Mil Pedaços

- Uma pessoa ao assumir um relacionamento deve estar ciente de que deverá... O outro, pois quem ama cuida e...

Eduardo tinha o seu olhar perdido quando escutava as palavras do Padre José. Com o olhar marejado de lágrimas lembrava-se dos planos e sonhos que foram destruí­dos.

Definitivamente aquele final de ano havia sido o pior de sua vida. "Mas por quê?... Eu não errei, fui honesto, fiz tanto por...". Sozinho num banco no canto daquela Paróquia olhou para os lados e limpou sutilmente seus olhos. Segurava-se para não chorar, sentia seu coração apertado, nunca sentira tamanha dor.

Mas naquele mesmo dia, a noite deitado em sua cama, pensativo, resolveu que transformaria sua vida e que iria fazer de tudo para esquecê-la.

Alguns dias depois distraí­do na Internet acabou encontrando Cristina, uma velha amiga. Após alguns minutos de uma conversa safada marcaram de sair e assim foi. Conforme combinado Eduardo pegou-a em frente à Faculdade e decidiram o destino dentro do carro, acabaram em um velho e conhecido Rock Bar.

Conversavam e riam muito acompanhados de algumas doses de Tequila. Enquanto bebia flashes repentinos traziam-lhe lembranças daqueles momentos, das brincadeiras, das trocas de carí­cias, palavras e promessas. Então esforçando-se para afastar aqueles pensamentos Eduardo tomou Cristina nos braços e a beijou com volúpia.

Pelas 3h da manhã saí­ram do bar.

Completamente fora de si Eduardo dirigia seu carro pisando fundo, até entrar naquele Motel. Ao avistar aquela placa luminosa logo pensou "Puta que pariu... Não é possí­vel! Logo aqui!", mas já era tarde demais, minutos depois já estava em um quarto com Cristina.

Cristina olhava-o com atenção e mesmo vendo-o ali, de frente para ela, não sentia-o tão presente. Cristina sabia da situação, antes de marcarem pra sair Eduardo havia sido muito honesto ao dizer que ainda pensava em sua ex-namorada, mas que estava a fim de sair e distrair-se, e ela aceitou, mas agora, estava com receio acabar se apaixonando.

Completamente nua deitada sobre o corpo de Eduardo Cristina cavalgava naquele cacete ao mesmo tempo em que o beijava com carinho.

Eduardo olhava-a, "Karen...??". Por sorte a penumbra do quarto ajudou a disfarçar as lágrimas que desciam de seus olhos enquanto enxergava o rosto de Karen diante dele.

Cristina aumentava a intensidade, estava incrivelmente excitada sentindo aquele cacete dentro dela, até que voltando a beijá-lo ela gozou. Eduardo sentindo aquela boceta mordiscar seu cacete, também gozou inundando-a com sua porra.

Ficaram ali deitados, conversando, lembraram-se do passado, dos amigos em comum e dos bons momentos que já tiveram.

Depois de deixarem o Motel Eduardo deixou Cristina na casa dela e antes de ver ele sair com o carro, Cristina o olhava com o coração apertado. Estava bastante preocupada com ele, principalmente ao ver aquela tristeza em seus olhar. Olhos estes que ela tinha a certeza de que não lhe pertenciam, pressentia que o perderia e infelizmente.... Assim aconteceu...

5 meses depois...

A vida de Eduardo realmente havia dado uma reviravolta, baladas, bebidas, mulheres e drogas. O modo com que tratava sua famí­lia e as pessoas ao redor não havia mudado, tinha a consciência de que não queria preocupar ninguém e se tivesse alguma vida que tivesse que ser prejudicada esta deveria ser somente somente a sua vida. Durante o ano saiu praticamente em todos finais de semana e às vezes durante a semana, frequentou os melhores e piores prostí­bulos da cidade e provou de quase todas as bebidas possí­veis.

Sentia-se falsamente feliz durante aqueles momentos e assim como em todas as noites de farra lá estava Eduardo sozinho ao volante do seu carro voltando para casa. Lágrimas desciam de seu rosto, sentia um enorme vazio em sua vida. Vida esta que ele sabia que ele estava arruinando-a aos poucos e por alguém que certamente não valia a pena.

Na tentativa de tentar cair na real, enxergar que ela não o fazia bem, Eduardo esforçava-se imaginando-a rindo dele com sua melhor amiga e ainda feliz ao lado de um cara que de repente poderia até ser uma boa pessoa. Esmurrando o volante do carro Eduardo gritava "Mas por quê??!!! Porque não me falou!! ... Por que... Por que... O acordo era de sermos honestos, se terminasse, que terminasse bem... Mas não".

Os radares por onde passava registravam sua imprudência o velocí­metro do carro já batia 130 km. No interior a forte voz do lí­der da Legião Urbana ressoava na bela e triste Mil Pedaços, "o aniversário dela está próximo...", lembrou-se da cesta com uma bebida e chocolates que havia mandado a ela em seu último aniversário "Será que eu devo...", antes que pudesse concluir seu pensamento uma curva mais acentuada fez com que perdesse o controle do carro e capotasse por inúmeras vezes.

Quando o corpo de Bombeiros chegou Eduardo ainda estava vivo. Aproximando-se dele um bombeiro tentava mantê-lo consciente, eis que num surto Eduardo segurou forte o braço dele e perguntou, "Eu machuquei alguém?", o bombeiro respondeu que não e perguntou o que havia acontecido. Eduardo apenas respondeu "As vezes dói mais do que podemos suportar...", e assim seus olhos perderam vida. Emocionado com a expressão daquele jovem, lágrimas desciam dos olhos daquele bombeiro que sentia a perda do rapaz.

No dia seguinte um destes jornais sensacionalistas noticiava o acidente indicando o horário, local e a razão, "Na Madrugada, Drogas e o álcool leva a vida de mais um jovem na região Metropolitana de SP". Um pastor e uma psicóloga discutiam o assunto e como sempre culpavam o governo e cobravam mais atitude perante o assunto. Sua famí­lia e amigos sabiam o quanto Eduardo era esperto pra vacilar assim e alguns até se arriscavam em dizer que foi tudo por conta de um coração partido... Um coração...

Há quilômetros dali Karen passava por aquele noticiário, mas sem prestar atenção trocou de canal, deitada no ombro de Marcos disse "Odeio estes jornais...".

Dante Gavazzoni

Com

*Publicado por dantegavazzoni no site promgastech.ru em 13/03/20.