Tentações cruzadas 01 - Conexão

  • Temas: traição
  • Publicado em: 09/04/25
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  • Autoria: TurinTurambar
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Desde criança, Caio era uma criança introspectiva. Sua preferência pela solidão se tornou consequência de uma natural dificuldade em interagir com outras crianças. Esse traço de sua personalidade não apenas o impediu de se relacionar com outras pessoas, como atraia atitudes maldosas de crianças em sua volta. Ele provavelmente teria uma infância e adolescência bem difíceis, se não fosse por Renan.

O amigo demonstrava um senso forte de justiça ao não admitir que Caio fosse vítima de qualquer maldade quando não conseguia se defender. Renan foi além. Durante todo o tempo, Caio sempre teve Renan ao seu lado e assim nunca se sentiu sozinho, apesar de sua introspecção. Confiava nele como não confiava em mais ninguém, fazendo de Renan seu confidente. Com a ajuda de Renan, ele conheceu e conquistou o coração de sua primeira namorada, apesar de sua timidez.

Renan ajudou Caio a estudar e juntos entraram na faculdade. Se formaram no mesmo ano, apesar de os cursos serem diferentes. Seu amigo fazia questão de tê-lo sempre junto e assim o ajudou a alugar um apartamento ao lado do dele. Sem outros amigos, Caio era levado por Renan em suas viagens e compartilhava com ele as vitórias que tinha na vida. O primeiro apartamento, o primeiro carro, assim como o casamento.

Ele acompanhou a história de amor do amigo, torcendo por ele. Quando se casaram, ele fez questão de estar presente, mesmo que se sentisse sozinho em festas. Lívia, a esposa de Renan, era vista como uma irmã, assim como Renan era seu irmão. Talvez fosse mais do que isso, pois ele via o amigo como um herói.

Apesar disso tudo, a vida de Caio não era perfeita. Mesmo com a ajuda de Renan, ele sentia sua vida incompleta. Seus relacionamentos fracassavam, pois ao longo do tempo sua apatia e introspecção se tornavam um problema. Ainda que Renan estivesse sempre presente, sentia-se um motivo de incômodo em diversas vezes. Era comum flagrar o casal aos beijos, muitas vezes lascivos, onde Lívia estava visivelmente constrangida. Morar próximo ao amigo também era complicado, pois o aluguel era caro, além do incômodo de constantemente ouvir Renan e sua esposa fazerem sexo. Sentia a necessidade de ficar mais tempo sozinho e, ao mesmo tempo, continuava dependente de Renan. As vezes se perguntava se o que sentia em relação ao amigo era admiração ou inveja.

Pensou em arrumar outro apartamento, em um bairro afastado, onde o aluguel fosse mais barato, mas tinha dificuldade em tomar decisões difíceis. Assim, deixou o tempo passar. Até que uma noite mudaria tudo.

Renan não escondia de Caio que seu relacionamento com Lívia passava por uma crise. O fogo entre os dois estava se esfriando e Lívia demonstrava cada vez mais seu incômodo. Para Caio, que acompanhou o relacionamento entre os dois desde o início, isso era estranho. Renan sempre expressava seu desejo por Lívia sem constrangimento, principalmente quando ele estava perto dos dois. A beleza da esposa não mudou e estavam casados recentemente demais para serem engolidos pela rotina. O problema era que Renan trabalhava demais. O jovem não havia crescido na vida tão rápido à toa e subiu de cargo subitamente na empresa onde trabalhava. Com isso, vieram novas responsabilidades e as chegadas ao trabalho mais tarde eram frequentes. Lívia reclamava de seu cansaço e, com o tempo, passou a desconfiar que as esticadas no trabalho poderiam significar alguma traição.

Caio se lamentava pelo amigo, principalmente por ter certeza do caráter dele. Seu amigo lhe contava dos flertes que recebia, principalmente de uma colega chamada Karina. Já havia visto fotos dela e se admirava com a capacidade dele de resistir aos encantos de uma mulher tão bela. Renan era um homem exemplar e Caio sabia disso. Talvez fosse exemplar demais.

Certa vez, os dois brigaram por uma viagem de negócios que Renan faria. O marido saiu em viagem com os dois ainda brigados, mas Renan deixou um pedido a Caio.

“ Meu amigo, cuide da Lívia. Ela anda chateada, mas logo isso passa. Enquanto eu estiver fora, veja se ela precisa de algo e não a deixe desamparada. Sei que posso contar com meu amigo.”

Estando a vida toda sempre sendo cuidado e protegido pelo amigo, Caio sempre se enchia de orgulho quando Renan lhe pedia favores. Qualquer responsabilidade dada a ele o fazia sentir melhor consigo mesmo, mesmo quando isso exigisse quebrar um pouco sua timidez. Qualquer injeção de confiança dada por Renan melhorava e muito a sua autoestima.

É claro que, enquanto ele pudesse fazer isso à distância, melhor. No primeiro dia de viagem, mandou uma mensagem à Lívia oferecendo ajuda para qualquer coisa que precisasse. Ela negou educadamente, o que trouxe a Caio reflexões sobre aquela mulher. Era comum Renan abraçar e apalpar Lívia na sua frente, em momentos em que ela reage prontamente. A esposa do amigo sempre o tratou gentilmente, porém distante, e Caio se perguntava se ela, por acaso, não o detestava por estar sempre no meio do casal. Assim, ele não mandou mais mensagens, deixando por conta dela procurar se realmente precisasse de algo. Em suas reflexões, pensava se ela não o via como uma pessoa estranha, o que era comum entre outras pessoas, dada a sua timidez. Assim, se resignou e deixou de acreditar que teria a oportunidade de ser útil ao amigo.

Porém, estava enganado.

Certa noite, ele se preparava para dormir quando seu interfone tocou.

“Oi, Caio, aqui é a Lívia. Quer assistir a um filme comigo? Não consigo dormir e não aguento mais ficar sozinha.”

Era tarde para assistir filmes, mas ele não perderia aquela oportunidade. Trocou de roupa e vestiu uma bermuda e uma camiseta. Com trinta anos, era magro, mas não muito. Tinha o cabelo raspado e o rosto liso. Sua estatura mediada o ajudava a estar discreto no meio das pessoas, onde normalmente andava com a cabeça baixa. Tinha a pele morena, os olhos pretos e escondia o sorriso o tempo todo.

Deu alguns passos da porta até o apartamento dos vizinhos, sendo recebido por ela. Lívia era uma mulher deslumbrante. Tinha um sorriso fácil, embora não o compartilhasse tanto com Caio. Seus cabelos loiros, longos e ondulados cobriam todas as suas costas. Tinha olhos verdes encantadores e curvas sinuosas, que Caio presenciou o amigo apertar diversas vezes.

Os olhos verdes de Lívia e um inesperado, apesar de tímido, sorriso, pegaram Caio de surpresa. Ele mal a cumprimentou e voltou a olhar para o chão. Assim que o fez, percebeu as coxas encorpadas da loira descobertas, pois sua vizinha aparentemente vestia somente uma camisa do marido. Entre as pernas e os olhos, Caio não sabia para onde olhar.

A falta de jeito do rapaz despertou um sorriso um pouco mais aberto na loira que o convidou a entrar. Ela pediu a ele se sentar no sofá enquanto fosse pegar a pipoca, que já estaria pronta. Sentado, ele a observava ir e voltar, desfilando o corpo voluptuosamente coberto por aquela camisa. O tecido desgastado deixava transparecer o tom avermelhado da calcinha, assim como seu desenho marcado. Parecia torta, com uma parte enfiada. Nos seios, nada sob a camisa, que se moldava perfeitamente naqueles volumes redondos. Deu graças a Deus por vestir uma cueca antes de sair de casa.

Lívia se sentou ao seu lado de pernas cruzadas, mas Caio nem tentou olhar o que poderia estar exposto. Aliás, manteve seu pescoço duro durante o filme inteiro, com medo de ter olhares indiscretos percebidos.

Em algum momento do filme, sentiu a mão dela em sua coxa, o que fez sua ereção disparar. Se lembrou das vezes em que flagrou Renan a beijando com desejo e como ele a apertava. Recordou, inclusive, da vez em que, sem querer ver, ele suspendeu o vestido dela e deixou a bunda exposta por uns instantes. Naquela vez, ele saiu de fininho, acreditando não ter deixado perceber sua presença, mas a memória nunca se apagou. Aquela mão quente sobre sua pele fez despertar nele desejos que sempre reprimiu, em respeito ao velho amigo. De repente, a mão deslizou em direção à virilha e sua reação foi olhar para ela, quando ela lhe puxou para um beijo.

— O Renan me pediu para cuidar de você, não posso fazer isso com ele. — Disse Caio, ao se esquivar.

Em toda a sua vida, Lívia sempre foi uma mulher desejada. Teve os homens que quis e sentia orgulho disso. A esquiva de Caio lhe ofendeu de duas formas, uma pela rejeição e outra pelo julgamento implícito, por ficar óbvio como ele a via como mulher.

— Me desculpa. Sou uma vagabunda, mesmo! Não devia ter feito isso com você. — disse Lívia, com os olhos marejados, antes de se levantar e se trancar no banheiro.

Caio tinha se assustado com a reação intempestiva dela. Sentia-se culpado por estragar tudo, mesmo tendo feito a coisa certa. Sentia-se na obrigação de consertar aquilo, mesmo sem saber como. Tinha dificuldade em conversar com as pessoas e mais ainda sob pressão, mas sendo incumbido por Renan a cuidar de sua esposa, precisava fazer aquela mulher se sentir melhor antes de ir embora. Assim, pela primeira vez em sua vida, ele tomou uma atitude que o colocou contra seus próprios receios.

Bateu delicadamente na porta do banheiro, pedindo para ela sair. Lívia o mandou ir embora, mas Caio insistiu. Foram longos minutos pedindo para ela sair, até que, mais calma, ela aceitou conversar com ele. O rapaz a levou até a mesa da sala, onde se sentaram frente a frente. Os olhos verdes, profundos da loira ainda o intimidaram, mas Caio se esforçou, olhando-a no fundo dos olhos, enquanto pedia desculpas.

— Eu que peço desculpas, Caio. Você não fez nada de errado. Pelo contrário, agora vejo porque o Renan gosta tanto de você. É um homem correto, ao contrário de mim.

— Não fale assim…

— É a verdade. Dei em cima de você, tentei trair meu marido e você nem ficou tentado. Antes de conhecer o Renan, eu era mais saidinha e gostava de provocar os rapazes. Não tinha um que não resistisse, mesmo os que fossem comprometidos. Faz tempo que nosso casamento esfriou e, nos últimos dias, fiquei pensando nos meus dias de solteira. Senti falta daquela emoção que bate quando você seduz alguém. Sabe como é, não é?

Caio, tímido, balançou a cabeça lentamente, com vergonha da própria resposta. Lívia bufou.

— É claro. Você é um rapaz muito correto. Eu é que sou uma puta.

Assistir ao autojulgamento de Lívia perturbava Caio. Queria falar algo para acalmá-la, mas parecia que todas as respostas eram erradas. Percebeu, então, que talvez não devesse falar dela, e sim, de si. O que era mais difícil.

— Você está errada. Não evitei o beijo por ser “certinho”. Fiz aquilo por ser muito… devagar.

Lívia franziu o cenho.

— Como assim?

— Devagar, lento, lerdo, quieto demais.

— Não entendi. Por que está falando isso tudo de você?

— Eu não consigo reagir tão rápido. Preciso de uma… — Caio olha para o teto, quase desesperado, em busca de uma palavra. — “conexão”.

— Conexão? Fala de estar apaixonado?

— Não. Vivo apaixonado por quem nem sabe que existo. Não sei se conexão é a palavra certa, mas é algo nos dois sentidos.

Pela primeira vez, Lívia viu algo além de um rapaz que o marido fazia questão de carregar consigo. Percebia que o homem na sua frente sofria para se expressar e se abrir. Não entendia direito a metáfora da conexão, mas percebia que aquele rapaz precisava falar sobre aquilo.

— Então, você está dizendo que só não me beijou porque não se sentiu conectado comigo?

Caio fez que sim.

— Por que não teve essa conexão comigo? Sou feia?

Caio abriu um sorriso, sem jeito.

— Claro que não. Nunca.

A ênfase na resposta fez brotar um sorriso discreto na loira.

— Então, por que não teve essa conexão?

— Porque sou devagar, lento, lerdo, quieto demais.

— Você está só se depreciando, parece que quer que eu te elogie.

— Só respondi sua pergunta. Aliás, você também estava se depreciando há pouco. Era para eu te elogiar também?

A invertida e o tom repentinamente ríspido da resposta fizeram Lívia se calar. Um silêncio se fez naquela sala enquanto Caio voltava seus olhos para a mesa. Ela sempre o viu como um amigo estranho do marido, por ser sempre quieto e pela primeira vez teve a noção do quanto aquele silêncio todo o incomodava tanto quanto a ela.

— Tudo bem, me desculpa. Olha, você não é tão lerdo assim como diz. Desde que entrei no banheiro, tentou me ajudar e está conversando comigo para me fazer sentir melhor. Logo você, tão quietinho.

O olhar de Caio voltou aos olhos verdes de Lívia. O rapaz sentia o esforço dela em compreendê-lo.

— Isso foi uma urgência. O Renan me pediu para cuidar de você e não podia te deixar triste daquele jeito.

— Então é o Renan. Você gosta mesmo dele, não é?

— É meu amigo desde a infância. Praticamente um irmão.

O jeito como Caio falava de seu marido impressionava Lívia, mas ela se perguntava se o esposo via o amigo da mesma forma.

— Pelo jeito que você fala, é bem claro que não me beijou por respeito a ele mesmo.

Caio abaixou a cabeça e olhou para a mesa mais uma vez. Respiro fundo algumas vezes antes de olhar profundamente nos olhos da loira à sua frente.

— Se fosse só por respeito a ele, eu não teria sentido vontade.

A frase poderia ter sido dita por qualquer galanteador, aos quais Lívia já recusara tantas vezes. Aquilo dito por um homem que respira fundo antes de dizer não teria efeito nenhum nela, mas Caio disse aquilo, olhando fundo nos seus olhos de tal forma, que mexeu com ela. A pele branca ruborizou escandalosamente a ponto da loira sentir seu rosto queimar. Um sorriso mais largo, dos dados até então, surgiu em seu rosto, mesmo que ela se esforçasse em contê-lo.

Caio, que nunca conseguiu deixar uma mulher sem jeito, também enrubesceu ao perceber o efeito do que falava. Os dois se olharam, vermelhos, e começaram a rir.

— Então, você queria mesmo me beijar?

Caio fez que sim, com um movimento da cabeça. Lívia fez uma expressão séria e se inclinou sobre a mesa, se aproximando dele.

— Vamos fazer o seguinte. Acho que essa conversa está fazendo bem tanto para mim quanto para você. Então, que tal a gente se abrir e sermos sinceros? O beijo já não rolou mesmo.

Caio respirou fundo e assentiu mais uma vez.

— Isso significa que o senhor vai me responder com palavras, nada de frases lacônicas ou esses gestos com a cabeça. Se quis mesmo me beijar, quero que fale em alto o bastante para eu ouvir.

— Tudo bem, eu assumo. Quis beijar você. Na verdade, senti uma certa — Caio pausa, em busca das palavras certas. — “Inquietação” desde que você me recebeu.

Um leve rubro se manifestou no rosto de Lívia, o que tornou seu discreto sorriso particularmente charmoso.

— Foi a minha roupa?

— Sim.

— Escolhi-a de propósito.

Caio não conseguiu conter o sorriso.

— Aliás, que bom que notou. Você parecia um robô que nem olhava para o lado.

— Tinha medo de você perceber, mas te olhei quando foi para a cozinha. É bem provocante quando ela cobre o quadril inteiro e deixa as pernas de fora.

— Sim. Quis te provocar, deixar você pensando se estou usando short ou calcinha.

— Não fiquei pensando. Dá para notar que é uma calcinha vermelha.

Lívia arregalou os olhos.

— Como assim? Dá para ver?

— Esse tecido é um pouquinho transparente… — Disse Caio, interrompido por Lívia ao se levantar e ir ao quarto.

— Olhando no espelho, eu não consigo ver a transparência — disse ela, ao voltar.

— É sutil, mas o bastante.

— Você está mentindo, está jogando um verde e eu caí.

— Não, tanto que o lado esquerdo está meio torto.

O rosto de Lívia voltou a queimar ao perceber que ele tinha razão.

— Você me paga! — disse ela, com um sorriso desconsertado. Após ouvir Caio reparar em sua calcinha, ajeitá-la se tornou inevitável, mas o fez ficando de frente para ele, demonstrando um mínimo de discrição. — Você é observador, até demais para um homem tão quieto.

— Me desculpa, às vezes é irresistível.

Caio se sentia cada vez mais à vontade para conversar e isso deixava Lívia curiosa. Conhecia aquele rapaz mais pelo que o marido contava do que interagindo pessoalmente. Quanto mais descobria dele, mais curiosa ficava.

— Sei… Não deve ser a primeira vez que ficou olhando a minha bunda. Já fez isso outras vezes, não é?

Caio assentiu com a cabeça.

— Lembre do que combinamos. Sem gestos, quero te ouvir.

— Sim, eu olho sempre que posso. — disse Caio, respirando fundo. — É difícil não olhar. Juro para você que não fico te secando e tento sempre ser discreto.

— Vocês, homens… então você me olha sempre, pois o Renan sempre traz você aqui em casa.

— Sim. Não me orgulho muito disso. Sei que não é adequado, mas… — Caio volta a olhar o teto, buscando palavras.

— É que sou muito gostosa, não é? — perguntou Lívia, com um sorriso lascivo no rosto.

— Sim, isso mesmo.

— Tem alguma mulher que esteja gostando hoje?

— Tem sim.

— Eu conheço?

— Não.

— Ela é gostosa como eu?

— Sim. — respondeu Caio, com um sorriso sem jeito no rosto.

— E como está essa relação de vocês?

— Não está. Ela não sabe que eu existo.

Lívia franziu o cenho.

— Como assim, rapaz? Você gosta dela e ela nem sabe de você.

— Bom, me apaixonar é fácil. Tudo que você precisa é do sorriso certo e você não consegue mais deixar de pensar nela. Convencê-la a querer algo com você é outra história.

— Caio, você é muito duro consigo mesmo. Saiba que é uma pessoa muito agradável de conversar, quando você se abre. Quando é só quieto, não tem mesmo como alguém se interessar.

— Eu não sei ser diferente.

— Bom, está sendo agora.

— Em circunstâncias muito incomuns.

— Pode ser, mas essas circunstâncias podem te ensinar algo sobre você. Acho que, depois de tudo que conversamos, vai ser mais confiante para conversar com sua amada.

Caio, ri.

— Será?

— Bom, você acabou de assumir que fica olhando a minha bunda quando eu não reparo. Já está bem sem-vergonha.

— Você pode estar certa.

— Me diz, a bunda dela é bonita?

— Claro que é — assumiu Caio, com um sorriso constrangido.

— Me fala, tem alguma fantasia com ela?

Enrubescido, Caio olha para os lados, como se pedisse ajuda.

— Deixa eu adivinhar: sexo anal!

O sorriso constrangido de Caio não era resposta o bastante para Lívia.

— Sim, eu tenho essa fantasia.

Lívia, então, ri.

— Qual o problema de vocês? Não se contentam com boceta e ainda querem o cu. Vocês são todos iguais. Até o Renan tem essas ideias.

— Qual o problema de a gente querer isso?

— O problema é que dói, não é? Não é no seu que vão meter.

Apesar do tom bravo de Lívia, Caio sorri. Já se sentia mais à vontade com aquela mulher o bastante para falar coisas cada vez mais íntimas.

— Não é uma questão de quem vai entrar, mas sim de “entrega”.

A loira percebeu o rapaz mais à vontade para falar e tentou deixá-lo à vontade.

— Me explica isso melhor.

— Bom, o anal vai além do trivial, então é uma entrega maior por parte da mulher. Simples assim.

— Qual a graça de me “entregar mais” e sentir dor?

Caio, mais confiante, apoiou-se pelos cotovelos, se debruçando na mesa para se aproximar de Lívia e sussurrar a ela.

— Primeiro, esqueça a dor. Há meios de contornar isso, desde lubrificantes até brinquedos que fazem seu corpo se acostumar. Agora, nunca se imaginou ficando de quatro, oferecendo seu corpo ao Renato enquanto é penetrada naquele lugar proibido? Pense que ali é mais apertado e que você pode senti-lo melhor dentro de você, em toda a sua grossura. Você pode fazer um teste e experimentar um dedo. Do Renan ou o seu mesmo. Mais do que a sensação de ser invadido, você vai se sentir mais travessa do que nunca.

Lívia prestou atenção em cada palavra dita lentamente por Caio. Sensações invadiam sua imaginação a cada descrição e uma mordida nos lábios se tornou inevitável.

— Se ficou assim só de imaginar, pensem em como ficaria Renan ao ter essa entrega toda para ele.

Ao perceber que sua expressão não era nada discreta, a loira enrubesceu, como das outras vezes. Dessa vez, também exibia um sorriso largo e incontrolável.

— Meu Deus, não acredito que estou tendo essa conversa. Para um cara tímido, você fala bem demais. Acho que essa garota de quem gosta não sabe o que está perdendo.

— Se você diz, eu acredito. Quando a você?

— Eu? — a loira arregalou os olhos.

— É. Você deve ter fantasias também. Se não é sexo anal, seria o quê?

— Não quer adivinhar? — Provocou Lívia.

Caio respirou fundo. Torceu os lábios, enquanto olhava a loira na sua frente. Ela cruzava os braços numa pose desafiadora, mas que espremia os seios, evidenciando seus volumes. Olhava suas formas sem o menor constrangimento, num esforço de não se intimidar enquanto pensava em sua resposta.

— Menáge.

— Sim. Com dois homens — disse Lívia com um sorriso sereno. Naquela altura da conversa, já tinha Caio como um amigo confiável, com quem podia se abrir sobre qualquer assunto.

— Me fale mais — provocou Caio, na sua vez de lançar um sorriso desafiador.

Lívia respirou, se ajeitou na cadeira, descruzou e cruzou as pernas de novo. Mordeu os lábios enquanto escolhia as palavras.

— Reclamei mais cedo dizendo ser uma vagabunda, mas a verdade é que gosto de me sentir assim. Me imagino com dois, às vezes até mais, homens me tocando, como se eu fosse o brinquedo deles. Eles passariam a mão em mim, invadindo as minhas roupas, até o momento em que as arrancassem de mim. Eu seria posta de joelhos para chupar cada deles. Essa submissão me excita, principalmente com mais de um homem. O melhor vem depois, com eles se revezando em me comer. No fim, eles iriam gozar no meu corpo, como se tivessem me marcando como uma puta.

Caio ouviu toda a descrição, boquiaberto. Sua cueca começava a ficar apertada.

— Como você adivinhou a minha fantasia?

— Eu chutei.

— Caio, fala a verdade — repreendeu Lívia, com um sorriso no rosto.

— Pelas suas reações quando o Renan te agarra. Na maioria das vezes, você briga com ele, mas tem alguns momentos que não consegue controlar o sorriso.

Lívia olha para o lado e sorri.

— Você percebeu. Gosto quando me olha sendo agarrada. Como você é muito quieto, não dá para entender o que você pensa, mas às vezes eu me permitia fantasiar com você, querendo me comer.

— Por isso que tentou me beijar hoje?

— Sim. Lembro da vez em que ele subiu meu vestido e deixou minha bunda inteira aparecendo. Morri de vergonha, mas, ao mesmo tempo, fiquei excitada como em poucas vezes. Você lembra?

— Lembro. Pensei ter saído de fininho sem ser percebido.

— Ahh, eu percebi. Você saiu, mas ficou tempo o bastante para me olhar.

— Você fica bem naquela calcinha preta.

Lívia riu, enquanto seu rosto corava mais uma vez.

— Não sei se agradeço ou se te bato!

Caio gargalha.

— Perdão. Acho que estou falando demais.

— Não se desculpe. A conversa está ótima.

— Se o Renan faz isso com você, por que nunca realizou essa fantasia?

— A fantasia é só minha. Meu marido gosta de me exibir, mas não quer outro homem tocando em mim. Já outra mulher…

— Então ele também gosta de menáge.

— Bom, a gente combina, não é? Ele gosta da mesma coisa do que eu.

Caio torceu os lábios.

— Não é bem o mesmo.

— Por que não?

— Bom, você fantasia em ser o objeto de dois homens, mas a fantasia com duas mulheres envolve o prazer entre elas também.

— Não pensei nisso — disse Lívia, pensativa.

— Nunca imaginou em beijar uma mulher?

— Não. Gosto de homem mesmo — respondeu, rindo.

— Pensa como seria tocar um corpo macio como o seu, beijá-la e sentir os seios dela se amassarem ao seu corpo. Ou talvez ela se esfregue em você, espalhando a própria excitação pelo seu corpo.

As palavras de Caio entraram no ouvido de Lívia e desceram até o meio de suas pernas, a esquentando. Ela cruzou de pernas duas vezes, apenas como pretexto para esfregá-las entre si. Um sorriso se desenhou no seu rosto sem ela perceber, assim como não percebeu os bicos dos seios enrijecerem sob a camisa.

— Você parece gostar demais dessa fantasia para gostar de uma garota só. Não tem ninguém para fantasiar com ela?

— Acho que agora tenho.

Os dois se olharam, profundamente. Os sorrisos trocados, apesar de discretos, eram carregados de malícia. Assim, Caio sentiu ser a hora de ir, antes de fazer algo de que se arrependesse mais tarde.

— É melhor eu ir. Já está bem tarde. — disse Caio ao se levantar.

— Isso tudo é por minha causa? — brincou Lívia, olhando para o volume no short.

— Não vou dizer que não. Não consigo contar uma mentira tão grande. — respondeu Caio, sem o menor constrangimento, após tudo o que conversaram.

Lívia levou o vizinho até a porta e se despediu. Deu-lhe um abraço, onde se aproveitou e o apertou contra si, sentindo o desejo do rapaz expresso naquela ereção.

— Adorei a conversa. Finalmente entendi o que você quer dizer com “conexão”. — disse Lívia ao dar em Caio um beijo no rosto.

Lívia fechou a porta e correu para seu quarto. Jogou a camisa em qualquer direção e tirou a calcinha. Olhou para a peça e viu o quanto estava úmida. Ajoelhada na cama e ainda com as palavras de Caio na memória, ela deslizou o dedo na boceta melada até o encharcar. Levou o mesmo dedo atrás e o sentiu deslizar por entre suas pregas. Era uma sensação incomum e nem tão prazerosa quanto pensava. Se lembrou, então, da fala de Caio sobre se entregar e fechou os olhos. Iniciou um vai e vem com o dedo atrás, enquanto na frente a outra mão estimulava o clitóris. Se imaginava penetrada por dois homens ao mesmo tempo, e um orgasmo explosivo não demorou a vir. Com o corpo tremendo, Lívia desabou nua na cama e permaneceu ali, até acordar no dia seguinte.

Caio voltou para seu apartamento radiante. Estava feliz por não trair o amigo, além de contornar a mágoa da esposa dele. Teve uma conversa incrível com uma mulher linda, que o fez sentir confiante como nunca na vida. Foi uma noite especial.

Pelo menos era o que ele pensava.

*Publicado por TurinTurambar no site promgastech.ru em 09/04/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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