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Arlquino vs Jesteria 1º Episódio - descrição do barco e poesia

  • Conto erótico de bdsm (+18)

  • Temas: poesia, amor, ciúmes,
  • Publicado em: 14/02/24
  • Leituras: 242
  • Autoria: Philippe
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Era uma vez um cruzeiro de luxo proveniente das paradisíacas ilhas das Caraíbas que navegava em rumo ao quase intocado continente da Antártida. Cerca de mil almas kinky, e quiçá, o que não tem nada a ver, alguns psicopatas, buscavam divertimento, paisagens naturais, sexo e espectáculos inesquecíveis. Apesar do seu tamanho relativamente modesto, pode-se dizer que nada faltava no Entertainment, nome dado ao cruzeiro. Cabines individuais acessíveis até para os menos abastados, a maioria delas eram equipadas com uma casa de banho, sendo raras as que não incluíam uma sala de estar. Um cabaré que também servia de cinema, inúmeros bares e restaurantes, uma sala de musculação, campos de ténis e de basket, além de várias piscinas. Diversas lojas, a maioria de artigos sexuais, um jacuzzi enorme, até mesmo uma biblioteca, uma papelaria e uma discoteca eram alguns dos locais que todos os viajantes podiam desfrutar.

Além dos passageiros, havia ainda a tripulação, composta por marinheiros, incluindo o capitão, e diversos colaboradores, desde empregados de mesa à polícias e professores de educação física. Todavia, pode-se igualmente dizer que, tendo em conta as omnipresentes cenas de sexo ao ar livre e o gosto pela bebida e outras drogas pelos passageiros, havia também profissionais de limpeza a dobrar.


Depois de atravessar o canal de Panamá, o Entertainment fez uma escala em Puerto Ayora, uma ilha equatoriana, onde entrou o equatoriano Arlequino. Dirige-se agora para sul, com próxima escala na Ilha da Páscoa.


Após ter degustado umas cervejas no onze mil vergas, local onde diariamente vários escravos eram submetidos aos prazeres dos seus mestres, Arlequino aproveitou o evento do início de serão no cabaré Sacher-Masoch, onde o seu coração foi tomado de assalto por uma dança burlesca protagonizada pela divina miss Jesteria. Ruiva como o próprio sangue, vestia um blazer azul à moda antiga, com um lacinho preto ao pescoço e um espartilho (ou corpete) negro com botões dourados; da cintura para baixo uma minissaia vermelha, ligas pretas sem collants e uns saltos altos igualmente vermelhos; empunhava também um forte chicote e tinha por hábito de lember os seus óculos de sol quando não os segurava com as mãos. Mas o que mais impressionava eram provavelmente aqueles olhos de cor quase amarela, felinos, cheios de fome e de crime, meio encerrados como o das asiáticas e acentuados por sombras artificialmente negras. Aquela mulher certamente não é nenhuma santa; pensou Arquelino; mas é boa o quanto basta para eu me apaixonar.


Depois dos folguedos burlescos seguiu-se uma sessão de poesia erótica. Ainda mergulhado em pensamentos sobre aquela mulher - Jesteria - que era igualmente uma passageira, que enquanto estrela, era frequentemente convidada no cabaret para expor os seus dotes de bailarina e de mágica, a maioria dos poemas não captaram a atenção do espanhol Arquelino, que continuava a pedir cervejas para aliviar a sua solidão, como, aliás, a maioria dos passageiros o fazia. Mas vejamos alguns excertos de poesia que parcialmente captaram a atenção do nosso Arlequino:


O meu ser de desterrado te odeia.

Guardo no corpo, agora esqueleto,

A fixa idéia

De ser a tua noite.

Sou a peste que não pára.

Obtiveste as mais ilustres funções,

Mas compreenderás agora que ainda vivo

E que o sangue que me resta foi diluído em veneno puro.

O meu ódio encarnado cresceu no túmulo

Despedi-me agora de minha cruz,

Parei de brincar, minha vingança descongelou.

Eu sou o cristo negro.

Desfarei primeiro o que sobra do teu império de dinheiro sujo.

Sou aquele que conhece os fogos eternos do inferno

E o doce zephiro do paraíso.

Sou o místico que conhece a verdade

Mas que ignora o seu tortuoso caminho.

Quero-te na mais escura solidão, descalça e a tremer.

Acompanho cada um dos teus passos.

Nem penses em encontrar refúgio no teu castelo,

Pois a tua morte constantemente me chama.

Eu sou a tua sombra.


Linda menina, liberta comigo o demónio que está em ti.



Queimo o teu corpo com a minha paixão.



Queima com as tuas luas a minha alma.



Vá, manda-te aos desafios do violento.



Toda nua, debaixo de água, quero ver as tuas lágrimas.



E o medo nos teus olhos, sempre que te chamar:



Pequeno anjo.







Bem, está relativamente interessante o que este hombre nos diz, pensou Arlequino, mas pergunto-me se ele seria capaz de agir em concordância com a sua poesia.

E agora; vociferava o moderador, eis um poema de Luís Vaz de Camões, recitado por Jean Bavard:



“Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer

É solitário andar por entre a gente

É nunca contentar-se de contente

É cuidar que se ganha em se perder

Amor é fogo que arde sem se ver

É um andar-se estar preso por vontade

É servir a quem vence, o vencedor

É ter com quem nos mata lealdade

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Amor é fogo que arde sem se ver

Mas como causar pode seu favor



Nos corações humanos amizade



Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”





Apesar da sua aparência puritana, aqui está um gajo que desceu aos abismos do amor.







Agora um poema de Almeida Garrett:



“Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.

E eu n’alma - tenho a calma,

A calma - do jazigo.

Ai! Não te amo, não.



Não te amo, quero-te: o amor é vida.

E a vida - nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai, não te amo, não!



Ai! Não te amo, não; e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.



Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.

Quem ama a aziaga estrela

Que lhe luz na má hora

Da sua perdição?



E quero-te, e não te amo, que é forçado,

De mau, feitiço azado

Este indigno furor.

Mas oh! Não te amo, não.



E infame sou, porque te quero; e tanto

Que de mim tenho espanto,

De ti medo e terror...

Mas amar!... Não te amo, não.”





Este pelo menos está apaixonado, ou pelo menos diz respeito a uma pessoa por quem esteve.





E por fim; continuou o anfitrião; um poème do nosso discípulo de Baudelaire: Monsieur Pascal Peguy:



Sa voix a lá clarté d'un printemps aux belles fleurs.

Mais de son ombre naît un squelette sans couleur.

Elle se promène par-ci par lá, ricanant violemment;

Et se plaît quelquefois par ses naturels élans

À écraser un cœur aux sourires d'enfants.



A sua voz tem a clareza das flores primaveris.

Mas da sua sombra nasce um esqueleto sem cor.

Ela passeia daqui para ali, rindo violentamente;

E, por vezes, nos seus impulsos naturais,

Gosta de esmagar um coração com sorrisos de criança.


Mais um que não entendeu que as mulheres foram feitas para serem tomadas e não para serem compreendidas. Bem, são horas de ir dormir, suponho. Como se chamava aquela donzela… Jesteria! Que é como diz joker no feminino. Vedremo più avanti se conosce l'origine di quella figura*.

Dito isso, Arlequim, escreveu os seguintes versos, antes de se deitar, enquanto o espectáculo deixou lugar a diversas orgias que acompanharam o luar da noite.

Na luxúria, a paixão desabrochava,

No palco do desejo, a dança hipnotizava.

Mas Jesteria, musa envolta em mistério,

Despertava desejos com seu olhar pouco sério.

Sensuais movimentos, sua voz sussurrava

Um enigma a desvendar,

Seus olhos felinos, que a todos enbriagava.





*Jesteria é como quem diz Jester, no feminino, que é o joker das cartas. Já agora, Arlequino vem de “Arlecchino”, uma conhecida personagem da “commedia dell’arte”, famoso movimento de teatro italiano do renascimento. Mas a razão pela qual o Arlequino falou em italiano é porque o autor deste conto afirma, sem saber, que a origem do Joker busca as suas origens mais fundas na ??????? Grega (ou comédia, para quem não ler grego; à qual não podemos deixar de associar o deus Dionísio), que deu origem à comédia romana, e que, dando um salto no tempo, para não me prolongar sobre o assunto, desencadeou no “Carnevale italiano” do final da idade média (o joker de um baralho de cartas pode assumir qualquer função tal como podemos representar qualquer personagem durante o carnaval, o que permite ao joker ser tudo e nada ao mesmo tempo. E ser um brincalhão frívolo devido à natureza festiva do carnaval. Quem melhor que o bobo do rei para encarnar tal personagem? Por fim, como único argumento mais ou menos científico, acabei de descobrir que a primeira aparição oficial da Coringa (the fool , ou o louco) aparece num baralho de Tarot do final do século XV (o “Sola Busca Tarot”), proveniente da região de “Milano”. Aqui fica explicado o nome da “Jesteria”. Quanto ao Arlequino? “Arlecchino” é, parece-me, o primeiro Joker na história da literatura. Mas vim aqui para narrar cenas de sexos, por isso deixemos para lá as nossas impertinentes divagações. Prometo não intervir mais como igualmente prometo que o conteúdo que segue não será tão “glamour”.



Bem, que comece o dia segundo da epopeia!

*Publicado por Philippe no site promgastech.ru em 14/02/24.


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