o olhar.

— Perdi a cabeça.

A voz saiu baixa, carregada de arrependimento, mas também de algo mais.

— Mas a maneira como aquele sujeito te olhava…

Soltou um suspiro irritado, passando a mão no rosto, a mandíbula travada.

— Ahhh… me deixa puto!

Apertou minha coxa com mais força.

— Tudo bem, amor — tentei suavizar, deslizando os dedos pelo braço dele. — Mas você sabe como homens são. Não dá pra sair brigando assim.

Ele suspirou, esfregou a nuca e me olhou de novo.

— Eu sei…

Seu olhar desceu pelo meu corpo, como se estivesse reparando em algo pela primeira vez.

— Notei que não está mais usando roupas curtas. Mas não quero isso.

Me remexi na cama.

— Não quero confusão, Marcelo. Melhor evitar peças muito justas ou curtas perto daquele sujeito.

Ele parou de massagear, os olhos escurecendo levemente.

— Suas roupas são normais. Só aquele vestido que te deixa…

Suspirou, desviando o olhar por um momento, a tensão ainda visível na linha do maxilar.

Eu queria que ele terminasse a frase, mas ele não terminou.

Por um instante, seu olhar ficou distante, carregado de algo que não soube decifrar.

— Saudades de quando o mercadinho pertencia ao seu Geraldo.

O aperto em minha coxa se intensificou um pouco.

Então, ele engatinhou devagar sobre a cama, deslizando por cima de mim. Seus lábios se curvaram num sorriso quando suas mãos passaram pelo tecido fino da camisola, explorando a textura e o contorno do meu corpo.

— E nem pense em atender a porta com essa camisola.

Sorri de leve, deixando as pernas se abrirem para recebê-lo.

O calor do corpo dele colou-se ao meu, o peso familiar e reconfortante.

Ele roçou o pau já duro contra mim, e por um instante, eu acreditei.

Acreditei que dessa vez seria diferente.

Os lábios encontraram os meus, a língua explorando minha boca enquanto os quadris se encaixavam lentamente contra os meus.

Por um instante, me permiti acreditar.

Mas assim que ele me penetrou, soube que seria o mesmo de sempre.

Firme.

Direto.

Sem qualquer paciência. Sem qualquer esforço para me preparar.

As estocadas vieram ritmadas, fortes, mas previsíveis.

A cama rangeu contra a parede, um som seco, mecânico.

O barulho da cabeceira batendo no gesso virou um contador.

Três.

Dois.

Um.

Marcelo gemeu, gozando rápido, ofegante, satisfeito.

Se afastou de mim, levantando-se da cama enquanto se ajeitava com um sorriso despreocupado.

— Vou tomar um banho. Daqui a pouco tem jogo do Palmeiras. Pede uma pizza pra gente, amor?

E saiu.

Fiquei ali, deitada, o vazio ainda entre minhas pernas, o desejo inacabado, preso no meu corpo.

O tecido vermelho da camisola parecia agora um deboche.

O nó subiu pela garganta, apertando meu peito.

Mas eu não fiz barulho.

Apenas deixei as lágrimas escorrerem, silenciosas.

Sem saber se eram de culpa, frustração ou cansaço.

Ou tudo ao mesmo tempo.



Quarta-feira. Dia de feira.

A sacola pesava na minha mão, os plásticos finos cortando levemente a pele dos dedos enquanto eu caminhava ao lado de Sandra. O cheiro de frutas maduras se misturava ao de poeira quente, levantada pelas crianças que corriam descalças, os chinelos esquecidos no meio-fio, as mãos segurando linhas de pipa que cortavam o céu azul sem nuvens.

Sandra vestia uma saia fresca que terminava pouco acima dos joelhos, sem se preocupar. Eu, ao contrário, me cobria mais do que o necessário. O vestido longo demais, quente demais para aquele dia.

Ela mordeu uma maçã, mastigando sem pressa, quando me olhou de lado e perguntou:

— E aí, como você e o Marcelo estão?

Troquei a sacola de mão, desviando o olhar para o caminho à frente.

— Estamos bem.

Sandra bufou, revirando os olhos.

— Para de mentir, Isabel.

— Ué, por que eu mentiria?

Ela riu, o tom carregado de ironia.

— Porque eu te conheço. E últimamente você anda… estranha.

Suspirei. Sabia que não adiantava fugir. Sandra sempre sabia quando eu escondia algo.

— A gente tá bem — insisti.

Ela parou de andar e me encarou.

— Tá mesmo? Ou ele continua te tratando como um depósito de porra?

O choque me fez arregalar os olhos.

— Sandra!

Ela deu de ombros, rindo como se não tivesse falado nada demais.

— O que foi? Só tô sendo sincera. A gente já falou sobre isso.

Cruzei os braços, segurando as alças da sacola com mais força.

— Não, ele não me trata assim…

Minha voz saiu mais baixa do que deveria, quase sem firmeza. Sandra percebeu.

Ela apenas me encarou, esperando.

Engoli em seco, como se precisasse provar algo.

— Ontem mesmo vesti uma camisola vermelha que ele adora. Ele fica tarado quando me vê com ela.

Sandra arqueou a sobrancelha.

— E ficou?

A pergunta veio afiada.

Minha respiração vacilou.

— Ficou, sim. Adorou.

Minha voz tremeu.

Sandra sorriu de leve, como se estivesse escavando algo mais fundo.

— E ele te fez gozar?

Baixei o olhar. O nó na garganta se apertou.

O silêncio pesou entre nós.

Sandra retomou os passos e, sem piedade, indagou:

— E qual foi a última vez que ele te fez gozar?

Não respondi.

Não porque não quisesse.

Mas porque não sabia.

Não lembrava.

Sandra parou outra vez. Quando ergui os olhos para ela, vi que sua expressão tinha mudado.

Ela suspirou, como se tentasse escolher as palavras certas. Sua voz veio menos afiada dessa vez.

— Desculpa, amiga… Mas é que me dá raiva te ver assim.

O aperto na garganta só aumentou.

E então, antes que pudesse me segurar, as palavras escaparam.

— Eu tenho sonhado com…

Sandra franziu o cenho.

— Com quem?

Os olhos dela se arregalaram antes de se encherem com algo parecido com diversão.

Eu engoli em seco.

— Com Jorge.

Ela piscou, surpresa.

— O cara da briga?

O tom da voz dela me fez corar ainda mais. Ela abriu um sorrisinho de canto, satisfeita com a revelação.

Sandra cruzou os braços, me estudando.

— No sonho, ele te pega.

Inclinei a cabeça. Meu rosto queimava.

— Você sabe como.

Sandra riu.

— E pelo jeito, você gosta.

Fiquei sem resposta.

A raiva e o constrangimento me fizeram querer jogar uma das sacolas nela, mas Sandra apenas continuou rindo, como se estivesse aproveitando mais do que deveria.

— Você acha que é pecado sonhar?

Não respondi.

— Sonhar, fantasiar não é trair, Isabel.

— Mas…

— Mas nada. Você acha que Marcelo nunca sonhou com outra? Que nunca olhou pra uma mulher na rua e imaginou alguma coisa?

Fiquei calada.

Sandra deu mais uma mordida na maçã e continuou:

— Escuta, eu não tô dizendo pra você fazer nada. Mas a verdade é que você tá se segurando demais. Mulher também precisa de um escape, não só os homens. Se eles têm os deles, por que a gente não pode ter os nossos?

Ela mastigou devagar, pensativa.

— Talvez você só precise testar umas coisas. Ver como se sente.

Hesitei.

— Que tipo de coisas?

Ela sorriu, um sorriso cheio de segredos.

— Brinque, Isabel. Se deixe desejar. Faça Marcelo te olhar de novo. Se ele não souber aproveitar… bom, pelo menos você vai saber que tentou.

Continuei caminhando em silêncio, absorvendo suas palavras.

Sonhar. Fantasiar.

Não era traição.

Era só… se permitir.

Provocar. Vou fazer isso.

Sandra lançou um olhar travesso, jogou o caroço da maçã num canto da calçada e balançou a cabeça.

— Aposto que até seu marido vai gostar.

Talvez ela tivesse razão.

Eu realmente acabei deixando a rotina absorver nossos dias.

Um dia você pára de passar o batom, no outro já não veste uma calcinha mais sensual…

E foi com esse pensamento que segui o caminho de casa.

Decidida a dar mais uma chance ao meu casamento.



A porta rangeu levemente quando entrei.

O silêncio da casa era quebrado apenas pelo som abafado da água caindo no banheiro.

"Hmm… ele está em casa… será que deixou o carro no mecânico?"

Larguei as sacolas na cozinha e caminhei pelo corredor, descalça, sentindo o chão fresco sob os pés.

Os conselhos de Sandra ainda ecoavam na minha cabeça.

"Brinque, Isabel. Se deixe desejar."

Meus dedos deslizaram pela alça do vestido, puxando-o para baixo. O tecido leve deslizou pela pele até cair ao chão, formando um monte desajeitado no corredor.

A porta do banheiro estava apenas encostada.

Um leve vapor escapava pela fresta.

Empurrei devagar, espiando.

A água quente escorria pelo vidro do box, formando pequenas trilhas no vidro embaçado.

Ele estava de costas, as mãos apoiadas na parede, deixando a água deslizar pela nuca, os ombros largos relaxados.

Parecia cansado.

O calor do banheiro me envolveu quando entrei.

Minha calcinha deslizou pelas coxas, caindo no azulejo molhado pelo vapor.

Empurrei a porta do box, abrindo devagar para não fazer barulho.

Aproximando-me dele, inspirei fundo. O cheiro quente de sabonete misturava-se ao aroma da pele úmida.

Minha mão pousou em suas costas.

Ele não se moveu.

A boca roçou na pele molhada, sentindo o gosto quente da água.

Meus dedos deslizaram devagar pelo seu corpo, descendo até encontrá-lo.

Levemente enrijecido.

Envolvi seu sexo entre os dedos, sentindo o calor e o peso na palma da mão.

Acariciei devagar, roçando o corpo no dele, sentindo-o crescer em resposta ao toque.

— Deixa eu cuidar de você… — sussurrei, minha respiração contra a pele quente de sua nuca.

A mão dele deslizou pela minha coxa, subindo firme até agarrar minha bunda.

O pau dele pulsava entre meus dedos, agora rígido, quente, latejante.

O desejo formigava sob minha pele, meu ventre apertava num torpor lento e crescente.

E então, ele se virou.

O gosto.

O cheiro.

O toque.

E o jeito que segurava minha cintura.

Diferente.

Os olhos me encararam com uma fome crua, animal.

Antes que eu pudesse reagir, sua boca tomou a minha com volúpia, sugando minha língua, invadindo minha boca.

O coração subiu à garganta.

Afastei-me bruscamente, tropeçando contra o vidro do box.

— A… Ângelo?

Ele sorriu, sacana.

— Oi, cunhada. Tudo isso era saudade?

Minha boca abriu, mas nenhuma palavra saiu.

— Eu pensei que…

Antes que eu terminasse, ele me puxou pela cintura e voltou a me beijar.

Dessa vez, sua pegada era mais firme, mais exigente.

Virei o rosto, a respiração entrecortada, os pensamentos uma confusão.

Deveria empurrá-lo de novo.

Deveria sair dali.

Mas não me movi.

Não me impedi.

Não me podei.

Me permiti.

Ângelo me virou, pressionando meu corpo contra o vidro frio.

Segurou meu cabelo, puxando com força, inclinando minha cabeça para trás.

— Sua putinha… — ele rosnou contra minha orelha.

E então me preencheu.

Arfei ao sentir a invasão.

Grande.

Grosso.

Tão fundo que meus olhos reviraram.

As mãos dele apertavam minha cintura, firmes, enquanto os quadris investiam sem cerimônia, cada estocada me empurrando mais contra o vidro gelado.

O choque do frio contra a pele quente e o impacto das investidas me faziam perder o ar.

A boca entreaberta, arfante.

Meus dedos escorregavam pelo vidro molhado, sem força para segurar.

Seus dentes cravaram no meu ombro.

Suas mãos exploraram meu corpo.

Puxou-me para trás, inclinou meu torso e, sem aviso, um tapa estalou na minha bunda.

Mordi os lábios, sufocando um gemido.

Ele puxou meus cabelos de novo, inclinando minha cabeça para o lado para tomar minha boca num beijo voraz.

Me perdi.

Me entreguei.

Gozei como nunca.

Um arrebatamento bruto, cravado no ventre, espalhando-se por cada nervo, cada músculo, fazendo meu corpo tremer contra o dele.

Senti Ângelo arfar atrás de mim.

Segurou meu quadril, mergulhou mais fundo.

E então se derramou dentro de mim, quente, denso, latejante.

Ficamos assim por um instante, a respiração pesada preenchendo o banheiro.

Até que ele saiu de dentro de mim, deu um último tapa na minha bunda e soltou um riso satisfeito.



A mesa era pequena, fazendo com que nossas pernas se tocassem sob o tampo.

Marcelo e Ângelo estavam sentados à minha frente.

Um levava a xícara de café aos lábios, um silêncio tenso pairando no ar. O outro me olhava como um cafajeste, descarado, o canto da boca puxado num sorriso sacana.

Meus pés descalços deslizavam pelo piso frio enquanto eu cruzava as pernas, sentindo o tecido leve do vestido roçar na pele nua.

Dei um gole no café, olhando para os dois com a cabeça levemente inclinada.

— Mas como vocês podem ser tão parecidos?

— Porque somos gêmeos? — Ângelo brincou.

— Seu besta — respondi, dando um tapinha no braço dele.

Marcelo pigarreou, mexendo-se na cadeira, incomodado.

— Ainda bem que ele tem essa cicatriz no canto do olho.

A cicatriz era pequena, um risco discreto ao lado do olho direito, mas que só o deixava ainda mais viril.

Senti o ventre apertar.

Me ajeitei na cadeira e, sem querer, meu pé encostou na perna de Ângelo.

Não recuei.

E ele também não.

Enquanto Ângelo lembrava como havia adquirido aquela marca no rosto, minha perna subiu um pouco mais.

Deslizei a ponta dos dedos do pé de leve.

Senti seu corpo reagir.

O toque se prolongou por alguns segundos, até que ele pousou a mão sobre meu pé, segurando-o ali, acariciando de forma sutil, mas cheia de segundas intenções.

Quem era eu?

Não me reconhecia mais.

Mas estava gostando do que via.

Marcelo não foi trabalhar naquela manhã.

Certamente percebeu algo no ar.

Mas isso não nos impediu.

O cheiro de café ainda pairava no ar quando comecei a lavar a louça.

A água morna escorria pelos meus dedos, o som do detergente estalando contra a porcelana.

Então, senti o calor de um corpo atrás de mim.

A respiração quente na minha nuca.

As mãos agarraram minha cintura com firmeza.

— Alguém já te falou que você fica muito gostosa nesses vestidinhos?

Sorri de leve.

Não respondi.

Mas deixei meu corpo relaxar contra o dele.

Ângelo encolheu os lábios perto do meu ouvido, sussurrando baixo:

— Ele tá no banheiro…

Empinei instintivamente, sentindo a ereção dele pressionar minha bunda.

Mordi os lábios, segurando um sorriso travesso.

Ele abaixou-se atrás de mim, puxou minha calcinha para baixo sem pressa.

O ar frio fez minha pele arrepiar.

E então, sua boca encontrou minha intimidade.

Sua língua deslizava com uma habilidade que me fez perder o controle.

A pia serviu de apoio enquanto minhas pernas fraquejavam e minha respiração saía entrecortada.

Mordi o lábio para conter um gemido.

— Me fode… — supliquei, arquejante.

Ele se ergueu, puxou meu vestido para cima e me penetrou de uma vez, afundando fundo na minha boceta molhada.

Os quadris dele batiam contra minha bunda, as investidas cada vez mais brutas e desesperadas.

As mãos seguravam minha cintura, puxando-me contra ele.

Mordi a mão para abafar um grito, o orgasmo subindo como um incêndio por dentro.

Meu corpo se contraiu ao redor dele, me levando ao abismo do prazer.

Senti o jorro quente escorrer dentro de mim.

Quando ele se afastou, ainda ofegante, precisei me lavar no tanque do quintal.

Mas a sujeira não estava apenas na minha pele.

Estava dentro de mim.

E eu gostava.

Os dias seguintes foram um frenesi.

Ângelo e eu nos aproveitamos de cada canto da casa.

Das madrugadas silenciosas.

Dos dias abafados.

Dos minutos que roubávamos para nós.

O desejo crescia sem freios.

Eu estava viciada nele.

Apaixonada.

Até que, certa tarde, voltei de uma consulta médica.

A casa parecia diferente.

Mais… vazia.

Coloquei as sacolas na mesa e fui direto para a sala.

Marcelo estava sentado no sofá, as pernas cruzadas, o jornal aberto sobre o colo.

Ele não levantou os olhos quando perguntei:

— Cadê o Ângelo?

Virou a página com calma, antes de responder:

— Ah… ele não te avisou? Foi embora. Caminhoneiro é assim. Não para em canto nenhum.

Senti um incômodo subir pelo peito.

Aquelas palavras soaram erradas.

Subi as escadas devagar, como se algo pesado estivesse me puxando para trás.

Quando entrei no quarto que antes era de Ângelo, encontrei tudo vazio.

Não havia mais roupas, nem o cheiro dele impregnado nos lençóis.

Mas, ao abrir o guarda-roupa, algo me chamou a atenção.

Uma camisa esquecida.

Peguei-a, levei ao rosto, inalando o cheiro residual do perfume misturado ao suor.

E então vi.

Um pedaço de papel dobrado no bolso.

Meus dedos tremiam ao desdobrar.

“Ele me mandou ir embora. Ele sabe de tudo. Se cuida, putinha.”

O ar fugiu dos meus pulmões.

Marcelo sabia.

E permaneceu frio.

Por que não me confrontou?

Por que continuava comigo?

Um calor subiu pelo meu rosto, mas não era vergonha.

Era raiva.

Raiva do silêncio.

Raiva da frieza.

Raiva de mim.

Deixei que passassem alguns dias, que ele pensasse que a ausência de Ângelo era indiferente para mim. Fiz questão de manter a rotina, de seguir calada, como se nada tivesse mudado. Como se eu não tivesse percebido. E então...

Naquela manhã, Marcelo sairia para o trabalho mais tarde.

E eu vesti aquele vestido.

Passei por ele na sala, enquanto assistia ao jornal matinal, sem dizer uma só palavra.

Descalça, vassoura na mão, comecei a varrer a calçada com calma, deixando o tecido balançar com a brisa.

Jorge estava no mercadinho.

Me olhava descaradamente.

— Bom dia, Isabel.

Abri um sorrisinho travesso, levantando os olhos para ele.

— Bom dia, Jorge.

No instante seguinte, minha calcinha já estava rasgada contra o portão.

Jorge me ergueu contra a parede, na garagem de casa, atrás do quadro de luz.

Minhas pernas envolveram sua cintura, minha boca buscou a dele com volúpia.

O tecido do vestido subia até meu ventre, expondo-me a ele sem pudor.

As estocadas eram brutas, secas, implacáveis.

E então, meus olhos se ergueram.

A cortina da sala estava levemente afastada.

Uma sombra.

Ele estava ali.

Vendo tudo.

Senti um arrepio percorrer minha espinha, mas o prazer só cresceu.

Mordi o lábio, sussurrando no ouvido de Jorge:

— Mais forte.

E então, me deixei ser fodida, olhando para a sombra imóvel atrás do vidro.

E sorri.

Um sorriso feroz, carregado de vingança e prazer.

Continuei encarando a janela.

Me vingando de seu silêncio.

De sua frieza.

Do controle que achava que tinha sobre mim.

Ele viu.

E não pôde fazer nada.

Eu já não era mais sua.

*Publicado por vicente_braga no site promgastech.ru em 05/03/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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