Afete-se
- Temas: Fetiche, Lésbico, Festa, Shibari, Amo
- Publicado em: 11/04/25
- Leituras: 814
- Autoria: Mel_Noir
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Todos os meus contos começam com "tédio", e esse não seria diferente.
Era mais um dia comum e eu, como a boa montanha-russa emocional que sou, precisava de aventuras. Por sorte, um amigo me mandou mensagem me convidando para uma festa que ele mesmo organizava na cidade onde moro. De início, resisti — era algo fora da minha zona de conforto —, mas ele insistiu, e eu, movida pela curiosidade e pelo desejo de sentir algo, aceitei.
Perguntei o que se usava numa festa fetichista. Ele respondeu com a simplicidade de quem já tinha visto muito mais do que eu podia imaginar:
— Preto.
Peguei minha meia-calça de renda e improvisei um top curto. Vesti um shortinho preto, bem justo, e uma lingerie rendada por baixo. Nos pés, um coturno — minha tentativa de parecer empoderada. Mal sabia eu que, naquela noite, eu me entregCarola ao prazer de um jeito que nunca antes.
O preto contrastava com a minha pele clara. Meus olhos castanhos, ansiosos, buscavam algum ponto de segurança no ambiente escuro, mas tudo ali era novo, provocador. As pessoas usavam máscaras de gás, de borracha, de cachorro... Havia coleiras, camisas de força, cintos penianos, acessórios que pareciam saídos de um outro mundo — um mundo onde os corpos falavam mais do que as palavras.
Mas o que mais me impressionou foi o fato de que todos ali realmente vestiam seus personagens. Mesmo em coleiras, mesmo presos, pareciam mais livres do que eu jamais fui. Tomei uma taça de alguma bebida — não sei o que era, mas queimava como coragem — e decidi me permitir.
Eu não sabia qual era a minha área. Mas sabia que estava pronta para descobrir.
Caminhando pela "Afete-se", fui atraída por um quarto de shibari onde algumas pessoas assistiam por trás de um vidro. Havia uma sensualidade silenciosa ali. Entrei, tirando a roupa com naturalidade — fiquei apenas de lingerie. O praticante se aproximou. Em dois minutos de conversa, ele me tinha nas mãos. Aqueles lábios carnudos, a maneira como escolhia cuidadosamente cada palavra, a voz baixa e firme… eu só sabia dizer sim.
Ele me colocou de joelhos com delicadeza, como quem convida, não como quem manda. Amarrou minhas mãos atrás das costas. Meu coração já batia forte, mas era o olhar das pessoas do outro lado do vidro que me fazia pulsar. A vergonha se transformava em tesão.
A corda era uma extensão das mãos dele — uma corda áspera, precisa. Passou pelo meu pescoço, desceu pelos ombros, ventre, até a virilha. Eu me tornei um presente amarrado para ser desembrulhado com desejo.
Ele me explicou, com toda a calma:
— Agora vou te bater com a mão. Se quiser parar, é só dizer.
O primeiro tapa veio abafado, como se minha pele tivesse absorvido o som. Fiz um "hum" quase imperceptível. Permaneci calada. Vieram mais tapas. Cada um mais firme, mais decidido. Ele testava meus limites, e eu passava em cada etapa com gosto. Foram 15 palmadas. E como eu fui forte, ele disse que eu merecia um bônus.
Veio o chicote.
Não era dor, era intensidade. Cada ponta tocava minha pele como se dançasse sobre ela, uma a uma, cuidadosa, cruel. Minha palavra de segurança era uma provocação:
— Me come.
Mas ele sabia que não era hora.
A cada vez que eu gritava, ele batia mais forte. E quanto mais batia, mais meu corpo reagia — minhas pernas se contraíam, minha buceta latejava de tanta excitação. Eu queria ser possuída ali mesmo, sem contexto, sem amarras — ou talvez com todas elas.
Mas não. A sessão tinha um tempo. E o tempo, maldito, acabou.
Ele parou. Desamarrou meu corpo, mas minha mente ainda estava presa àquela sensação. Vesti minha roupa devagar, quase em luto. Quando saí do quarto, percebi os olhares. Algumas pessoas vieram perguntar como foi. Eu só pensava em ir ao banheiro. Precisava me secar. E entender o que tinha acontecido comigo ali dentro.
Entrei no banheiro com as pernas trêmulas e o coração ainda martelando no peito. A luz era baixa, avermelhada, e o som abafado da música eletrônica do salão chegava como um eco distante. Apoiei as mãos na pia, olhei meu reflexo no espelho. A pele vermelha em alguns pontos, os olhos brilhosos. Eu não sabia se ria ou se chorava. Mas sabia que queria mais.
— Você está bem?
A voz veio da lateral. Virei e encontrei Carol, uma amiga de outros carnavais — morena, de pele quente, cabelos longos e volumosos que caíam como uma cascata escura sobre os ombros. Tinha uma beleza exótica, quase hipnotizante, que lembrava as mulheres indianas que sempre admirei nos filmes: olhos profundos, lábios carnudos, um olhar que dizia tudo sem precisar de legenda.
Ela estava encostada na parede com um copo na mão e aquele sorrisinho enviesado, de quem sempre sabe mais do que diz.
— Você... Viu? — perguntei, tentando esconder a mistura de vergonha e orgulho.
Ela deu um gole na bebida e respondeu:
— Vi. Foi lindo. Você ficou linda. Quase chorei de tesão.
Rimos. Mas não era piada. A tensão entre nós sempre existiu, mas nunca se materializara em toque. Até aquele momento. Carol largou o copo na pia, veio até mim e colocou a mão no meu rosto, bem devagar.
— Posso?
Assenti. E quando nossos lábios se encostaram, senti que meu corpo ainda não tinha terminado a sessão. Pelo contrário — estava só começando. As mãos dela desceram pela minha cintura, contornaram meu quadril, me puxaram pra mais perto. Minha pele ainda sensível arrepiava com cada toque.
Ela sussurrou no meu ouvido:
— Você quer que eu cuide de você?
Mal consegui responder. Só soltei um gemido abafado.
Encostou-me na parede do banheiro. Beijou meu pescoço com calma e, quando escorregou a mão por baixo do meu shortinho, minha respiração falhou. A ponta dos dedos dela tocava minha excitação com precisão, circulava meu clitóris com ternura de quem sabe o que está fazendo. A outra mão foi para minha boca, pedindo silêncio. Mas eu mal conseguia me conter.
Em poucos minutos, meu corpo se entregou em espasmos pequenos, molhados, sussurrados. Eu me desfiz ali, entre os azulejos e a pele de Carol. Quando meus olhos voltaram ao foco, ela sorria satisfeita, como quem acabara de fazer arte.
— Sua vez — eu disse, puxando-a com fome.
Afastei sua calcinha com delicadeza e mergulhei os dedos entre suas pernas com o mesmo cuidado que ela teve comigo. Observei cada expressão, cada mordida no lábio, cada contração das coxas. Era como se dançássemos sem som. Quando ela gozou, encostada em mim, com a cabeça tombando no meu ombro, senti que algo em nós tinha mudado para sempre.
Nos recompusemos rindo, como duas meninas que aprontaram na aula.
— Vamos pra pista? — ela disse.
— Vamos causar — respondi.
Voltamos para a pista, onde o som nos atravessava como ondas de energia. Os corpos suavam, se roçavam, os olhares eram convites silenciosos. Foi quando dois homens jovens que tinham por volta de seus 20 anos se aproximaram. Um de cabelo raspado e sorriso largo; o outro, com uma aura misteriosa e olhos verdes que pareciam enxergar através da pele.
Não houve palavras.
Carol foi puxada pelo de olhos verdes. Eu, pelo outro. Dançávamos juntos, colados, os toques cada vez mais ousados. Eles nos beijaram com sede e depois trocaram, como quem já sabia o gosto. E a pista virou um transe: quatro bocas se misturando, mãos que não sabíamos mais de quem eram, corpos se fundindo em um só ritmo.
Carol me olhava por cima do ombro dele. Nós duas sorríamos como cúmplices de um segredo proibido.
E ali, no meio da multidão, a noite recomeçava.
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*Publicado por Mel_Noir no site promgastech.ru em 11/04/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.
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