O filho do Pastor (Parte VII)

Não consegui pregar o olho esta noite, os raios de sol entram pela janela do meu quarto e tudo que consigo pensar é que é surreal, beijei Ricardo e ele retribuiu, me questiono se isso não teria sido um sonho ao mesmo tempo que penso que ele deve ter se dado conta do que fizemos e agora não vai mais querer ser meu amigo, nesse tempo em que tenho conhecido ele melhor percebo que não quero perder sua amizade, não quero ter que ficar longe dele, minhas lágrimas escorrem de meus olhos, não entendo porque tenho que ser assim, porque não consigo me arrepender de ter beijado meu melhor amigo, Ricardo é um cara tão incrível e eu estraguei tudo com aquele beijo, mesmo assim não tem como fugir, em breve vou ter que encarar ele e me desculpar e torcer para que ele ainda aceite ser meu amigo mesmo que de longe.

Me esforço o máximo para meu pai e minha madrasta não notarem minha tristeza no café da manhã, o que nem é tão difícil agora que estou melhor e meu pai está voltando ao nosso normal, entretanto minha madrasta segue me observando de perto, as vezes acho que essa mulher me entendi melhor do que eu mesmo sou capaz, dou a desculpa de esta sem fome e saio logo de casa, Ricardo está a minha espera no portão, minhas pernas falham, não sei o que dizer ou fazer então apenas baixo a cabeça e sigo passando por ele, mas Ricardo segura meu braço e puxa gentilmente meu rosto em sua direção,


– Sam precisamos conversar sobre ontem. – Ele não parece irritado, está até estranhamente calmo.


Vamos para a escola em silêncio, ele tenta puxar o assunto, mas peço para conversarmos depois da aula, não estou pronto para ouvir que ele não quer mais ser meu amigo ou que tem nojo de mim, sempre tive medo que esse dia chegasse, ainda sim ele chegou, o dia em que cedi aos meus desejos mais perigosos e beijei o Ricardo, estraguei o que estávamos construindo, acabei com a única amizade verdadeira que tive na vida, na escola faço o possível para não ficar sozinho com ele, entretanto na volta para casa não tenho mais para onde correr, peço a ele só que me dê mais um tempo de ir em casa e prometo que vou até ele, em casa pego o violão afinal ele pode querer de volta e sigo para encontrá lo em sua casa, sua mãe me recebe com um sorriso de sempre, fico aliviado ela não deve saber do que rolou, quando entro no quarto ele está sentado na cama calado olhando para o jardim de inverno, mas assim que me ver entrar fica de pé e vem até mim me abraçando.


– Você está bem? – Não entendo a situação e nem sua pergunta, então ele continua. – Fiquei tão preocupado de como deve ter ficado sua cabeça, a minha também está a mil.

– O que eu fiz foi errado me desculpa Ricardo. – É tudo que consigo dizer.

–Não Sam, eu é quem te devo desculpas, só que naquela hora não sei eu quis te beijar. – Ele assim como eu segurava o choro.

– O que fizemos foi errado, você tem namorada e somos dois caras. – Tento ser firme mesmo sem conseguir.

– Eu concordo sobre a parte de eu namorar, mas não tem nada a ver com sermos dois caras, a verdade é que nesse tempo em que estamos nos conhecendo alguma coisa está rolando. – Diz ele.

– Não tá rolando nada, não pode rolar nada, somos amigos, apenas amigos. – A frase machuca na mesma hora que é dita por mim.

– Sam.

– Ricardo por favor, você é o único amigo que já fiz na vida, não vamos estragar isso com algo assim. – Agora minhas lágrimas escapam sem controle.

– Nunca deixarei de ser seu amigo, mas não posso fingir que não gostei do nosso beijo, porque foi o melhor beijo que já dei na vida. – Disse ele com a voz trêmula.

– Mas foi um erro Rick.

– Não foi Sam, você vai me dizer que não sentiu o que eu senti? – Ele perguntou me olhando nos olhos.

– Não podemos Ricardo. – Era só o que eu podia dizer. – Por favor, não vamos mudar.

– Sam. – Sua voz me chamou como uma súplica.

– Por favor Ricardo, não quero te perder. – Minha tristeza estava em cada palavra.

– Você pode me pedir para ser seu amigo, mas não para esquecer nosso beijo. – Disse ele sério.

– Você vai acabar esquecendo, só vamos pôr uma pedra nesse assunto por favor. – Disse enxugando minhas próprias lágrimas.


Enfim ele concordou em esquecermos o beijo e sinto como se parte de mim tivesse morrido dentro de mim ao mesmo tempo que me sinto aliviado por não perdê lo, nos abraçamos e sinto seu perfume me tomar, seu abraço apertado me enche de tristeza e felicidade ao mesmo tempo, nunca me senti assim, tão vulnerável e forte ao mesmo tempo, queria que pudesse ser diferente, mas era assim que as coisas eram, dois caras ainda mais da igreja nunca poderiam ficar juntos, nem sei por quanto tempo ficamos abraçados até que ele é o primeiro a romper o silêncio.


– Preciso contar para Fatinha, ele precisa saber que nos beijamos, não é justo com ela mentir.

– Por favor, não fale, se meu pai descobrir não consigo pensar no que ele fará comigo. – Meu pânico era visível.

– Tudo bem, tudo bem, não vou falar sobre a gente, mas sobre o beijo não tem como ela precisa saber, mesmo que eu omita que foi com você.

– Tudo bem, no final sei que tem razão e me desculpa por ser tão covarde e não está ao seu lado nisso. – Me sinto um merda nessa hora.

– Sam olha pra mim, você já perdeu tanto, nem consigo imaginar pelo que você passou, eu nunca, nunca vou te expor ou te tirar algo, nunca me perdoaria se um dia eu te fizesse mau. – Ele disse tão sério que senti a verdade em todas as suas palavras, nos abraçamos forte de novo.


Dois dias depois da nossa conversa estou no culto conversando com meu pai quando percebo que Ricardo não parece muito bem, me passa pela cabeça conversar com ele ali, mas acho que não é o momento então resolvo acho melhor esperar acabar o culto, ele sempre sai pra comer pizza com a mocidade da igreja, como quero saber o que se passa com ele acabo me sacrificando e indo junto, não é que eu não goste dos irmãos da igreja, só não gosto da forma invasiva que eles tem, sempre querendo saber sobre minha vida ou de meu pai, passo o que pra mim parece uma eternidade até que acabada essa socialização e vamos para casa, só no caminho é que entro no assunto.


– O que cê tem Rick? – Pergunto de cara como sempre faço.

– Fatinha e eu terminamos. – Ele diz.

– Como assim, como foi isso, você se desculpou com ela, disse que não teve nada haver?

– Esse é o problema Sam, tem haver sim, você pode negar e eu até entendo seus motivos de verdade, mas eu não consigo. – Nunca o vi tão sério.

– Ricardo, você sabe que não podemos. – Nem eu consigo manter minha afirmação.

– Sam me conta que você não sentiu nada, fala que não sentiu o que eu senti naquele dia do violão e do nosso beijo? – Insistiu ele.

– Não é certo. – Continuo tentando negar.

– Não foi isso que eu perguntei Samuel. – Disse ele chegando bem perto, me levando para uma esquina escura onde tem uma parede grande.

– Ricardo? – Tendo uma última vez, mas já sinto a respiração pesada dele no meu rosto.

– Eu senti. – Me rendo e o beijo.


Minha boca anseia pela dele e a dele pela minha, ele me coloca contra a parede e me beija com tanta vontade que meu pau fica duro na hora, mas o que me deixa fora de órbita é sentir o pau dele duro contra o meu, estamos nos agarrando com tanta força que parece que nossos corpos iram se unir, minha mão vai para os seus cabelos, com a outra segurou sua cintura puxando o para mais perto de mim, mesmo que isso não seja mais possível, só depois que uma moto passa pela rua é que nos damos conta que podemos ser vistos, estou tentando me recompor enquanto ele faz o mesmo ao meu lado, estou com uma felicidade que não me cabe e com uma sensação de que agora não tem retorno, eu quero o Ricardo como nunca quis nada na vida.


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