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Mentes Misteriosas - A Atriz

  • Conto erótico de traição (+18)

  • Temas: Anal, Incesto, Novinhas, Sexo, Perversão, Corno, Casamento, Pornografia
  • Publicado em: 30/05/24
  • Leituras: 537
  • Autoria: Bayoux
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Mesmo sendo um escritor, nunca me canso de admirar como a vida real consegue superar em muito qualquer criação humana.


As pessoas e sua capacidade de satisfazer as necessidades mais ocultas que levam dentro de si, logram engendrar tramas que nenhum de meus colegas de letras jamais concebeu ao deparar-se com uma folha em branco, imbuídos da missão de assombrar ao público com o que sai de sua máquina.


Eu casei-me tarde, aos quarenta e cinco, mas tive a sorte - ou o desgosto, dependendo do ponto de vista - de que minha esposa fosse bem mais jovem, ainda na casa dos vinte.


Não desejo criar a ilusão de que era um amor destes passionais, nada disso, reconheço que em nossa relação a conveniência mútua e o oportunismo de ambas as partes foi algo que sempre esteve sobre a mesa. Naquele então, eu ganhava a vida com dificuldade, escrevendo crônicas diárias picantes e alguns roteiros bem idiotas. Obviamente, eram todos pornográficos.


Foi numa das eventuais visitas aos sets de filmagem onde conheci Marilyn, como era artisticamente conhecida. Ela era uma jovem bonita, em início de carreira, parecia um tanto tímida para aquele ambiente e fazia somente uma pequenina ponta numa cena desimportante em meio a uma orgia, a qual provavelmente conseguira dando para o chefe de elenco, pois assim eram as coisas naquela época.


A característica que despertou meu interesse, à parte de seu corpo muito branco em contraste com os cabelos tão negros, foi sua capacidade de transformar-se ante as câmeras. Bastava ouvir o comando “ação” que surgia ali uma personagem altiva e petulante, totalmente oposta à aparente fragilidade que sua pessoa emanava.


Depois das filmagens fui com a equipe tomar alguma coisa na esquina e ali pude conversar melhor com Marilyn. Não creiam que ao referir-me a ela como frágil e tímida esteja eu indicando que de fato assim o era. A garota sabia das coisas do mundo, tinha estudos e estava tentando entrar no ramo não por necessidade, ou falta de opção. Não, Marilyn queria ser uma atriz famosa, mais que isso, desejava ser “a atriz”, a mais conhecida entre todas.


Saímos mais algumas vezes e para nós ficou tudo claro: Eu via nela todo o potencial e a obstinação necessária para conseguir seus objetivos, e ela já havia notado que eu representaria um salto em sua carreira. Ora, eu era o roteirista dos filmes, escrevia pelo menos dez textos ao ano e conhecia muita gente no ramo, logo, para uma jovem atriz, eu valia ouro.


Mas e quanto a mim? O que eu ganharia me associando a uma desconhecida? O que haveria ali além de sexo, o que, modéstia à parte, não me faltava em absoluto?


Bem, eu nutria lá meus sonhos também: queria ser reconhecido. Ser escritor é uma atividade solitária e ignorada pelo grande público. Caso Marilyn decolasse, estar ao lado de uma atriz em ascensão, para mim, representava a chance de ser famoso, de ter fotos e entrevistas, enfim, de andar pelas ruas e saberem quem sou.


Nos casamos em poucos meses e nosso arranjo era claro como se estivesse escrito na certidão: eu a colocava nos filmes e ela me promovia ante o público. Nunca me importei com sua imagem nua fazendo sexo em cenas para lá de picantes, nem sequer me molestava que desse o rabo para outros, não era esse o ponto, a questão era apenas nossa finalidade mútua de propósitos.


É bem certo que um homem e uma mulher vivendo juntos e trabalhando no mesmo ramo desenvolvem algumas cumplicidades. À parte disso, como passávamos os dias imersos num clima essencialmente sexual, eu escrevendo e ela filmando, não raro, à noite os impulsos carnais se faziam urgentes e recorríamos um ao outro para satisfazer tais necessidades.


Estranhamente, apesar de todas as bizarrices que eu escrevia e das trepadas um tanto intensas das quais ela participava, na cama éramos carinhosos e aconchegantes um com o outro. Porém, nem tudo eram flores…


Certa vez, numa cena de incesto escrita por mim, fui chamado ao estúdio com urgência. Marilyn, agora promovida a protagonista, havia surtado durante a filmagem, agarrara o ator que contracenava no papel de seu pai e insistia em que ele não poderia abusá-la. O ator no caso era conhecidamente um galã, escalado por ter um pau muito grande e bastante grosso - e agora, sentindo-se ultrajado, insistia em enrabar Marilyn à força. Contrariada, ela destruira metade do cenário, atirando no homem tudo o que estava ao alcance e xingando-o de canalha incestuoso.


Acalmá-la foi difícil, Marilyn parecia não me reconhecer nem dar-se conta de que nada daquilo era real. À noite, já em casa, me confidenciou algo que não imaginara. Marilyn havia crescido sem pai: um dia, quando ainda tinha por volta de sete anos, ele simplesmente saiu e não mais voltou. Desde esse episódio, ela sentia-se abandonada, sempre esperou que o pai voltasse e ainda nutria o desejo de um dia reencontrá-lo. Por isso encarava com tanta naturalidade haver se casado com um homem mais velho: para Marilyn, eu representava uma figura paterna.


Ainda no mesmo ano, acompanhei-a ao set para filmar outra produção, onde a principal cena do dia seria Marilyn sendo abusada por dois homens. Desta vez, vi com meus próprios olhos sua expressão ir transfigurando-se, seu gestual volver-se intenso e nervoso, o tom de sua voz tornar-se poderoso - e ali estava aquela outra mulher, esperneando durante a cena e agindo com extrema agressividade, até acertar um pontapé no olho de um dos atores e romper-lhe o nariz ao outro.


Desta vez, Marilyn só voltou ao normal no café da manhã do dia seguinte. Pode-se bem imaginar a origem do trauma, uma menina sem pai, crescendo numa casa onde sua mãe costumava trazer os namorados enquanto ela crescia. Sim, esta história é comum, os homens abusando da filha de sua namorada e a mãe fingindo não perceber nada, por medo de ser deixada. Não foi somente uma vez, nem foi somente um homem, alguns chegaram mesmo a dividi-la com amigos, em turnos ou ao mesmo tempo, explorando todas as suas intimidades.


Para este então, a carreira de Marilyn já havia decolado e ela se tornara a atriz mais conhecida do pornô nacional. As oportunidades para produções estrangeiras já começavam a aparecer e os convites onde eu a acompanhava agora eram para jantares e eventos muito bem frequentados. Seu pequeno universo se expandia, conhecíamos pessoas influentes do submundo erótico e todos pareciam se encantar com ela, havia algo mais ali: era como se Marilyn fosse etérea, ou evanescente, sempre cativando a quem quer que fosse com seu jeito tímido e sensual.


Pelo bem da sanidade mental de Marilyn, decidimos que ela mudaria de vez sua vida e deixaria para trás as produções comerciais. Marilyn abriu seu próprio canal, mais dedicado à nudez e masturbação que às baixarias usuais a que se acostumara - e começou a amealhar uma bela grana com anunciantes. Desta maneira, minha esposa se transformou na minha galinha dos ovos de ouro. Quanto a mim, bem, eu deixei de lado os roteiros idiotas e por fim pude me dedicar ao antigo projeto de escrever um livro.


A primeira mudança que notei foi em seu apetite sexual. Sem atuar naqueles filmes, Marilyn passou a me buscar todos os dias, invariavelmente. Mais que a frequência, o que chamou minha atenção foi a intensidade destes momentos. Marilyn agora estava mais impetuosa na cama, até mesmo voraz, eu diria. Se antes geralmente recebia meu membro deitada de costas, agora Marilyn se via inquieta nesta posição, vinha por cima e me cavalgava, fazendo-me apertar seus seios, queria que a comesse segurando suas pernas no ar, ou mesmo em pé contra a porta do quarto.


Isso foi progressivamente evoluindo e não demorou para que estivesse de quatro, as mãos espalmadas afastando as nádegas e ordenando: “Vem, safado, me enraba! Porra, mete de uma vez essa rola no meu rabo!”


Era como se estivessemos num dos filmes que eu antes escrevia!


Confesso que, para um homem já passado dos cinquenta, esse ritmo tão frequente de Marilyn me exigia até o esgotamento. Assim, enquanto eu progressivamente arranjava desculpas, Marilyn começou a aceitar convites para mais e mais festas e eventos, aos quais eu já não fazia questão de ir.


Em mais alguns meses, eu já me acostumara a novamente dormir sozinho e Marilyn quase nunca permanecia em casa no início da noite. Se ela dormia com outros? Provavelmente sim. Se eu sentia ciúmes? Não exatamente. Nunca me considerei seu dono, volto a ressaltar que a fragilidade de Marilyn era mais algo ensaiado para conquistar a simpatia dos demais e acrescentar um ar de sedução à sua pessoa.


Marilyn era uma força da natureza disfarçada num ar de fragilidade e doçura. Tentar dominá-la ou reprimir seus instintos, eu sabia, era despertar aquela outra mulher implacável que existia em seu interior. Ora, devido à nossa diferença de idade, para mim era fácil deixá-la livre e, apesar daqueles dois acessos inexplicáveis de raiva durante algumas filmagens de sexo explícito, nossa vida fluia bem.


Por outro lado, se eu não sentia ciúmes, sempre estava pendente de Marilyn. Mais que ninguém, eu sabia o quanto seu passado conturbado era capaz de aflorar inesperadamente e temia quaisquer possíveis consequências. Especificamente, lembro-me de um dia em que saiu de casa de peruca loira, roupas folgadas, echarpe no pescoço e óculos escuros.


Ora, isso era um disfarce, obviamente. Provavelmente não seria nada demais, Marilyn talvez só quisesse ir à casa de alguém sem ser notada. Havia se tornado a atriz mais sexy do erotismo internacional, era tida como uma das mais belas entre os famosos e o seu jeito frágil e tímido agora despertavam legiões de fãs, o que deveria ser bem incômodo. Mas afinal, ela havia chegado onde queria.


Ao longo de um ano, vi Marilyn transformar-se novamente. Já havia um segundo guarda-roupa só de roupas comuns, uma coleção de perucas, outra de chapéus e uns tantos pares de óculos escuros à sua disposição. As festas, jantares e eventos já não lhe fascinavam e quase todas as noites ela saía disfarçada. Quando eu eventualmente me atrevia a perguntar aonde ia, suas respostas eram evasivas. Eu não sou ingênuo, isso provavelmente era algum amante, então achei por bem não perguntar mais.


Mais um ano se passou e definitivamente aquele era nosso apogeu. Apesar de meu livro ter sido um completo fracasso, eu também era assediado nas ruas, muito embora sempre ouvisse aquele incômodo comentário: “Você não sabe quem é? Ora, ele é casado com a Marilyn, a musa do erotismo!” Fora isso, minha carreira estagnou e eu já não escrevia mais nada.


Quanto a Marilyn, ela havia assinado um grande contrato de exclusividade com a maior grife de lingerie do mundo e sua página recebia uma média de dois milhões de visitantes por dia. Era um fato, Marilyn estava entre as dez pessoas mais influentes das redes e aparecia em praticamente todos os tipos de aplicativos, desde os destinados à preservação do meio ambiente até os de desenvolvimento de alta tecnologia.


O mais estranho é que durante todo este tempo em que Marilyn mantinha sua rotina de sair à noite disfarçada, ela sempre voltava para casa em meio à madrugada e eu podia observá-la ao meu lado dormindo quando me despertava. Mas então veio aquela manhã em que acordei sozinho na cama.


Pode até haver sido um exagero, mas fiquei desesperado durante a primeira semana. Perguntei a seus colegas, busquei junto aos assessores, procurei nos hospitais, liguei para a polícia, cheguei mesmo a ir conferir os cadáveres no necrotério, mas nada de encontrar minha esposa. O que haveria ocorrido com Marilyn? O que a teria feito abandonar tudo? Terminei contratando um uma agência de detetives particulares.


O tempo passava, o assédio da mídia por notícias dela foi esmaecendo, seus contratos de publicidade foram sendo cancelados um após o outro, sua página na internet permaneceu sem nenhuma atualização e Marilyn progressivamente foi desaparecendo das redes sociais. O desespero tomou conta de mim a partir de uma simples pergunta: como eu ganharia dinheiro sem Marilyn?


Todo o império de sacanagem que construímos nos últimos cinco anos havia ruído em menos de dois meses e agora ninguém mais perguntava por Marilyn. Mas eu não desisti, continuei gastando nossas economias com a investigação particular e estava determinado a encontrá-la. Eu necessitava de respostas, quaisquer que fossem, necessitava dela financeiramente e isso agora estava acima de tudo!


O fio da meada dos detetives foram as saídas incógnitas diárias de Marilyn durante as noites em que nossa relação já esfriara. Segundo me relataram, ela ia sempre ao mesmo lugar, um bar simples desses de bairro, lá na zona norte da cidade. Em geral, limitava-se a tomar uns tragos e permanecer olhando os clientes, nada mais.


A única curiosidade sobre o tal boteco era estar no mesmo bairro onde ela residira até os sete anos, quando o pai a havia abandonado. Fora isso, este curso de investigação parecia ter chegado a um beco sem saída. Mas aí ocorreu-me contar aos detetives sobre o trauma que este abandono havia criado em Marilyn, sobre tudo o que lhe ocorrera nos anos seguintes, sua infância roubada e os abusos a que fora submetida por padrastros inescrupulosos.


“Isso é importante! Essencial! Porque você não mencionou antes?” - Foi o comentário de um deles.


Ora, eu não havia dito nada sobre o passado de Marilyn porque isso não dizia respeito a mais ninguém! Ela era uma personalidade e tais histórias somente a prejudicariam! Mas agora, diante das misteriosas circunstâncias de seu desaparecimento, não parecia-me mais tão importante manter o silêncio.


Mais um mês se passou até os investigadores me procurarem. Haviam revirado os clientes do tal boteco, ninguém sabia de nada. Mas encontraram algo um tanto promissor, um dos clientes habituais, homem, na casa dos cinquenta e poucos, também havia deixado de frequentar o lugar. Haveria aí algum vínculo? Não podiam afirmar, mas a investigação se concentraria neste cliente por não terem outras pistas a seguir.


Os detetives levaram quase dois meses, praticamente bateram de porta em porta naquele bairro da zona norte fornecendo a descrição do tal homem e do disfarce de Marilyn, perguntando se alguém os tinha visto ou se sabiam de seu paradeiro.


Uma senhora de idade e visão pouco confiável afirmou que a descrição era compatível com o homem que alugou um quarto nos fundos de sua casa por uns tempos. Disse ainda que numa noite o tal homem levou uma mulher loira, aparentemente muito mais jovem. Depois de ruídos que indicavam estar ocorrendo algo nada pudoroso no quartinho durante a madrugada, já na manhã seguinte, ele acertou as contas e foi embora. Ela não viu quando a loira saiu nem teve mais notícias do tal homem.


Ernesto Correia fora o nome indicado pela velhota e era por onde seguiriam as investigações. O problema é que este era um nome um tanto comum, e o tal Ernesto poderia ter se enfiado em qualquer lugar, sabe-se lá onde. Enquanto os meses passavam e os detetives seguiam gastando meu dinheiro, houve um especial na televisão sobre “O Caso Marilyn” que reacendeu o interesse público.


Subitamente, minha agenda se viu lotada de entrevistas onde eu suplicava por qualquer informação sobre o paradeiro de minha esposa. Mais que isso, houve um movimento recorde de curiosos na página de Marilyn e as companhias anunciantes reativaram todos os contratos, as cenas de filmes do passado na indústria pornô recebiam milhares de visitas em diversos canais e a sua fotografia aparecia em mais aplicativos que antes.


Eticamente correto ou não, eu ainda era seu marido e minha conta bancária transbordava com os direitos sobre a imagem de Marilyn. Naquele período, recebi mais dinheiro do que minha esposa havia ganhado em toda a sua carreira. A verdade é que Marilyn valia mais possivelmente morta do que viva.


Da mesma maneira, eu também valia mais agora, minha constante aparição nas redes sociais e a febre sobre Marilyn me levaram a escrever um livro sobre o caso, onde eu falava abertamente sobre os detalhes até então ocultos de seu passado e as últimas descobertas sobre seu desaparecimento.


Bem, todos sabemos sobre os encantos da fama e o poder do dinheiro, como destroem o caráter e desvirtuam as melhores intenções. Eu dizia que tudo aquilo era para ajudar a encontrar Marilyn, mas na verdade estava adorando ser o centro das atenções. Mais que isso, haviam também as mulheres, jovens, atraentes, disponíveis, todas desejando um pedaço de mim para alavancar suas carreiras, tal como Marilyn havia feito.


Agora eu era o gênio, o mago, o “homem por trás de Marilyn, a mulher tímida e frágil que não conseguiria nada na vida sem mim!”


Eu desfrutava de todo esse sucesso, subjugando uma fêmea diferente a cada noite, exigindo sexo oral em troca de posar numa selfie com elas, ou mesmo aproveitando para meter no traseiro de uma que outra em troca de fazer menção de seus nomes em alguma entrevista. Teve até uma que bateu em minha porta, já foi entrando, tirando a roupa sem pudores e dizendo que ia dar para mim porque seu agente mandou, argumentando que “se você quiser ter alguma chance no pornô, tem que dar tudo o que o marido da Marilyn quiser, pois o cara é quem dá as cartas hoje em dia!”


Foi então que os detetives voltaram a me procurar.


Merda, mas o que eles queriam agora? Haveriam descoberto o paradeiro de minha esposa? Pelos céus, tomara que não! Isso acabaria com meu atual estilo de vida e eu estava indo muito bem sem aquela vaca por perto!


Pensei em demitir os detetives e encerrar as investigações, mas calculei que isso afetaria minha imagem ante o público. Por outro lado, conclui que eu não podia descuidar, se houvesse alguma novidade sobre seu desaparecimento, isso tinha que passar primeiro por mim, para que eu decidisse como administrar as coisas.


Meus instintos estavam certos. Seguindo uma das inúmeras pistas falsas que chegavam até os investigadores desde o público sensibilizado pelo mistério do “Caso Marilyn”, eles foram dar numa pacata cidadezinha do interior. As fotografias eram ruins, haviam sido tomadas à distância e sem equipamento apropriado, nem dava para ter certeza de que era ela - mas bem poderia ser. Mostravam apenas cenas domésticas, com uma bela jovem realizando tarefas usuais, tais como esfregar roupa no tanque ou lavar a calçada.


Curiosamente, minha atenção não estava tanto na possível Marilyn: eu não conseguia parar de olhar para as fotografias do homem, supostamente seu novo companheiro. De estatura baixa, barriga proeminente e poucos cabelos grisalhos e desalinhados, ele definitivamente conseguia ser bem pouco atraente. Mais que isso, parecia ser um tanto vulgar, trajando short, uma camisa de botões aberta no peito e levando chinelos.


Ele parecia ser um velho qualquer!


Então aquele seria o tal Ernesto? Mas que diabos vira Marilyn neste homem? Pois nada é tão ruim que não possa piorar. Segundo os detetives, de sexta à domingo, na casinha humilde da pacata cidade em que viviam, dava-se um movimento masculino extraordinário. Ao parecer, eram todos homens de meia idade que entravam e saiam de lá, às vezes sozinhos, às vezes em grupos. Para os investigadores, o tal Ernesto provavelmente estava explorando Marilyn sexualmente e vendendo seu corpo como meio de vida, pois ele parecia não ter emprego.


Era aviltante, se isso viesse a público, não somente o mistério seria desfeito como também todo o mito de Marilyn - e com ele, também se diluiria meu sucesso. Não, eu teria que tomar uma atitude, tinha que levar a dianteira do desenrolar dos fatos, ajeitar tudo para que eu não saísse tão mal assim, afinal, quem deseja ser visto como o corno que foi trocado por um velho asqueroso qualquer e que, ainda por cima, estava prostituindo sua ex-esposa que o abandonou?


Suspendi as investigações, dizendo que eu mesmo desejava averiguar os fatos. Na manhã seguinte eu já estava diante da tal casinha lá no interior, observando. Uma jovem saiu brevemente para retirar os sacos de lixo. O cabelo pintado de loiro e os óculos escuros podiam até enganar outra pessoa, mas não a mim: aquela realmente era Marilyn, seus gestos e a maneira como se movia me eram mais que familiares!


Ao final da manhã, pude ver o tal Ernesto saindo de casa, levando short, chinelas e uma camisa de time de futebol muito velha e apertada na cintura. Sua figura era ainda pior do que nas fotos! O segui e constatei que se dirigiu até uma pracinha, onde, sentado num banco, recebia a outros homens que chegavam e saíam. Me dirigi até ele, curioso em descobrir o que fazia.


Era jogo de azar, Ernesto fazia as apostas do jogo do bicho na cidade - pelos céus, aquilo só piorava!


Apostei dez reais na cobra, somente para puxar assunto. O homem era um falastrão, não foi difícil descobrir mais. Quando disse que eu vinha da capital, contou-me que antigamente costumava ir lá de tempos em tempos, mas que agora já não saia mais: havia tirado a sorte grande, conhecido uma jovenzinha que era louca por ele e fazia todas as suas vontades, com a única condição de que não viajasse mais para lá.


Quando lhe respondi que era compreensível e que eu mesmo tinha um apetite por mulheres mais jovens, ele olhou para os lados, verificando se ninguém podia escutar e me propôs que, se eu estivesse disposto a pagar, podia arranjar um encontro com a tal garota, pois ela dava para quem ele mandasse. Fiquei embasbacado, mas ele entendeu que eu estava indeciso.


Para me estimular, seguiu falando: “Olha, você não vai se arrepender, essa menina é profissional, muito bonita mesmo. Por cinquenta reais eu mando ela te dar um trato especial, tô falando de você meter no cuzinho dela durante uma hora, sacou? Então, você pode ir agora mesmo, eu mando uma mensagem e ela vai estar lhe esperando de pernas abertas e brioquinho piscando!”


Essa era minha oportunidade de falar com Marilyn a sós, então terminei aceitando e fechando o negócio.


Caralho, de musa sexy internacional a putinha de cinquenta reais, como ela podia haver descido tão baixo? O que poderia justificar submeter-se aquele homem asqueroso, justo quando sua vida ia tão bem e ela havia logrado tudo pelo qual havia trabalhado arduamente, dando para quem tinha que dar e expondo seu corpo a todo mundo durante anos?


Depois de haver tocado a campainha e escutar a voz feminina dizendo para entrar que a porta estava aberta, deparei-me com a figura de Marilyn nua, sentada no sofá e com as pernas abertas, esperando-me tal como Ernesto havia mandado. Ela não aparentou nenhuma surpresa ao dar-se conta de que o tal cliente “que está chegando para foder o seu rabo” era eu. Mais bem, somente olhou-me nos olhos e disse: “Ah, é você. Eu sabia que um dia você iria aparecer, só não imaginei que fosse como um cliente a mais.”


Foi uma longa conversa, onde dei-me conta de que Marilyn estava realmente desinteressada de tudo, a fama, o sucesso, o dinheiro, nada disso lhe importava mais. Estava realmente satisfeita com sua vida, por mais aviltante que aquilo tudo me parecesse. Antes de sair, perguntei a Marilyn qual a razão daquilo, porque havia aberto mão de tudo, tudo mesmo, para ficar com um homem como Ernesto e ainda se submeter a ser prostituída por ele. Eu precisava saber.


Marilyn, com seu ar falsamente frágil e sensual, deu um pequeno sorriso e explicou: “Mas, você não se deu conta? Ernesto é meu pai, aquele que procurei por toda a minha vida. O encontrei no mesmo bar que ele costumava ir quando eu era criança, aquele que eu frequentava todas as noites, disfarçada. Depois que fodemos, ele levou muito tempo até acreditar que eu era sua filha. Para ser sincera, acho que até hoje ainda não crê, ou não deseja crer, não sei, não importa. Só sei que eu sou feliz só por estar com ele, ainda que tenha de me prostituir. Mas isso é até um ingrediente a mais, eu gosto, é como se eu estivesse voltando à minha infância.”


Pois bem, como eu dizia, a vida real consegue superar em muito qualquer criação humana. Quando comecei a escrever este relato, desejava apenas que fosse o esboço para um livro dando continuidade ao mistério do desaparecimento de Marilyn.


Jamais, em momento algum, imaginei que por trás de tudo estivesse apenas o capricho de uma menina abandonada pelo pai, que a levaria a um desejo incestuoso, o qual me fez rico, famoso e colocou à minha disposição mulheres que eu jamais teria.


No final, vejo que esta não é uma história sobre Marilyn. Esta é uma história sobre mim mesmo.


Nota: A Série “Mentes Misteriosas” é uma coleção de histórias cortantes que escrevi faz algum tempo com o propósito de explorar a mente humana e seus desvios de entendimento. Novamente, não são contos fáceis e provavelmente desagradarão a alguns, por isso, compreendo se este for o seu caso. Mas, se eventualmente você gostar, recomendo reforçar a dose diária dos remedinhos, porque não está funcionando.

*Publicado por Bayoux no site promgastech.ru em 30/05/24.


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